Pedro Figari, Nostalgias africanas, candombe

Em São Paulo – Podem ser vistas no MASP – Museu de Arte de São Paulo, as duas últimas mostras da temática Histórias Afro-Atlânticas.

A exposição “Pedro Figari: nostalgias africanas”, em exibição até o dia 10 de fevereiro de 2019, apresenta uma seleção de 63 obras que retratam as populações afro­‑uruguaias como foram imaginadas pelo advogado, político e artista Pedro Figari (1861­‑1938). O título se refere também a uma de suas pinturas. Para além da natureza, do erotismo e do mundo do trabalho, Figari representa as populações negras de seu país através de cenas da vida comum, que revelam a complexidade dos modos de vida daquelas pessoas. Morando em Paris nos anos 1920 e 1930, o artista desenvolveu um trabalho em pintura marcado por pinceladas expressivas. Este estilo ao mesmo tempo confere imprecisão ao desenho das figuras e seus rostos, e um sentido forte de coletividade às cenas, como se todos os elementos estivessem num mesmo plano simbólico. Filho de imigrantes genoveses, Figari é o único artista branco que recebe uma exposição no MASP em 2018, no contexto de um ano todo da programação dedicado às histórias afro­‑atlânticas, em torno dos “fluxos e refluxos” entre a África e as Américas, o Caribe, e também a Europa.

A exposição se divide em seis conjuntos que desdobram o tema do cotidiano. No primeiro deles estão as danças e festividades, sendo a mais importante o candombe — dança emblemática das populações afro­‑uruguaias, praticada em grupo, ao som de tambores. O segundo conjunto apresenta o Dia de Reis, comemoração híbrida da festa católica dos Reis Magos, em pleno carnaval. As cenas que compõem o terceiro conjunto se passam no interior dos conventillos, habitações coletivas que floresceram em Montevidéu entre o final do século 19 e início do 20. No quarto conjunto estão os casamentos, e no quinto, as solenidades fúnebres. Instituição tão funesta quanto a própria morte, a escravidão é representada no sexto conjunto. O Uruguai foi aboliu a escravidão em 1842, 19 anos antes do nascimento de Figari e 46 anos antes de ser abolida no Brasil.

A rica cultura afro­‑uruguaia representa a memória dos africanos forçados a migrar e escravizados na região, e também se constitui como importante resistência cultural, que unifica a comunidade e constrói sua identidade em oposição aos ideais racistas propostos pela sociedade colonial. Figari tinha consciência da invisibilização a que os negros de seu país eram submetidos e se empenhou em criar imagens vivas daquelas populações.

A exposição de Pedro Figari reafirma a importância desse pintor para a modernidade latino­‑americana e é organizada pelo MASP, em parceria com o Museo Nacional de Artes Visuales e o Museo Figari, de Montevidéu.

Pedro Figari: nostalgias africanas tem curadoria de Mariana Leme, curadora assistente do MASP, e Pablo Thiago Rocca, diretor do Museo Figari.

Paisagem n. 105 (Madureira), 2017, Lucia Laguna

A paisagem é o ponto de partida para as pinturas de Lucia Laguna (1941, Campos dos Goytacazes, RJ, vive no Rio de Janeiro) que podem ser vistas até o dia 10 de março na exposição “Lucia Laguna: vizinhança”. Dos arredores de seu ateliê, no bairro de São Francisco Xavier, subúrbio do Rio de Janeiro, a artista extrai o vocabulário de formas, de cores e de imagens que vão compor suas pinturas. Laguna passou a dedicar-se à pintura depois de se aposentar como professora de literatura portuguesa e latina, e frequentar os cursos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, nos anos 1990. A artista buscou na janela de sua casa-ateliê – com vista para o morro da Mangueira – a paisagem, os modos de construção e a arquitetura do subúrbio para definir sua maneira de pintar.

Esta exposição reúne 21 obras da produção recente da artista (2012 a 2018) e dos três principais temas trabalhados por ela: Jardins, Paisagens e Estúdios. Parte desta mostra é composta pelas Paisagens que Laguna realizou tendo como tema bairros da Zona Norte do Rio de Janeiro. Com essas obras, a artista propõe outro imaginário do subúrbio carioca, incorporando sua experiência e memória. Nesta série, Laguna expande sua “vizinhança” para o espaço do museu: em uma tela realizada especialmente para esta mostra — Paisagem nº114 (MASP) (2018) —, a artista absorve os objetos de seu ateliê, as plantas do jardim de sua residência, elementos arquitetônicos do edifício do MASP e das obras da coleção do museu.

Ao visitar o ateliê de Laguna percebe-se uma extensa lista de artistas fixada em uma das paredes, na qual constam nomes canônicos da história da arte ocidental, como Paolo Uccello, William Turner, Paul Cézanne, Henri Matisse, Pablo Picasso, mas também artistas contemporâneas como Beatriz Milhazes e Paula Rego. Ao definir esses artistas como sua “família artística” e viver diariamente com essas referências em seu ateliê, Laguna os traz para o convívio com o morro da Mangueira, com o barulho do trem, com os muros de contenção dispostos nos “pés” da favela, com a trepadeira que cresce no jardim e invade o estúdio, com os passarinhos que entram pela janela – enfim, com toda essa simultaneidade de camadas que compõem o subúrbio e a natureza do quadro de Lucia Laguna.

A exposição tem curadoria de Isabella Rjeille, assistente curatorial do MASP. Mais informações AQUI. (Carta Campinas com informações de divulgação)