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Movimento estudantil tem a chance de romper o isolamento e massificar a defesa da Educação

O (des)governo Bolsonaro e a luta pela educação

.Por Octávio Fonseca Del Passo.

Ao contrário do que grande parte dos eleitores que votaram em Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018 acreditou, o seu mandato não pôs um fim a crise econômica e nem à crise política. A primeira provavelmente se tornará, em breve, uma recessão oficial e a segunda segue firme ao menos enquanto ganhar incentivos semanais do governo para se desenvolver.

(foto tomaz silva – ag brasil)

Contudo, a crise do governo Bolsonaro parece não ser crise, mas ser um plano. O caos político e econômico criados pelo atual governo dá ares de ter método e estratégia a ser alcançada, mas esse será tema de um próximo texto. Hoje, nossa atenção está voltada para a oposição ao governo e para as primeiras manifestações nacionais que acontecerão nessa quarta, 15, e que podem dar nova qualidade e dinâmica para a crise.

Esse tema é importante, porque todos os anos o Brasil forma mais de 50.000ii mestres e cerca de 17.000 doutores, além dos 3,2 milhões que ingressam na graduação. É uma cifra insuficiente para o tamanho da desigualdade brasileira, mas é expressiva. É um dos principais sistemas universitários do mundo, responsável por 95% das pesquisas do país, além dos 17,4 milhões de exames, 6,8 milhões de consultas, 339.000 internações, 232.000 cirurgias e 1.398 transplantes nos hospitais universitários de todo o país.

A de se notar que com a expansão e descentralização das Universidades e dos cursos de pós-graduação, o ensino de excelência, a pesquisa e a extensão se espraiaram por todos os estados. Em 1996 os estados de São Paulo e Rio de Janeiro concentravam 58,8% dos mestres e 83,4% dos doutores. Esses números em 2014 eram respectivamente de 36,6% e 49,5%. Se somarmos a esses dados os relativos aos Institutos Federais, percebemos que o setor da Educação tem em mãos a possibilidade de romper o isolamento do movimento estudantil, massificar e dar corpo à oposição de esquerda ao governo Bolsonaro.

Faço esse diagnóstico baseado em três pontos: o primeiro, objetivo, é que a opção do ministro da Educação de atacar o sistema educacional de uma única vez gerou capilaridade à luta, já que as Universidades e Institutos Federais alcançam todo o território nacional, com grande quantidade de envolvidos e com consequência social. Estão em todos os estados, em cidades grandes, médias e pequenas.

O segundo ponto, subjetivo, é que quase todas as famílias das classes médias e populares apostam na educação enquanto possibilidade de ascensão social familiar e a perspectiva de perder essa (única em alguns casos) oportunidade depois de uma expectativa criada podem leva-los à rua.

O terceiro ponto é reflexo dos dois primeiros: É a constatação de que com a expansão universitária da última década e com a vontade de ascensão social das camadas sociais mais baixas, grande parte do sujeito universitário tem origem trabalhadora e isso pode gerar uma solidariedade de outras categorias e, assim, o início de uma mobilização mais ampla.

O acesso às universidades para quem tem renda mensal de até 2 salários mínimos, entre os anos de 2001 e 2015, deu um salto de 27,1% para 67,5%. Houve democratização das universidades porque houve ascensão de estudantes oriundos da base da pirâmide com descentralização territorial.

Diante desse quadro, além de nos fazermos presentes nas manifestações convocadas por sindicatos e movimento estudantil devemos nos concentrar em quatro pontos: 1) concentrar os esforços no enraizamento da luta por direitos na sociedade; 2) territorialização a nível nacional da oposição ao governo de traços neofascistas; 3) legitimação de uma liderança parlamentar perante as bases que tenha capacidade de articular a luta e a unidade da esquerda por dentro do Congresso e; 4) criar uma palavra de ordem que unifique as lutas estudantis, trabalhistas e pela previdência contra o conjunto do projeto que Bolsonaro representa.

Octávio Del Passos é doutorando em Ciência Política pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. E-mail: octaviodelpasso@gmail.com.

ii Toda a referência estatística do texto foi retirada da reportagem O governo ameaça um dos principais sistemas de ensino superior do mundo. Acesso em: https://www.google.com/search?q=sistema+de+ensino+pochmann&rlz=1C1RUCY_pt-BRBR796BR796&oq=sistema+de+ensino+&aqs=chrome.2.69i57j69i60j35i39j0l3.5313j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8

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