O céu noturno avermelhado de Paulínia
.Por Giba Soares.
Nos últimos dias, nós que moramos em Paulínia e região vimos clarões avermelhando o céu noturno: eram as três tochas da REPLAN – Refinaria de Paulínia – funcionando a todo vapor, ou seria a todo gás?
A tocha (ou flare) é um importante equipamento de segurança. Numa planta industrial que funciona na base do calor e de reações químicas, é necessário ter uma “rota de fuga” para que os gases gerados não pressurizem os demais equipamentos a ponto de explodi-los. O destino mais seguro para esses gases é a queima, portanto, as tochas estão sempre acesas, contrariando o que muitos entenderam na última quinta-feira como sendo o “apagamento” delas.
Normalmente nem se percebe as chamas no topo desses equipamentos de mais de 100 metros de altura, mas estão lá, por precaução, afinal, emergências nunca são programadas. Quando ocorrem despressurizações como as dos últimos dias, as labaredas chegam a passar dos 20 metros de altura, inebriando uns e apavorando outros. No início é normal que venha acompanhada de fumaça, e então os trabalhadores correm injetar vapor para melhorar a queima, emitindo gases menos poluentes. Respondendo a questão do primeiro parágrafo: as tochas estavam a todo gás e vapor.
Essas situações de queima anormal são indesejadas por vários motivos: poluição atmosférica, desabastecimento, perda de dinheiro – reza a lenda que na década de 80, 1 minuto de queima como dos últimos dias equivalia a queimar um fusca, quanto seria nos dias de hoje? – e principalmente, pode significar que há uma instabilidade operacional na refinaria, trazendo inclusive risco de morte aos trabalhadores.
A instabilidade que avermelhou nosso céu foi a parada emergencial de um compressor por conta de uma trinca num de seus drenos. Sem o compressor, os gases não tinham como serem escoados para o sistema de alta pressão e foram aliviados para as tochas. Parar de produzir os gases implica em parar de produzir outros produtos como gasolina, querosene e diesel, é como se decidíssemos parar de produzir couro, também teríamos que parar de comer carne. Tomar a decisão de parar esse tipo de produção deve ser medido não apenas por questões financeiras ou ambientais, mas principalmente pelos riscos internos às pessoas e equipamentos e pelo risco de desabastecimento de combustíveis.
O compressor também apresentou vibrações que atrasaram seu retorno. Mas na quinta-feira, os gases voltaram a seu fluxo normal, impelidos por essa enorme máquina, que consome energia equivalente a milhares de residências. Sem a pirotecnia das tochas, os residentes da região voltam a ligar os televisores e a dormirem tranquilos.
Giba é ex-petroleiro e radialista
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