Os perigos do renascimento impune do fascismo

.Por Sandro Ari Andrade de Miranda.

Nenhuma sociedade ao longo da história saiu impune por deixar de enfrentar os perigos do fascismo. E aqui é importante destacar, não estamos tratando exclusivamente do “nazismo” na Alemanha ou do “fascismo” de Mussolini na Itália, mas do “franquismo”, na Espanha, de Pinochet, no Chile, da Ku-klux-klan, nos Estados Unidos e de uma série de aberrações políticas que surgiram como piadas, depois ganharam espaço e resultaram em tragédias.

França, Polônia, Rússia, Ucrânia, Portugal são alguns exemplos de países que apenas conseguiram erigir monumentos em prol das vítimas do fascismo e do nazismo. Se é verdade que originalmente este movimento político encontrou espaço em sociedades ruralizadas, milenaristas e analfabetas, na sua versão contemporânea nasce no seio da instruída classe média e nas periferias urbanas. Entretanto o alimento do novo fascismo é o mesmo do passado: o preconceito, a desinformação, o ódio, a alineação produzida pelas médias e retroalimentada por um sistema social que esmaga o ego, exclui e diminui o indivíduo.

Quando Freud escreveu o “Mal Estar da Civilização” demonstrou o quanto uma sociedade frustrada é campo aberto para ideários totalitários e de ódio. No meio urbano atual, onde as pessoas estão presas em congestionamentos sem fim, são patrulhadas por um discurso onipresente de ódio pelo rádio e pela televisão, não possuem espaços de lazer ou de socialização e estão submetidas à racionalidade infeliz do “compro, logo existo”, os níveis de frustração são gigantescos. A título de exemplo, a diferença no sucesso individual pode estar na propriedade ou não de um novo modelo de celular, e isto é grave.

O resultado deste fenômeno é o apego ao ódio e ao preconceito. É muito fácil culpar o “outro”, especialmente o mais vulnerável, nordestinos, negros, pobres, mulheres, homossexuais, beneficiário do bolsa-família pelos problemas do mundo, do que enfrentar a falácia do discurso dominante. Isto ajuda a apaziguar frustrações, pois nesta lógica mesquinha, se o sucesso é visto como individual, o fracasso é o resultado daqueles que não conseguem sobreviver numa sociedade de desigualdades de poder.

Darwin tem a sua memória vilipendiada e é transposto sem nenhum critério da biologia para a economia, mesmo que sempre tenha criticado tal lógica isto em seus manuscritos. Aos poucos, a melhor resposta encontrada pelo fascismo é a violência material e discursiva, simbólica ou a pregação desta como único caminho. A militarização da sociedade, como símbolo de ordem e a exclusão de direitos são outras respostas comuns.

Bolsonaro é apenas um exemplo de novos ultradireitistas, como Trump (EUA) e Le Pen (França). Todos são figuras patéticas, que proferem frases em seus discursos que são impossíveis de creditara indivíduos que vive em pleno século XXI ou no mundo civilizado. Entretanto, o espaço ocupado por “essas pessoas” é muito grande e deixa plantada a semente de um caminho que somente tem como destino o abismo, a violência e a tragédia.

Portanto, propor uma campanha organizada contra este tipo de pensamento não é uma questão menor, e sim uma tentativa de garantir um mínimo civilizatório. E esta é uma definição importante: “os limites entre um mundo civilizado e o fascismo são gigantescos”. Os fascistas negam os direitos humanos porque suas ideias são a negação da própria humanidade. Pregam o ódio e a violência pois são incapazes de sobreviver diante dos próprios preconceitos.

A discussão com um fascista não é um debate político comum. Não pode também ser comparada com uma disputa clubística que “se resolve no churrasco”. É algo muito grave e muito perigoso. Estamos falando de indivíduos que defendem o espancamento de homossexuais, a cultura do estupro e tratam a violência contra a mulher como algo menor (isto quando não fazem apologia ao estupro), defendem a tortura, grupos de extermínio, pregam abertamente o genocídio de nordestinos e tratam negros, indígenas e quilombolas como se não fossem seres humanos. Muitas vezes escondem o preconceito por trás de uma falsa religiosidade, como uma espécie de “determinação divina”. Aliás, algo que era comum nos discursos de Hitler.

O fascismo, como alternativa política civilizada não existe! Derrotá-lo em todas as instâncias é um dever de todos e de todas para que não venhamos a conviver com novos holocaustos e crimes contra a humanidade.

Sandro Ari Andrade de Miranda é advogado e mestre em Ciências Sociais e mantém o blog Sustentabilidade e Democracia.