Mostra de solos femininos fala de violência, liberdade e desejo no Teatro de Contêiner Mungunzá

“Isso Não é Um Sacrifício”

Em São Paulo – O Teatro de Contêiner Mungunzá, localizado na Santa Efigênia, região central de São Paulo, realiza até o dia 9 de março uma mostra de solos femininos.

No dia 19/02, segunda-feira, será apresentado o espetáculo “Efeito Cassandra- Na Calada da Voz”. Neste espetáculo, a atriz não conhece todos os textos, nem a sequência narrativa do roteiro da noite, novos textos são gravados para cada apresentação e colocados em um fone. A obra, que parte do Mito de Cassandra, enfatiza o caráter de intervenção dessa proposição que explora a voz como personagem e traz à luz da cena a violência infringida através dos tempos ao discurso feminino, massacrado de forma explícita ou velada.

No dia 20/02, terça-feira, o público poderá assistir ao espetáculo “BadeRna”. A palavra “baderna”, exclusiva do português do Brasil, surgiu no fim do século XIX em referência à bailarina italiana Marietta Baderna, jovem artista liberal e inovadora, que provocou inúmeras críticas ao introduzir aos passos do balé clássico gestos do lundu, dança afro-brasileira que era praticada apenas por escravos. Tendo esta narrativa como pano de fundo, o espetáculo performático BadeRna trata do processo histórico da mestiçagem brasileira. A estreia ocorreu em setembro de 2014, na antiga sede do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, sob a iminência de seu despejo, o que, segundo o grupo, “desencadeou uma luta política contra as grandes incorporadoras que ameaçam os espaços culturais na cidade de São Paulo”.

“Conversas com meu pai” também faz parte da mostra e será apresentado nos dias 21 e 22/02. Em uma velha caixa de sapatos, Janaina guarda uma infinidade de bilhetes que trazem frases escritas por Alair, seu pai, que sofreu uma traqueostomia e perdeu a capacidade da fala. Esse foi o ponto de partida de um work in process de quase sete anos que culminou na morte do pai e que deixa como herança um amontoado de formas, esboços e questões com as quais a atriz tenta lidar em cena.

No dia 23/02, será apresentado o espetáculo “Carne de Mulher”. Uma mulher está sendo interrogada por uma médica e sua equipe. A partir do seu depoimento, nos deparamos com a trajetória de alguém que foi alvo de uma sequência de violências de gênero ao longo da vida e que de repente decide colocar em prática, como com a força de um grito, o seu ato de libertação.

Nos dias 24 e 25/02, é a vez do espetáculo “O Testamento de Maria”. O escritor Colm Tóibin imagina como Maria, perseguida no fim de sua vida e no exílio, procura desvendar os mistérios que cercaram a crucificação de Jesus Cristo. Maria faz questão de falar somente a verdade. Ela encara não só a imensa crueldade dos romanos e dos anciãos judeus, e a estranha e inexplicável exaltação dos discípulos do seu filho, como também as suas próprias angústias e hesitações. Deste modo, além de mãe, de símbolo religioso e de figura histórica, Maria se revela uma figura de enorme estatura moral, uma verdadeira e inesquecível mulher.

“Como Todo Mundo” será apresentado nos dias 24 e 25/02 e aborda de maneira documental, pela via do teatro, a história de uma cafetina que após advogar para uma prostituta que havia sido maltratada, resolveu montar sua própria boate. O monólogo tem sua encenação feita pela técnica verbatim de teatro documental.

“O Evangelho segundo Jesus, rainha do céu” poderá ser visto nos dias 26 e 27/02. O espetáculo é uma mistura de monólogo e contação de histórias em um ritual que mostra Jesus no tempo presente, na pele de uma mulher transgênero. Histórias bíblicas são recontadas em uma perspectiva contemporânea, propondo uma reflexão sobre a opressão e a intolerância sofridas por pessoas trans* e minorias em geral na sociedade.

A programação continua com “Palavra de Stela”, nos dias 28/02 e 01/03. Apoiada na dramaturgia e direção de Elias Andreato, a atriz Cleide Queiroz protagoniza monólogo sobre Stela do Patrocínio (1941-1997). A personagem real, diagnosticada como esquizofrênica, passou a maior parte da vida internada em manicômios e desenvolveu um discurso poético que revela uma visão muito pessoal do mundo.

“A árvore seca”, no dia 02/03, se apresenta como uma odisséia épica na qual a atriz narra em primeira pessoa a história emocionante de uma mulher que transcende sua infertilidade e arranca à força felicidade nos pequenos momentos de sua vida no sertão. O texto poético baseado na literatura de cordel se reveza com depoimentos autobiográficos da atriz.

Nos dias 03 e 04/03, será apresentado “Afinação I”. “Afinação I” é uma aula ministrada pela personagem, a pensadora e professora francesa Simone Weil. Uma conferência sobre a relação entre a opressão e o sofrimento no mundo, e o incrível boicote ao pensamento racional. É tudo sobre a liberdade. São textos de Brecht, Hegel, da própria Simone Weil e algumas citações de Marx compondo esse momento que pretende ser uma oração à razão. Com muito cuidado, Simone afina as ideias, presentes nos sons e sentidos, e busca com muito fervor fazê-las existir também no coração do público. Um violoncelo é, para Simone, o objeto de expressão dessa afinação sutil.

A programação também traz no dia 03/03 o lançamento do livro “Ninfas do Tietê”, de Natália Nolli Sasso.

Nos dias 05 e 06/03, Fernanda D’ Umbra apresenta “Isso Não é Um Sacrifício”, monólogo sobre uma mulher que já foi usada de diversas formas e agora será descartada por apedrejamento. A violência, o descarte diário, o apedrejamento nosso de cada dia. Um texto de Fernando Bonassi, marcando o reencontro de Christiane Tricerri, na direção, com a atriz Fernanda D’ Umbra, estreando seu primeiro monólogo. Um espetáculo da imobilidade, o não movimento em busca de uma fresta de luz, um fim de túnel.

No dia 09/03, o show Soledade, de Cida Moreira, encerra a programação. Mais informações podem ser vistas pelo SITE do Teatro de Contêiner Mungunzá. (Carta Campinas com informações de divulgação)


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