.Por Luís Fernando Praga.
Já me alertaram! Os tempos são de uma perigosa polarização! Preciso tomar cuidado, pois criei uma bolha que me afasta da realidade!
…
Será?
Em minha bolha eu sou capaz de filtrar aspectos da realidade (do País e do Planeta) que não desejo que integrem diretamente a minha rotina nem destruam o meu dia a dia; assim tento viver mais leve, mais gostoso e com uma razão que realmente me convença; não pode?
Eu sei que existem fascistas, eu luto contra o fascismo e não quero que ele se aproxime de mim e dos meus. Minha bolha os afasta.
Eu sei que existem pobres de direita, que tendem a se achar ricos, que defendem a escravidão e, o que é pior, a própria; mas também sei que existem os que já enxergaram o quão nos é essencial e ilimitada a liberdade, e são esses que procuro incluir em minha bolha.
Eu sei que o sistema é poderoso e que nos separou por castas há tanto tempo que formou uma legião de escravos conservadores, crentes de que tudo tem que ser assim mesmo, mas há quem não se submeta, há quem lute pela conscientização humana e pelo fim dos preconceitos que nos prendem sem correntes nem grades, há quem lute por um mundo sustentável e digno para todos! São esses que eu procuro incluir em minha bolha.
Minha bolha não exclui ninguém definitivamente: só exclui aquelas pessoas temporariamente prepotentes a ponto de se acreditarem instituídas do direito (divino?) de privar alguém da liberdade, de matar alguém, de caluniar alguém e de espalhar os discursos do ódio e do medo dentro de minha bolha.
Minha bolha exclui aqueles que estão loucos para entrar na minha bolha e sair atirando em meus amigos. Minha bolha exclui aqueles que se cegam às grandes injustiças históricas que ainda nos assolam no presente.
Ela exclui aqueles que se incomodam com o fato de que eu me sinta feliz dentro de minha bolha, mais que ao lado deles e, é claro, minha bolha exclui também aqueles que dizem que eu não tenho o direito de me “isolar” dentro dessa bolha, quentinha e aconchegante. Como não, uai!?
Na verdade, minha bolha não é excludente, ela é inclusiva, todo mundo cabe lá! Ela não é apenas minha, jamais foi só “a minha bolha”; ela sempre foi de muitos!
Nossa bolha aguarda o tempo de cada um (é batata, um dia a ignorância se dilui no conhecimento que o tempo traz) para que todos possamos ver que não existe bolha alguma, só existe um futuro que pode ser melhor para todos, que deve ser construído no agora e que todo mundo é igualmente, miseravelmente e maravilhosamente… só humano!