(foto: socialistamorena)

.Por Luis Fernando Praga.

Aos 30 milhões de brasileiros que não votaram nas últimas eleições, aos 3 milhões que votaram em branco, aos 7,2 milhões que anularam seus votos, aos eleitores de candidatos que não foram ao segundo turno e a todos os indecisos ou confusos que não se enxerguem como fascistas; aos que buscam pela paz e que estejam abertos a ponderar sobre um passo tão sério como a eleição do presidente de um dos países mais importantes do mundo, o nosso país. Vocês têm o futuro nas mãos!

Assim como o Brasil, o processo eleitoral está polarizado entre os candidatos do PSL e do PT.

Diferente do que possa parecer, este não é o momento de se optar entre a ordem e a baderna, entre a moralidade e a libertinagem, entre o capitalismo e o comunismo nem entre dois extremistas perigosos.

À luz da razão, essa escolha não é um “páreo duro”. Não há parâmetros de comparação entre as duas candidaturas.

Só a certeza, abraçada por alguns, de que o PT seja sempre a pior opção, independente de quais sejam as outras opções, foi capaz de equilibrar esse pleito. Mas quem transmite essa certeza e a quem ela interessa? Por que nem todos a abraçaram?

Como e quando a rejeição ao PT atingiu o nível “qualquer coisa, menos o PT!”? Quais as consequências disso?

Tudo se deu através da informação. Informações (que jamais convenceram a todos, é essencial ressaltar) transmitidas pela grande mídia e pela rede social permitiram que muitos adotassem, como um “princípio moral”, a rejeição ao PT.

A principal consequência dessa rejeição foi o surgimento de um novo “manancial” de eleitores que, por uma questão de princípios e por exclusão, acabam votando em qualquer outro candidato, menos no PT.

Percebem o quanto isso se tornou uma poderosa ferramenta de controle do eleitorado? Percebem quantos interesses podem ser atendidos quando se tem um povo que, por medo de um, vota em qualquer outro?

Que tipo de informação foi usado para que se moldasse o pensamento dessa massa enfurecida contra o PT?

Fomos todos influenciados da mesma forma? Não, alguns de nós não acreditamos em todas aquelas informações…

Das notícias decisivas para se criar tamanha rejeição, quantas foram falsas? Quantas foram 100% comprovadas?

Quantas Ferraris douradas, das que o Lulinha jamais possuiu, foram necessárias para que aprendessem a odiá-lo? Quantas mansões e iates falsos foram necessários para que se moldasse um conceito tão enraizado? Quanta importância teve a fake news de que a corrupta Friboi pertencia ao Lula? Quantas vezes a imprensa precisou colocar o termo “petista” depois da palavra “corrupção” para que o povo não soubesse mais como separá-los?

O quanto a naturalização e a banalização do ódio contra o PT permitiu que tudo de negativo pudesse ser dito, que nada precisasse ser provado e que ninguém pudesse sair em defesa sem se constranger com ofensas e ameaças? O quanto essa banalização permitiu que “pessoas educadas” se sentissem no direito de divulgar calúnias e propagar o ódio? O quanto a mídia, que condena sempre antes da justiça, influenciou na gênese desse ódio?

Quem foi o primeiro a dizer que o PT iria transformar o Brasil numa Cuba?

Teria sido o Jornal o Globo, em 1964? Não, em 64 quem “transformaria o Brasil em Cuba” seria o então presidente João Goulart. O discurso de medo de um futuro vermelho levou parte do povo às ruas e João Goulart foi deposto por um golpe militar. É, militar! Uma ditadura que nos aprisionou por 20 anos.

Hoje nos inflamam com o discurso do medo novamente; hoje o povo teme a ameaça vermelha novamente; hoje um militar seria colocado no poder novamente.

Como a manipulação da informação criou eleitores que optam por uma ditadura fascista, mas não pelo PT?

Quem são os principais acusadores do PT? Em quantos deles você confia?

