O grupo de extrema-direita MBL conseguiu fechar a exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Santander Cultural de Porto Alegre.
O fechamento aconteceu porque integrantes do grupo estavam hostilizando os visitantes.
Os integrantes do MBL são também a favor da censura e criminalização do professor, já tiveram vários outros incidentes.
O MBL lembra o início das atividades e agressividades que os nazistas faziam em Munique, sul da Alemanha, onde o partido de Hitler surgiu. Veja abaixo o excelente texto do professor da Universidade Federal do Pará, Afonso Medeiros, publicado no Facebook, sobre a exposição.
.Por Afonso Medeiros.
Em cartaz desde 14 de agosto no Santander Cultural de Porto Alegre, a exposição “Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira” foi fechada pela própria instituição que a promove um mês antes de seu encerramento. Com curadoria de Gaudêncio Fidelis, a mostra reunia trabalhos de 85 artistas, entre nomes consagrados (como Lygia Clark e Leonilson) e artistas marginalizados pelo mainstream do circuito das commodities culturais.
Assumidamente pensada para por em discussão questões sobre o corpo, o gênero, a sexualidade e a identidade (particularmente dentro de uma perspectiva lgbt), a mostra foi alvo de debates virulentos nas redes sociais um mês depois de sua abertura por, segundo os inspetores do fiofó alheio, atentarem contra “a moral e os bons costumes” – leia-se: afrontarem “valores cristãos” e exporem cenas de pedofilia e zoofilia.
Infelizmente, essa comoção das “pessoas de bem” que, de um momento para o outro assumem o papel de críticos, teóricos e historiadores da arte pós-especializados em qualquer merda, não é novidade. Nem na história antiga e nem na história recente da arte.
As restropectivas da obra de Mapplethorpe no início dos anos 1990 já causaram virulência inclusive no Senado estadunidense – e, pasmem, uma delas passou incólume por Sampa nessa mesma década. Desde então, muitas exposições com obras explícitas de sexo/sexualidade passaram a mostrar tais obras em dark rooms, com avisos/advertências nas portas – verifiquei essa prática na exposição de Mapplethorpe há quatro anos e de Jeff Koons há dois anos, ambas em Paris.
Um cartaz da grande retrospectiva do pintor renascentista Lucas Cranach foi retirado do metrô londrino em 2008 por, supostamente, ser “pornográfico” (e se tratava de uma pudica vênus nua pra lá de quatrocentona).
Voltando um pouco mais no tempo, é bem conhecida a prática nazista de “condecorar” alguns artistas como produtores de “arte degenerada” e queimar suas obras em praça pública, pelos mesmos motivos alegados pelos “críticos” das redes sociais: pornografia, atentado à moral e avacalhação dos nobres valores cristãos.
Retrocedendo ainda mais, não custa lembrar que o “David” de Michelangelo foi apedrejado quando exposto em praça pública; que a “Venus de Urbino” de Tiziano foi considerada a imagem mais indecente do Ocidente por mais de trezentos anos; que Paolo Veronese teve que encarar um processo diante do tribunal da Inquisição por “interpretar licenciosamente as sagradas escrituras”; que Goya também sofreu um processo da Inquisição espanhola por causa de “La Maja desnuda”; que “A origem do mundo” de Courbet só passou a fazer parte de um acervo público (Museu D’Orsay) mais de 100 anos após sua criação e que a reprodução dessa mesma obra foi retirada do site da Academia Brasileira de Letras há pouco anos atrás. E mesmo artistas brasileiros já foram alvos dessas sandices – que o diga MárciaX. Em todos esses casos, a alegação dos mesmos motivos: “atentado ao pudor, à moral e aos bons costumes”, “deseducação das nossas crianças”, “perdição”, “escândalo”, “pornografia”, “heresia”…
Portanto, não estamos lidando com nenhuma novidade. A arte e os artistas sempre enfrentaram os retrógrados, os conservadores e os pudicos hipócritas de plantão – quem nunca gozou com imagens explícitas do sexo e da sexualidade, que atire a primeira pedra!
O que espanta é que, em meio a essa “comoção” os retrógrados embutem a concepção de que a “verdadeira” arte eleva, transcende, conforta, nos põe em contato com o numinoso, se torna um “alívio” ou expurgo das durezas da vida.
Respeitável público: arte não é religião, não exige reza e nem tem igreja. Pode propiciar, sim, uma suspensão momentânea do comezinho humano, mas comumente provoca, confronta, questiona e põe o dedo na ferida em tudo aquilo que é humano, demasiado humano.
