A Associação dos Docentes da Unicamp (ADunicamp) divulgou nesta quinta-feira, 2 de agosto, uma nota se solidarizando com professores de universidades públicas federais, que estão sofrendo perseguição política e policial, que começaram a ocorrer após o golpe parlamentar de 2016.
Na nota, a associação dos professores da Unicamp relembra os vários casos ocorridos em Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. “A Associação dos Docentes da Unicamp se solidariza com os e as colegas que têm sido vítimas destas ações de censura e coação que afrontam e ferem gravemente o estado democrático de direito, coração da vida universitária. Compreendemos tais ações como ataques à Universidade e à Democracia, típicas de períodos de estado de exceção”, diz a Nota.
Veja nota integral da ADunicamp:
“Nos últimos dias, a universidade vem sendo novamente atacada. Este ataque ocorre contra colegas, docentes de várias instituições nacionais, em pleno exercício de sua liberdade de expressão e de pensamento.
O primeiro caso foi do professor Luciano Martorano, da Universidade Federal de Alfenas-MG. Sem qualquer aviso prévio, o professor Martorano foi exonerado do serviço público, no dia 5 de julho de 2018. Não há notícia de conduta que justifique esta ação da reitoria da UNIFAL, a não ser a atuação do professor Martorano como estudioso e tradutor da obra de Karl Marx. Dias antes, o mesmo reitor havia autorizado o afastamento de Martorano para a realização de um pós-doutorado na Alemanha.
No dia 24 de julho, soubemos da instalação de comissão de sindicância investigativa contra os professores Giorgio Romano, Valter Pomar e Gilberto Maringoni, da UFABC, em função de participação no evento de lançamento do livro “A verdade vencerá”, que se compõe de uma entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A comissão originou-se de uma denúncia anônima e, em mensagem eletrônica, solicitou dos professores resposta a “questionamentos” acerca da organização do evento. Os professores eram solicitados a responder se teria havido no evento “apologia ao crime”, se houvera “manifestação de apreço por Lula e partidos de esquerda” e se houvera “manifestações de desapreço contra o “Presidente Temer e integrantes do poder Judiciário e do Ministério Público”.
No dia 27 de julho, foi noticiado que a Polícia Federal de Santa Catarina instaurou inquérito contra o professor Áureo Mafra de Moraes, chefe de gabinete da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O professor foi intimado por ter participado de ato público pelo 57º aniversário da UFSC, ocasião em que lamentou a morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que se suicidou em outubro de 2017 após ser preso sem acusação justificada e submetido a humilhações descabidas. A suspeita que motiva o inquérito é de atentado contra a honra da delegada Erika Mialik Marena, que chefiou a operação Ouvidos Moucos que acusou o reitor Cancellier. Foi determinado que o professor Áureo avise a polícia em eventual mudança de endereço.
Estas ações se juntam à condução coercitiva de docentes da administração superior da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em dezembro de 2017 e à denúncia dos cursos sobre o golpe de 2016 realizados em dezenas de universidades no país no primeiro semestre de 2018.
A Associação dos Docentes da Unicamp se solidariza com os e as colegas que têm sido vítimas destas ações de censura e coação que afrontam e ferem gravemente o estado democrático de direito, coração da vida universitária. Compreendemos tais ações como ataques à Universidade e à Democracia, típicas de períodos de estado de exceção. É preciso que a comunidade acadêmica se una contra o denuncismo, o abuso de autoridade, o desrespeito às liberdades democráticas no ambiente universitário e em toda a sociedade.
Toda solidariedade aos colegas!
Não ao projeto político que vem constrangendo e agredindo a universidade brasileira, sobretudo a universidade pública, de diferentes formas! “(Diretoria da Associação de Docentes da UNICAMP)