A propagação de calúnias e a distorção da verdade são constantes na História da humanidade e do Brasil e sempre utilizadas de forma a ludibriar o povo. Por que esse momento histórico seria diferente?

A História do Brasil não começou hoje nem ontem, ela é vasta, sequencial e marcada por sofrimentos, injustiças jurídicas e descasos políticos; pela violência, por assassinatos estratégicos, pela corrupção, pela intervenção ativa da mídia, pelo onipresente poder da elite, pela escravidão e todas as suas consequências, mas, mais que tudo isso, nossa História é marcada pelo conveniente esquecimento, por parte do povo, de tudo aquilo que já aconteceu e que determina o que está prestes a acontecer agora.

O povo pode não se lembrar do golpe de 1964, mas, em 1989, Fernando Collor de Melo também lançou mão do discurso de medo contra a ameaça vermelha; e ele, o Collor, seria a única opção contra “os que queriam transformar o Brasil numa Cuba”, a única opção contra Lula e a ameaça petista. Collor venceu aquelas eleições, assumiu em 1990 e renunciou em 1992 para escapar de um processo de impeachment, motivado pelo confisco do dinheiro de correntistas de cadernetas de poupança, mas o medo espalhado na população era do PT, a ameaça era o PT.

O povo pode não se lembrar, mas, Fernando Henrique Cardoso, que venceu Lula em 1993 e em 97, também se valeu do discurso do medo para afastar o “perigo” petista.

O povo pode não se lembrar, mas Fernando Henrique governou o País de 1994 até o final de 2001. Geraldo Brindeiro era o procurador geral da República entre 1995 e 2003. Dos 626 inquéritos criminais que recebeu, Geraldo Brindeiro engavetou 242 e arquivou outros 217. Somente 60 denúncias foram aceitas em 8 anos. As acusações recaíam sobre 194 deputados, 33 senadores, 11 ministros; e quatro, sobre o próprio presidente FHC. Por conta disso, Brindeiro recebeu o apelido de “engavetador-geral da República”. Entre as denúncias que engavetou está a de compra de votos para aprovação da emenda constitucional que aprovou a reeleição para presidente, beneficiando FHC.

O povo pode não se lembrar, mas Fernando Henrique entregou o cargo em dezembro de 2001, com 21% de aprovação popular. A partir de janeiro de 2002, o PT governou o País até 2016, só dois anos atrás.

Não viramos Cuba, mas sim, passamos da décima terceira para a inédita sexta posição no ranking da economia mundial. Não viramos Cuba, mas descobrimos o Pré-sal. Não viramos Cuba, mas fomos mais respeitados no mundo do que nunca. Não viramos Cuba, mas criamos o Prouni, o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos e o Ciência sem Fronteiras.

O Estado Brasileiro não entregava suas riquezas a preço de banana, não oprimia seu povo nem pregava o ódio contra minorias. O pobre movimentava o comércio, viajava de avião e entrava na faculdade. As questões políticas eram debatidas como questões políticas e só.

Havia combate à corrupção: em 12 anos de PT, a Polícia Federal fez 2.226 operações, contra as parcas 48 de FHC!

Não viramos Cuba!

Faz tão pouco tempo, mas talvez o povo já se tenha esquecido de que, nos 12 anos de governo do PT, não existia um grupo odiado, reprimido em seu direito de se expressar e se defender, não havia um grupo segregado e rotulado de “defensores de bandidos”, não havia o medo de ser agredido nas ruas.

Até que o PT tivesse se tornado uma real ameaça a seus adversários políticos ele ainda não era, novamente, essa terrível “ameaça vermelha”.

Em meio ao processo eleitoral de 2014 e às investigações da Lava Jato, Aécio Neves afirmou que só havia uma saída para a “crise”: Tirar o PT! Aécio perdeu, e os que seriam mais 4 anos de governo Dilma tornaram-se 2 anos da mais completa ingovernabilidade.

Aécio e o PSDB afirmaram que não aceitariam o resultado das urnas e não aceitaram.

