A extinção de espécies animais e vegetais está aumentando em uma escala nunca vista antes na Terra, alertam em relatório 145 pesquisadores de 50 países, inclusive do Brasil. Um resumo do relatório já foi aprovado por 132 países e teve a contribuição de outros 310 pesquisadores.

Mariana MG (foto felipe werneck – ibama)

A extinção é resultado direto da atividade humana e constitui uma grave ameaça ao bem-estar humano em todas as regiões do mundo. “A saúde dos ecossistemas de que toda a humanidade e as espécies dependem está se deteriorando mais rapidamente do que nunca. Estamos erodindo os próprios alicerces de nossas economias, meios de subsistência, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida em todo o mundo”, disse Robert Watson, presidente da IPBES (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos).

O relatório avaliou mudanças na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos – como o fornecimento de alimentos e de água – durante as últimas cinco décadas e tambem foi feita uma revisão sistemática de cerca de 15 mil fontes científicas, governamentais e de conhecimento indígena e de comunidades tradicionais.

O relatório aponta que ecossistemas, espécies, populações selvagens, variedades locais de plantas e de animais domesticados estão encolhendo, deteriorando ou desaparecendo. Dessa forma, a rede essencial e interconectada da vida na Terra está ficando menor e cada vez mais desgastada.

Pelo menos 680 espécies de vertebrados foram levadas à extinção desde o século 16 e mais de 9% de todas as raças domesticadas de mamíferos usados para alimentação e agricultura foram extintas até 2016. Além disso, estima-se que 1 milhão de espécies animais e vegetais estão agora ameaçadas de extinção.

Entre os fatores responsáveis por esse declínio de espécies estão, em ordem decrescente, as mudanças no uso da terra e do mar, a exploração direta de organismos, as mudanças climáticas, a poluição e espécies tóxicas invasoras.

Desde 1980, as emissões de gases do efeito estufa dobraram, elevando a temperatura média global em pelo menos 0,7 ºC. O aquecimento global já tem afetado a natureza, do ecossistema à genética das espécies, e os impactos devem aumentar nas próximas décadas, em alguns casos, superando o impacto da mudança do uso da terra e do mar e outros fatores, apontam os autores.

O relatório também destaca que três quartos do meio ambiente terrestre e 66% do ambiente marinho foram significativamente alterados pelas ações humanas. Em média, essas tendências foram menos severas ou evitadas em áreas mantidas ou geridas por povos indígenas e comunidades locais.

Mais de um terço da superfície terrestre do mundo e quase 75% dos recursos de água doce são agora dedicados à produção agrícola ou pecuária.

A degradação da terra, contudo, reduziu a produtividade de 23% da superfície terrestre global. Até US$ 577 bilhões em safras globais anuais estão em risco de perda de polinizadores (abelhas e outros insetos e animais) e entre 100 e 300 milhões de pessoas estão em risco aumentado de inundações e furacões devido à perda de hábitats costeiros e proteção, ressaltam os autores do relatório.

A poluição plástica cresceu 10 vezes desde 1980 e entre 300 e 400 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, lama tóxica e outros resíduos de instalações industriais são despejados anualmente nas águas do mundo.

Os fertilizantes usados na agricultura e que entram nos ecossistemas costeiros produziram mais de 400 “zonas mortas” oceânicas, totalizando mais de 245 mil quilômetros quadrados (km2) – uma área combinada maior que a do Reino Unido, calcularam os pesquisadores.

Apesar do progresso nas políticas de preservação, os autores consideram que as metas globais para conservar e usar a natureza de forma sustentável e para alcançar a sustentabilidade não podem ser alcançadas nas trajetórias atuais. As metas até 2030 e para além desse período podem ser alcançadas apenas por meio de mudanças transformadoras e de fatores políticos e tecnológicos, ponderam.

“Ainda não chegamos a um ponto de irreversibilidade na perda de biodiversidade e a consequente degradação dos serviços ecossistêmicos essenciais para a qualidade de vida. Se tomarmos decisões agora, para, em conjunto e de forma coordenada e cooperativa, promovermos mudanças transformativas integradas, inclusivas e baseadas no melhor conhecimento científico disponível, é possível reverter a velocidade da degradação”, disse Carlos Joly, professor da Unicamp e coordenador do programa Biota-Fapesp. (Carta Campinas com informações da Agência Fapesp/Elton Alisson)

Mais informações: www.ipbes.net