.Por Verônica Lazzeroni Del Cet.

A troca de cartas é prática que remete a nossa mente a tempos antigos. Porém, é com tal prática que muitos idosos do Lar de Velhinhos de Campinas se comunicam com o mundo afora. Ao todo, são 65 idosos que recebem, por meio de 300 pessoas, cartas vindas de fora da Instituição. Se trata do projeto Afeto Selado.

O projeto acontece na instituição há aproximadamente 14 anos e começou enquanto atividade complementar de uma escola privada da região de campinas, onde os alunos trocavam cartas com os idosos da Instituição. Após passar por uma reestruturação, o projeto permanece funcionando e ampliou as trocas de cartas com os idosos do Lar a todos que se interessam em participar, construindo, portanto, amizades de forma diferente do habitual.

“Pensamos sempre como uma forma de “selar” um contrato de afeto, de amizade, o amor por correspondência. Pensar que no mundo automatizado de hoje, algumas pessoas resgatam algo como ferramenta para uma boa amizade”, dizem as psicólogas do Lar, Renée Zeidan, 33, Liliane Borges, 34, sobre a origem do nome do projeto.

Além de criar uma amizade por meio das cartas, o projeto oferece aos idosos a chance de resgatar contato com a realidade fora do Lar dos Velhinhos de Campinas. “A ideia sempre foi o idoso ter a oportunidade de fazer novos laços de amizade, o resgate do contato com a realidade dentro e fora da Instituição, formação de vínculos, poderem contar sua história, e através dessa troca, sentir-se valorizado e com a autonomia minimamente preservada.”, contam as psicólogas da Instituição.

Sentir-se valorizado

Para o idoso também aumenta a sensação de fazer parte da vida do outro, por participar, indiretamente, dos acontecimentos relatados nas cartas dos que se correspondem com eles. Os idosos podem opinar, perguntar e entender, oferecendo a oportunidade de se sentirem valorizados. “Propõe o protagonismo do idoso, pois ao contar sua história de vida, ele vive e revive lembranças que o fazem pensar tanto no momento presente quanto passado e construir reflexões a respeito de tudo isso”, contam as psicólogas.

Alguns idosos da instituição escrevem suas próprias cartas, elaborando poesias aos seus amigos de correspondência. Eles também gostam de contar o que fazem no Lar. Em média 50 cartas chegam todo mês na Instituição e cada idoso possui seu próprio tempo de resposta, levando em conta sua afinidade com o voluntário, como afirmam Renée Zeidan e Liliane Borges.

Desafios aos voluntários

O projeto vem a todo instante recebendo um grande fluxo de cartas de voluntários e saber lidar com o tempo de espera por uma resposta pode ser um desafio aos que participam da troca de cartas. As entrevistadas relatam que todos que se envolvem devem entender que a espera pela resposta não é como nas redes sociais. Além disso, muitos entrevistados colaboram não apenas participando do projeto, mas doando selos e envelopes.

Os dados necessários para todos que desejam se comunicar com os idosos do Lar estão disponíveis no Facebook, na página do projeto e todas as informações são atualizadas constantemente, sendo possível saber quantos idosos participam da iniciativa, assim como os nomes completos e endereços para envio da correspondência. Ao voluntário cabe apenas escolher para qual idoso deseja enviar suas cartas.

Selando a comunicação

O projeto Afeto Selado não apenas resgata a comunicação por meio da troca de cartas, como também promove a comunicação em que o processo da escuta se torna mais aprofundado. Aliado a esse fator, ao idoso é dada também a oportunidade de estabelecer contato com a escrita e leitura, além de ser uma atividade que contribui para o exercício psíquico dos idosos, segundo as psicólogas.