Aécio Neves e o PSDB são muito mais que só um homem e um partido: eles representam interesses históricos específicos e um projeto de governo específico. Eles representam o interesse do capital estrangeiro e das grandes fortunas do Brasil. Eles representam o projeto de governo que Michel Temer colocou em prática assim que Dilma Rousseff foi deposta, e é muito para agradar a esses interesses que o candidato do PSL irá governar se for eleito.

Depois de todos os anos de ditadura e dos governos marcadamente voltados à elite econômica, o PT assumiu a presidência em 2002 e Lula chegou a obter mais de 80% de aprovação popular em 2010, algo inédito na história. Isso não era a “ameaça vermelha”, era uma ameaça ao projeto de governo do PSDB e da elite, era um recado claro de que algo precisava ser feito, urgentemente, para manchar a imagem e a popularidade daquele partido.

Tamanho foi o bombardeamento de informações acusatórias, inúmeras falsas, caluniosas e tão baixas que quem as aceitou passivamente, sem o prudente questionamento, colocou o PT no patamar de “o grande vilão nacional”, a ser combatido até as últimas forças pelas “pessoas de bem”.

“Tudo menos o PT!”, eis o lema de um golpe.

A rejeição ao partido, por ódio ou por medo, tornou-se uma questão moral, sobretudo para quem não levou em conta quem eram os acusadores.

À custa de muita informação tendenciosa e falsa, de muito kit gay que nunca existiu e de muito carro adesivado com a presidenta da república recebendo uma bomba de combustível na vagina (quando o combustível era muito mais barato do que é hoje), consolidou-se o “antipetismo” como o traço mais marcante dessa fração do eleitorado. Uma vez criada a imagem de que “gente de bem não permite o PT”, agora era só lançar a outra opção, a opção salvadora, como Collor havia sido em 1989 e como o golpe militar havia sido em 1964.

Não existia, em 2016, quando Dilma foi destituída, uma iminente ameaça fascista nos rondando, como há hoje; e, antes que os novos indignados aprendessem a defender a democracia, aprenderam a dizer “FORA, PT!”; antes que aprendessem que a corrupção nos espolia há séculos, aprenderam que o PT é o mais corrupto da história; antes que aprendessem a dizer “fascismo, nunca mais!” aprenderam a dizer “PT, nunca mais!”.

Antes que se preparassem, via conhecimento histórico, para os riscos de se eleger um militar, patrocinado pela indústria bélica, apologista da ditadura, apoiador da tortura, promotor do discurso de violência contra minorias, aprenderam a alertar contra o PT.

Antes que soubessem que a violência contra as minorias é o mesmo que mais violência na sociedade, aprenderam a temer que o PT instituísse sua “sanguinária” ditadura bolivariana e aprenderam a dizer que a Marielle já foi tarde.

Nossa situação é grave e lamentável; é quase catastrófica, mas as opções são incomparáveis.

O PT tem responsabilidades e culpas; denúncias devem ser apuradas e uma justiça idônea deve julgá-lo, mas, até que isso aconteça, o PT é mais um partido brasileiro devidamente regulamentado perante o TSE; não foi banido do processo eleitoral e continua administrando e se reelegendo em diversas cidades e estados do Brasil, provando que o ódio e o medo foram plantados, mas só germinaram em certos rincões; e que há poderosos interessados em colher os frutos desse ódio que divide o povo.

Apesar de ser a maior bancada legislativa do País, o PT é o nono na lista de partidos com políticos caçados por corrupção. Os principais beneficiários da saída de Dilma, os hoje imunizados da Lava Jato e os três maiores acusadores do PT: DEM, MDB e PSDB, são, com uma diferença gritante, os três primeiros nessa lista.

O PT não é um partido de bandidos e falta critério, faltam argumentos, faltam dados, falta conhecimento histórico ou, simplesmente, falta caráter para quem generaliza dessa forma.

