Um estudo sobre economia, lançado esta semana em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, expõe a destruição provocada pela política econômica adotada após o golpe jurídico-parlamentar de 2016.

O documento, que tem 66 páginas em linguagem didática e acessível, mostra o significado da austeridade fiscal imposta para a população do Brasil. Setores privilegiados não são atingidos pela austeridade fiscal.

O estudo traz um diagnóstico dos impactos das políticas de cortes em diversas áreas, demonstrando os efeitos extremamente negativos das políticas de austeridade praticadas no Brasil. Analisam-se os impactos dos cortes que já ocorreram e os possíveis efeitos do teto de gastos (Emenda Constitucional 95) em áreas como seguridade social, sauúde, educação básica, educação superior, meio ambiente, cultura, segurança, moradia, agricultura familiar, reforma agrária e direitos humanos, destacando os seus efeitos perversos que mantêm as fontes de desigualdade em termos de gênero e raça.

Uma das contribuições do documento é mostrar a relação intrínseca entre o orçamento público e a garantias dos direitos sociais, assim como o impacto distributivo da política fiscal no Brasil.

Em cada área, apresentamos as consequências que já podem ser percebidas e as previsões para os próximos anos de vigência do teto declinante de gastos, que irá impor uma série de novos cortes em áreas prioritárias e essenciais para garantir um desenvolvimento inclusivo e mais justo.

Parte dos impactos que estão descritos no documento já aparecem nas notícias de jornais que corroboram esse quadro. Talvez um dos resultados mais tristes seja o aumento da mortalidade infantil, após 26 anos[2] de queda consecutiva. Um estudo da Fiocruz aponta que o teto declinante de gastos que afeta programas como o Bolsa Família e Estratégia de Saúde da Família pode ter impacto direto ainda maior na mortalidade de milhares de menores de até 5 anos até 2030[3].

O aumento da mortalidade infantil está diretamente relacionado a outros dados extremamente alarmantes, como o aumento da extrema pobreza[4], a escassez de investimentos em saneamento básico e a piora no atendimento à saúde da população diante dos cortes de gastos[5]. Os cortes afetaram a oferta e a cobertura de vacinas[6], afetaram a qualidade do atendimento dos hospitais[7] e interromperam o programa de atenção básica, o Mais Médicos[8].

Além disso, os cortes afetaram diretamente a educação pública, tanto básica[9] quanto superior[10]. O atraso no repasse a creches[11] ameaça crianças menores de 4 anos. A área de pesquisa das universidades foi diretamente afetada[12]. A notícia mais recente, de corte de bolsas para 2019[13], caso os limites orçamentário forem mantidos, já foi discutido no documento que mostra uma queda na concessão de bolsas nos últimos anos.

Para as famílias brasileiras, um dos maiores problemas é o forte aumento do desemprego[14], em boa parte decorrente do efeito recessivo das políticas de austeridade econômica. Sendo assim, cada vez mais famílias dependem das transferências do governo[15] como sendo a principal fonte de renda, tanto as previdenciárias quanto as assistências, que também são ameaçadas pelas políticas de corte permanente de gastos.

A queda de renda tem afetado diretamente o padrão de consumo das famílias, reduzindo o consumo de comida, remédio[16], fraldas[17], gás[18], aluguel[19], entre outros. Quem não consegue comprar botijão tem improvisado com uso de álcool e fogão a lenha. Esses efeitos são ainda mais fortes nas mulheres[20].

A consequência imediata foi o aumento da população de rua[21] e a sensação de insegurança[22] nas grandes capitais brasileiras em meio a essa grande crise social.

O futuro não deveria e não deve ser assim. A austeridade fiscal, longe de uma necessidade técnica, é uma opção política-ideológica apoiada em discursos falaciosos sem sustentação empírica. É preciso rediscutir, repensar e reverter essas políticas que deterioram o bem-estar da população brasileira assim como o seu acesso a direitos sociais. Esse documento busca contribuir para essa tarefa. E, ao fazer isso, mostra que a solução não pode ser parcial: é preciso repensar um novo modelo de desenvolvimento que tenha como base a redução das desigualdades. (Do Brasil Debate/edição Carta Campinas)

Para ler o documento na íntegra: DOC AUSTERIDADE_doc3-_L9