(acervo pessoal de Luís Fernando Praga)

.Por Luís Fernando Praga.

Pai e mãe, é o momento de expor uma série de pensamentos que venho guardando e organizando, internamente, e que dizem muito respeito a vocês. Minha vida mudou, assim como a vida de todo cidadão brasileiro, inclusive a vida dos que não entendem e dos que se negam a enxergar o teor da mudança e suas dimensões.

Momentos de tristeza passaram a acompanhar meu dia a dia, muito mais que antes, mas eu não sou um cara alucinado por demonstrar felicidade ou sucesso. Vejo a tristeza como um sentimento nobre, que vem e que vai, mas que, quando vem, é bom que seja aproveitado da melhor forma possível.

A tristeza pode ser comparada a um importante mestre, que ajuda a promover equilíbrio ao caráter, que elucida a gênese de nossos sentimentos, que mostra que sentir é humano e natural, e que ensina que suprimir e mascarar sentimentos nos deixa a um passo nos tornarmos hipócritas, e, depois, insensíveis.

Eu não quero!

Prefiro a tristeza! Até aprendi que a felicidade não foi despejada para que a tristeza tomasse posse de mim; elas são até amigas, complementares, dividem o mesmo quarto…

Não vou listar os motivos para que a tristeza tenha se tornado, mais que uma visitante, essa minha hóspede sem data pra partir. Os motivos são muito óbvios, já há mais de 5 anos; e tentativas de demonstrar o óbvio não faltaram de minha parte nem da parte da ONU, do Papa, do Bono Vox, de milhares de professores de História, juristas e inúmeras personalidades brilhantes no Brasil e pelo mundo afora.

A partir de agora, a não ser que me venham solicitar algum esclarecimento, deixarei as explicações por conta do tempo, e confio muito que ele tenha, no seu tempo, mais êxito que todos nós, que tanto tentamos alertar.

Mas, o mais importante, é a clareza de que, sim, poderia ser pior; e, muito graças a vocês, não é.

Tem muita gente boa lutando e isso é muito lindo e alentador!

Mãe e pai, sei que me afastei de pessoas amadas e que isso lhes causa desagrado, mas, no meu ponto de vista, o afastamento foi a única opção viável, se eu quisesse me manter fiel ao meu código de conduta, que não precisa ser o código de conduta de mais ninguém, mas é o meu, e eu pretendo segui-lo, sempre que possível, sem o prejuízo de ninguém.

Pai e mãe, é lindo dizer que não foi necessário que eu me afastasse de vocês!!!

É lindo notar que vocês sempre tiveram a consciência de que nossa família não eram apenas vocês dois, nem, depois, vocês dois e meu irmão, vocês dois, meu irmão e minha irmã, vocês dois, meu irmão, minha irmã e eu. É lindo que vocês saibam que a nossa família não são apenas vocês, seus três filhos, suas noras e genro, seus 8 netos, suas cônJUges e agora o lindo bisneto, Francisco.

Vocês sempre souberam estar presentes e atuantes para essa família, fruto do seu sangue, mas, mais que isso, sempre me demonstraram que tinham a clareza de que a nossa real família é a Família Humana. Vocês sempre me deixaram claro que nossa família de sangue jamais seria beneficiada em troca do prejuízo de qualquer outro ser humano, de qualquer outra família, de qualquer outro grupo étnico, cultural ou socioeconômico.

Além disso, vocês também me ajudaram a enxergar que não basta que nos mostremos limpos, bem vestidos, “educados”, rotulados com os melhores, mais belos e bem aceitos rótulos sociais. Vocês me ajudaram a entender que, mais que o que se diz da boca pra fora, o ser humano, realmente ético, precisa saber controlar seu ímpeto de agir por preconceito, precisa saber controlar o seu lado cruel, seu lado insensível, seu lado racista, o seu lado injusto, seu lado estuprador, seu lado assassino, seu lado enganador, seu lado mercenário, seus “Torquemadas” e seus torturadores interiores.

Se somos todos iguais, e se um ser humano é capaz de cometer atrocidades, não devemos, por nada, considerarmo-nos acima daquele, ou acima de qualquer suspeita, acima do bem e do mal. Devemos nos vigiar, a nós mesmo, intimamente, antes de vigiar a quem quer que seja.

Somos animais sociáveis e já é tempo de entendermos que dependemos da melhor sociedade possível para que possamos atingir o melhor de nós.

Por outro lado, somos animais autônomos, e devemos aprender a controlar nossos instintos animais, a fim de não danificarmos o que há de bom nessa sociedade, ainda extremamente imperfeita, que nós, como animais imperfeitos, viemos tentando construir, século após século, nas páginas de nossa História, uma História cheia de erros repetidos e muito mais nojenta e sangrenta do que qualquer espécie, minimamente racional, poderia desejar para si.

Obrigado por me deixarem claro que todo mundo irá morrer, mas que ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito, muito menos, a “precisão”, de matar outra pessoa, nem direta nem indiretamente, nem, sequer, através do voto.

Obrigado, mãe e pai, por tudo, mesmo! Obrigado por tolerarem minhas imperfeições e por terem colaborado para que eu me tornasse um apologista da Vida, do Amor e da Liberdade!

Meu pai, Osmar Parra Alonso, tem 83 anos de vida, e minha mãe, Alice Helena Costa Parra, tem 78. São pessoas que nasceram e viveram nos tempos da Segunda Guerra Mundial, viveram o golpe de 1964 e, por certo, sofreram e aprenderam com todos esses erros humanos. Não me agrada, em nada, que pessoas com toda essa História precisem passar, novamente, pelo mesmo caos, por esta aberração social, esta ameaça fascista e genocida, este retrocesso, tão escandaloso, em plena era digital! Mas, já que estão aqui e aqui ficou assim, parabéns por terem, mais uma vez, ficado do lado certo!

Meu desejo é o de que isto passe o quanto antes, mas também é o de, enquanto não passa, que vocês saibam aproveitar, da melhor maneira possível, essa magistral aula de História que o tempo nos ministra, toda essa tristeza e toda a felicidade que puder brotar de seus sentimentos! Que ela seja abundante e duradoura!

Este texto é para agradecer e para tentar, mesmo que de longe, me colocar mais próximo a vocês, reafirmar que seria muito mais triste e mais difícil sem vocês, e que, apesar de tudo, com vocês é muito bom, muito feliz!!!