Recentemente, eu e Márcio Lins vimos uma exposição sobre “Maria” em Utrecht (Holanda). A curadoria nos ofereceu uma leitura da mãe de Jesus mais abrangente, como uma das muitas figurações da maternidade, da fecundação e do feminino e, por isso mesmo, misturou anacronicamente à imageria artística mariana uma série de ícones de outras deusas, incluindo a nossa tão conhecida Yemanjá. Para sublinhar ainda mais certas questões embutidas na mitologia mariana, expôs-se também obras de artistas mulheres contemporâneas que trabalham com/sobre a condição feminina no presente. Dentre elas, a obra “Virgin of Mercy” (2005) de Elisabet Stienstra dá o que pensar: uma escultura em tamanho natural de uma mulher púbere nua, com a vagina não só à mostra, mas clara e realisticamente evidenciada. O que aquela escultura estava fazendo numa exposição dedicada à figuração mitificada da “mãe de Deus”? Estava exatamente ali para nos fazer pensar sobre o mito da virgindade, da docilidade e da submissão. Estava ali para nos fazer pensar sobre a construção machista (historicamente constituída) sobre o papel da mulher na sociedade. Considerando que a exposição foi montada num convento-museu, o nível do discurso simbólico tornou-se ainda mais palpável e, a propósito, a postagem da obra de Stienstra aqui no Facebook rendeu três dias de suspensão ao Márcio.
Muitos dos “novos críticos de arte” salientaram que as obras expostas no Santander Cultural não deveriam estar num espaço público e eu bem sei (porque pesquiso o tema há anos) que a exposição do corpo, do sexo e da sexualidade acaba recaindo na querela entre público e privado. Trata-se de uma falsa questão, muito de acordo com a hipócrita moralidade da sociedade ocidental. Templos indianos exibem casais em enlevos carnais explícitos. Muitos dos mais belos exemplares da arte oriental na arquitetura, na pintura, na escultura e na gravura mostram casais (inclusive homossexuais) de humanos e animais em divina fornicação. Para não irmos tão longe, bastaria lembrarmos da pintura em vasos gregos ou do nosso carnaval com corpos deliciosa e sedutoramente desnudos ou corpos de homens e de mulheres travestidos. E tudo isso à vista de todos. E nem vou falar da erotização precoce de nossas crianças promovidas pela publicidade, pela televisão e pelas próprias famílias que consomem acriticamente toda a parafernália da indústria cultural.
Ora, se o mais comum dos mortais neste pedaço do planeta – onde “não existe pecado do lado de baixo do Equador” –, pode expor suas carnalidade e suas fantasia sexuais publicamente (graças a Deus, mesmo quando lhe convém), porque o artista não pode? “Santa hipocrisia”, diria aquele antigo namorado do Batman. Não passa pela cabeça desses “críticos” que o artista pode e deve tratar de todas essas questões?
Se as senhoras e os senhores inspetores do cu alheio não querem que seus filhos vejam tais “perversões”, não levem seus pequerruchos aos museus! Museu não é playground e muito menos igreja. Arte não é só evasão da realidade, entretenimento ou “diversão sadia”. Arte “de verdade” nos desestabiliza, nos confronta, nos questiona e, num jogo de espelhamentos, nos pergunta sempre: Por que isso te incomoda?
Não são os artistas que devem ser silenciados, senhoras e senhores! Observem-se nas obras deles para, a partir de então, se perguntarem sobre os abismos de sua própria humanidade repressivamente silenciada.
Mas isso já é pedir muito numa sociedade que não consegue nem perceber as profundezas da metáfora, do poético e do humano. Por essas e outras, deixo aí embaixo o sorriso maroto de Madame Louise…
Tristes país. Tristes trópicos.
(10/09/2017)
(Imagem: Louise Bourgeois by Robert Mapplethorpe)
A praga cristã nos afundou em mais de mil anos de trevas, esses idiotas úteis, lambedores de saco de pastor não são parâmetro para nada. Limitem se ao seu espaço fanáticos de merda, ou eu limitar-vos ei.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk acho que os lambedores de “SACO” aqui sao outras pessoas hahahahahah…
Uau! Eduardo Preto, impressionante como você consegue debater civilizadamente, diferente dos tais cristãos cheios de ódio que você tanto critica, surpreende o nível elevado de seu vocabulário, a riqueza e a profundidade de seus argumentos e a tolerância demonstrada com que pensa diferente de você. [ironia] 😀
Eduardo, vai lamber um saco, vai, criança.
Esse tal de MBL, pústula fétida engendrada na ditadura militar eclodindo com grande estardalhaço no século XXI, deve ser tratado como o que é: quadrilha terrorista da pior espécie. É preciso dar um basta nesses energúmenos proto-fascistas cortando o mal pela raiz.
