.Por Eduardo de Paula Barreto.

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Preparemos as nossas costas
Para os doídos açoites
E a cara para as botas
Que nos encherão de coices
Preparemos os nossos gritos
Para serem engolidos
E os olhos preparemos
Para jorrar novos prantos
Mas a esperança, no entanto
Nós não engoliremos.
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Preparemos o coração
Para latejar de dor
Diante da indignação
Ao ver o opressor
Rasgar as roupas
E calar a boca
De quem balança
No pau de arara
Enquanto se ampara
Num fio de esperança.
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Preparemos as janelas
Para nos terem debruçados
Lembrando das panelas
E dos enormes patos
Que nos induziram a erro
Alguns puderam sabê-lo
Mas outros agora chorosos
Enxugam com a bandeira
As lágrimas da cachoeira
Do rio de remorso.
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Cessaram as intrigas
De povo contra povo
Agora somos vítimas
De um mesmo engodo
Que embora forte
E amigo da morte
Não nos imporá grilhões
Porque eles são alguns
Enquanto nós formamos um
Exército de milhões.
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SP/Outubro/2018