Sabe aquele café torrado e moído que você compra no supermercado e tem um gosto ruim ou médio, mas não parece café.
É que empresas podem ter adicionado outros materiais vegetais ao café para baixar o custo de produção, aumentar a lucratividade e enganar o consumidor. No Brasil, até algumas grandes empresas não se submetem nem ao selo da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), que busca manter um certo padrão de qualidade.
Agora, com novos métodos de detecção desenvolvidos por pesquisadores brasileiros será mais fácil revelar os produtos que são adicionadas ao café. Segundo os pesquisadores, as novas técnicas permitirão aos órgãos de fiscalização e de controle de qualidade detectar, com mais eficácia, adulterantes misturados ao pó de café.
“Os métodos convencionais não são específicos para café ou para os adulterantes mais utilizados nesse produto, ou seja, não permitem identificar os adulterantes individualmente. Já a técnica PCR em tempo real vem sendo amplamente utilizada para a análise de sequências específicas de DNA de diferentes matrizes alimentares”, ressalta Edna Oliveira, uma das pesquisadoras da Embrapa.
PCR (do inglês Polymerase Chain Reaction) é a Reação em cadeia da DNA polimerase, um método de amplificação (criação de múltiplas cópias) de DNA. É uma das técnicas mais comuns utilizadas em laboratórios de pesquisas médicas e biológicas para tarefas como sequenciamento de genes e diagnóstico de doenças hereditárias, identificação de “impressão digital” genética, detecção de diagnóstico de doenças infecciosas e criação de organismos transgênicos.
Segundo a Oliveira, “A PCR em Tempo Real (Real Time Quantitative PCR) é uma variação da técnica de PCR, a qual permite que a amplificação e detecção ocorram simultaneamente. O resultado é visualizado em tempo real durante a amplificação da sequência de interesse, com capacidade ainda de gerar resultados quantitativos com maior precisão. Os métodos de detecção e quantificação, baseados na técnica PCR, vêm se destacando como ferramenta analítica poderosa, especialmente a PCR em tempo real, na área de segurança e qualidade de alimentos”.
De acordo com os pesquisadores da Embrapa Edna Maria Moraes Oliveira e Otniel Freitas Silva, os métodos desenvolvidos pela pesquisa apresentaram rapidez, precisão e especificidade para detectar e identificar os adulterantes mais comuns adicionados ao café torrado e moído, como milho, arroz e cevada. Também mostraram capacidade de aferir a quantidade de adulterante presente em cada amostra além de alta sensibilidade, capaz de detectar até pequenas quantidades de adulterantes.
Os métodos de base molecular identificam sequências específicas, os marcadores moleculares, previamente selecionadas do genoma (DNA) dos adulterantes mais comuns. Esses, torrados e moídos como o café, são de difícil detecção pelos métodos utilizados atualmente, baseados na visualização por microscopia e macroscopia das características visuais de cores e imagens de cada produto adulterante em teste, o que depende muito da experiência do analista.
O outro método desenvolvido é baseado em Cromatografia Líquida de Ultra Eficiência e Espectrometria de Massas, que utiliza os aparelhos Cromatógrafo Líquido de Ultraeficiência acoplado a Espectrômetro de Massas UPLC/MS-MS – e oferece resultados mais rapidamente e com maior precisão. Esse está em fase de validação qualitativa. A pesquisadora Ana Cristina Gouvea ressalta o ineditismo da utilização da análise por UPLC/MSD-MS de marcadores de açúcares característicos das matrizes dos principais adulterantes em café (arroz, soja, cevada e milho).
A exigência dos consumidores foi uma das principais motivações para a elaboração do projeto, que busca contribuir para a evolução do mercado de café no Brasil. O Consórcio Pesquisa Café financia a pesquisa, que conta também com recursos do programa especial Capes-Embrapa da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que oferece bolsas para pós-graduação; além de projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A motivação para a elaboração do projeto, de acordo com a pesquisadora Edna Oliveira, surgiu de uma demanda do Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais (Lanagro-MG), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por métodos que detectassem as adulterações em produtos que não são o que dizem ser, ou seja, que levam “o consumidor a pagar mais pelo que não é”, e fossem capazes de diferenciar as espécies de café.
O auditor fiscal federal agropecuário Glauco Antônio Teixeira lembra que, após projeto de pesquisa atendendo a demanda do Ministério Público de Minas Gerais para avaliação da qualidade do café em relação a impurezas presentes em pó de café, o Lanagro-MG decidiu solicitar colaboração técnica para o desenvolvimento de métodos mais precisos de detecção de adulterantes no produto.
Ao fazer a busca por possíveis parceiros, encontraram as referências de Edna Oliveira, da Embrapa, que já havia trabalhado com métodos de detecção de sequências de DNA em alimentos contendo organismos geneticamente modificados (OGM) e prolaminas, que compõem o glúten.(Carta Campinas com informações de divulgação)