As mentiras sobre as universidades públicas, escondidas em ideologias extremas, ficaram tão fáceis de serem divulgadas que até o impensável acontece. É o caso da fake news que diz que a universidade pública é um lugar de esquerda.
Veja que situação absurda: o ministro da Educação Abraham Weintraub e o próprio governo de Jair Bolsonaro (PSL) atacam reitores e universidades dizendo que são de esquerda. Mas o ministro Weintraub, apesar de participar de um governo que professa que a ‘universidade pública é de esquerda’, foi formado em Economia em uma universidade pública ( a USP), ou seja, passou 4 anos em uma universidade pública e se transformou em ministro de um governo de extrema-direita.
Mas não é só isso, é pior: Weintraub gostou tanto da universidade púbica que virou professor de uma universidade pública, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Veja LINK.
Essa situação surreal mostra o quanto a população pode ser enganada com informações falsas, mas principalmente pessoas que nunca frequentaram uma universidade pública. A universidade se chama ‘universidade’ justamente porque é um universo de pensamento, porque abrange e abriga todas as formas de pensamento. Mais que isso, não impede nem censura formas de pensar, mas as expõem ao contraditório, questiona, investiga, pesquisa etc.
A universidade pública é um lugar de se desenvolver o conhecimento. É por isso que 90% das pesquisas feitas no Brasil são feitas por universidades públicas. Mas como se faz pesquisa?
Existem duas formas básica de se desenvolver um novo conhecimento: avançar e melhorar um conhecimento já existente ou contrapor esse conhecimento e gerar algo novo. O acumulo de conhecimento é um processo mais tranquilo. Mas as grandes rupturas são mais complicadas. Quando há essa quebra de conhecimento antigo e se cria algo novo, o filósofo da ciência Thomas Kuhn chamou de ‘mudança de paradigma’. Ou seja, se quebra um modelo de pensamento que antes era reconhecido como verdeiro.
Em resumo, na pesquisa tudo pode ser questionado, seja à direita ou à esquerda, e isso incomoda setores autoritários que querem, muitas vezes, manter privilégios, evitar questionamentos, evitar rupturas.
Uma das principais missões das universidades públicas é ser um lugar com pluralidade de ideias e isso é garantido pelo princípio da autonomia universitária, que está até na Constituição brasileira.
O Art. 207 da Constituição Federal diz que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão“.
Essa autonomia universitária incomoda regimes autoritários que sempre querem controlar as pessoas e os pensamentos em benefício próprio ou de grupos privilegiados específicos, seja uma elite militar, religiosa, política ou judicial. Mas é a autonomia universitária que garante a independência das universidades em relação ao governos nas quais elas estão inseridas.
Ou seja, a autonomia garante que o conhecimento que elas produzem não vai ser prejudicado ou sofrer interferências das diferentes autoridades que chegam ao poder. (Carta Campinas/ Jornal da USP)