O PT já governou o Brasil, trouxe conquistas inegáveis e não transformou, nunca chegou perto disso, nunca desejou e não irá transformar o Brasil em uma Cuba.

O PT, mesmo destituído do poder e apesar de todo o ódio cultivado contra ele, em 2018 continua sendo um partido que se posiciona em prol do interesse do povo nas questões sociais mais importantes.

A comparação é descabida, porque o PT aprova a demarcação e a preservação de áreas indígenas e votou contra o pacote do veneno, que foi aprovado pelo PSL e seus apoiadores e que permitiu a entrada e comercialização de pesticidas proibidos no resto do mundo.

Não são dois extremos perigosos, porque o PT votou contra a terceirização do trabalho e contra a retirada de direitos trabalhistas, diferente do PSL e seus apoiadores.

O PT votou contrariamente ao congelamento de investimentos em saúde pública e em educação por 20 anos; ao invés disso, aprovou a utilização dos lucros oriundos da exploração do Pré-sal exclusivamente nas áreas da saúde e da educação, mas o PT saiu à força; e quem tirou o PT já entregou o Pré-sal ao mercado internacional e congelou os investimentos em saúde e educação.

Veja abaixo como se posicionam os partidos com relação aos interesses do governo de Michel Temer:

E o candidato do PSL ainda diz que “tem que mudar isso daí, tá ok!”? Agora com provas de caixa 2 e de pagamento para que se divulgassem fake news? E a grande mídia mal noticia? Não é estranho? É contradição e mentira, mas muitos não enxergarão…

Pois bem, a comparação é absurda, porque, apesar do discurso de medo contra a esquerda, que se repete desde 1964, o PT jamais adotou um discurso autoritário nem jamais agiu de forma antidemocrática durante seus 38 anos de existência e seus 14 anos no poder.

A disputa para a presidência do Brasil é: entre um capitão que não nega já ter feito sexo com uma (ou mais) galinha(s)… e… um professor e acadêmico reconhecido e respeitado no mundo.

Nosso próximo presidente será: um homem que afirma ter comido gente graças ao dinheiro do seu auxílio moradia… ou… um premiado ex-prefeito de São Paulo, que cumpriu todo o seu mandato e reduziu sensivelmente as mortes no trânsito.

Decidiremos entre o que afirma que o problema da ditadura não foi torturar: foi torturar e não matar; e outro, que sempre lutou pela liberdade e pelos direitos humanos.

O povo brasileiro decidirá se o próximo presidente será: o que se diz “defensor da família” e que já está na sua terceira família, o que afirma que negros obesos não servem nem para a reprodução, que uma deputada federal é tão feia que não merece ser estuprada por ele, que vai metralhar a favela da Rocinha para resolver o problema do tráfico e que sua própria filha foi fruto de uma fraquejada… ou… um que simplesmente nunca disse nenhuma dessas imbecilidades, que foi considerado pela ONU o melhor prefeito da América Latina, um jurista, um mestre, um doutor, um homem das ciências e da diplomacia.

Igualar e nivelar por baixo essas duas candidaturas é o trabalho de uma mídia poderosa e prostituída, que já envenenou muitos cérebros, polarizou o País e criou um novo conceito de curral eleitoral: o curral da ignorância, do medo e do ódio. Você só precisa decidir se engole ou se repele esse veneno.

Nem todos engoliram, isso é fato: a ONU, o Papa, a comunidade científica, os juristas com histórico sério e democrático, a classe artística, o Pink Floyd, eu, os historiadores e o Nordeste não engolimos!

Já, São Paulo, após mais de 20 anos ininterruptos de governo PSDB, onde o candidato do PSL teve sua votação mais expressiva e onde foram eleitos Janaína Pascoal, Kim Kataguiri, Tiririca e Alexandre Frota, engoliu.

Seja você! Escolha seu lado, escolha o melhor lado para que seu país continue sendo democrático! Escolha de que forma você deseja ser lembrado na História!

#EleNão!