José Cláudio Souza Alves, sociólogo, ex-pró-reitor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro “Dos Barões ao extermínio: a história da violência na Baixada Fluminense”, disse em entrevista à Agência Pública que milícias não devem ser consideradas um “poder paralelo”, pois elas são uma extensão do próprio Estado. Ou seja, já fazem parte do Estado.
“Eu estou falando de um Estado que avança em operações ilegais e se torna mais poderoso do que ele é na esfera legal. Porque ele vai agora determinar sobre a sua vida de uma forma totalitária. E você não consegue se contrapor a ela.”
Sem ter influência dentro da estrutura do poder público, as milícias não sobreviveriam. Não à toa, ao contrário do tráfico de drogas, as milícias conseguem eleger seus representantes, e ter membros trabalhando dentro de gabinetes de parlamentares é muito normal.
“A grana da milícia vai financiar o poder de um político como Flávio Bolsonaro e o poder político de um Flávio Bolsonaro vai favorecer o ganho de dinheiro do miliciano. Isso roda em duas mãos. É determinante então que essa estrutura seja assim. Ela só se perpetua porque é assim”, disse.
Segundo o especialista, as milícias diferenciam-se do tráfico porque atuam em outras atividades, geralmente comerciais. Pode ser organizando a segurança de uma comunidade, ou cobrando taxas de comerciantes paga garantir sua operação. Há ainda negócios imobiliários que têm por trás a ajuda de pessoas com cargos públicos, nem que seja na condição de informantes. Fora as execuções sumárias.
A estrutura foi consolidada há décadas, a ponto de sair um chefão e outros 100 que estavam na fila se colocam de prontidão para assumir o comando, disse o professor, ao lembrar da ordem de prisão contra o ex-capitão do Bope Adriano Nóbrega, acusado de comandar o Escritório do Crime, um grupo de extermínio suspeito de ter executado Marielle Franco.
Capitão Adriano tinha mãe e esposa contratadas há anos no gabinete de Flávio Bolsonaro. O miliciano é amigo de Fabrício Queiroz, motorista de Flávio. Para o professor, é assim que o miliciano vende influência no poder público.
Ele minimizou, contudo, a crítica às populações que elegem políticos ligados a milicianos. Para Alves, essas pessoas vivem sob a violência do crime organizado em confronto com os aparatados do estado. Na prática, se veem sem opção e acabam sendo facilmente coagidas.
“Cinco décadas de grupo de extermínio resultaram em 70% de votação em Bolsonaro na Baixada. Três gestões do PT no governo federal, 14 anos no poder, não arranharam essa estrutura. Deram Bolsa Família, vários grupos políticos se vincularam ao PT e se beneficiaram, mas o PT não alterou em nada essa estrutura. O PT fez aliança eleitoral, buscou apoio desses grupos.” (De Mariana Simões, da Agência Pública via GGN)
Concordo, realmente, que as milícias são uma extensão do próprio Estado e já fazem parte do Estado, e estão entre nós, principalmente nas comunidades carentes nas cobranças da falsa segurança e de serviços básicos. Agora, nas invasões de terrenos para a construção de empreendimentos imobiliários, Casas de Show, na zona de meretrício, jogatinas, vendas de drogas e armamentos e representantes políticos. Mas ainda sim, um Poder que cresceu e que acabou elegendo um candidato a presidência da nossa República. Não podemos fingir, que em sua grande maioria foram os entes de seguranças que o elegeu.Só que tenho uma divergência, o início foi a criação de uma organização criada por policiais no Rio de Janeiro em 1965 na época da Ditadura Civil-Militar e que atuou principalmente nas décadas de 1960, 1970 e 1980, sendo o Mariel Mariscot uma das principais lideranças desse Esquadrão da Morte com mais de 7 mil associados, e todos policias. Como se vê a origem é bem antiga, como bem disse são mais de 5 décadas que passou por vários governos. Simplesmente, o Esquadrão da Morte estava só adormecido, e reaparece com nome de Milícia e com outro tipo de ação.