Felipe, poderíamos publicar seu comentário. Mas este tipo de comentário só é analisado com total identificação do autor, com nome completo, página pessoal verdadeira e com fotografias do autor. Isso não significa que o comentário será aprovado, mas analisado. A fotografia e o link da página pessoal do autor desse tipo de comentário poderão ser colocados ao lado do comentário, caso seja publicado
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Concordo com cada palavra deste texto. Minha indagação, pois, diz respeitos aos gaúchos e aos movimentos sociais nesse/desse estado: por que vocês não encheram de porrada essa canalha do MBL? Nós estamos esperando o quê pra metermos a mão nesses bastardos? Cadê os movimentos pela dignidade e cidadania LGBTT’s nesse estado?? Porra, chega. CHEGA! Tão destruindo todo o país, estão fazendo perdermos todas as conquistas sociais dos últimos anos desde a Redemocratização. Com fascistas não se discute: mete-se a porrada! Não tem diálogo com quem quer nos destruir, temos que destrui-los antes!
Não Yuri. Aí estariam fazendo que nem eles. Por que baixar o nível? Este tipo de reação violenta é que preconizam. Quem desaprova o MBL não pode ser igual a eles. Deixaria de ser o sensato conto os insensatos para ser um mero jogo de futebol. Mas o artigo é ótimo e elucidativo. Eu não sabia dos problemas enfrentados por Goya. Mas suspeitei e até fiz um comentário a respeito ainda ontem dizendo achar que poderia ter acontecido. Agora sei que realmente aconteceu.
Maco, poderíamos publicar seu comentário. Mas este tipo de comentário só é analisado com total identificação do autor, com nome completo, página pessoal verdadeira e com fotografias do autor. Isso não significa que o comentário será aprovado, mas analisado. A fotografia e o link da página pessoal do autor desse tipo de comentário poderão ser colocados ao lado do comentário, caso seja publicado
Discordo da frase final. A questão da imagem, seu alcance, sua força de representação, é um dos pilares das artes visuais. O tema é quente e sempre atual, como mencionado anteriormente no próprio texto. Não desmereça os Trópicos por isso.
arte?
sexo explicito, negros fazendo sexo oral e anal em brancos, animais sendo estuprados, símbolos religiosos sendo escarnecido, orgias, palavras de baixo calão… que tipos de pessoas admiram esse tipo de arte? ou que reflexão essa arte possa transmitir?
simples que tais fatos são muito mais corriqueiros em nossa hisrtoria e sociedade, arte não é para ser bonita mas para também fazer refletir chocar abrir espaços, a obra citada quer mostrar como corpos humanos e de animais são objetos para muitos e como é corriqueiro nos interiores (nome de obra) lamento que cheguemos a este ponto em que a obscuridade a censura o proximo passo vai ser queimar livros, arte não é só para admirar mas também para reflexionar o que é um caso raro hohe em dia uma exceção
Eita, e a proposta do “projeto Roubanet” de focar no público adolescente em idade escolar!!! Tutto financiado com o suado dinheiro público da Roubanet, pra propor fantasias sexuais e descobertas de gênero? Através de zípers que permitiram aos visitantes se bolinar durante a visita (palavras do curador)!!! Eita ….
Arte degenerada tem que virsr cinza.
Sou contra qualquer censura e principalmente contra a censura na arte mas minha sanidade me faz uma pergunta : se a Lei exige que as pessoas comuns respeitem a religião alheia então porque o artista não deveria respeitá-la ???
tenho trabalhado com este argumento o tempo todo. Na administracao na teoria da agencia temos um dilema: Quem vigia o vigia? Entao, quem garante que aquilo ali eh apenas arte gozando de seu proposito louvavel de gerar reflexao e critica construtiva? Que nao eh um grupo praticando intolerancia religiosa e desrespeito a determinada religiao? – como fizeram na visita do papa Francisco (performance enfiando crucifixos no anus), na parada gay (santos trasvestidos), entre outros.
Os mesmos argumentos: a arte tudo pode e tudo deve, ninguem pode tocar neste seu direito absoluto; e a comparacao com a existencia de outras coisas tao ruins quanto (tipo erotizacao precoce das criancas pela midia) supostamente aceitas pela sociedade, sugerindo preconceito e hipocrisia apenas por se tratar de questao ligada a comunidade LGBT. Isso eh desnonesto. Eu nao aceito, ninguem aceita, lutamos diariamente contra a erotizacao precoce das criancas pela midia e outras porcarias que, infelizmente, estao presentes no mundo. Podemos analisar por outra perspectiva: tem um grupo querendo impor seus valores,desrespeitando a maioria, de uma forma autoritaria, violenta. Eh como se um movimento de empresas agora quisesse nos impor aceitar a erotizacao precoce das criancas, por exemplo. O que voces achariam disso? Voces estao querendo definir contra o que podemos nos indignar e boicotar, sob o risco de ser taxada de fascista, anti democratica, etc.Nao sou fascista, detesto facistas. E minha maior indignacao neste debate eh pq, mais uma vez, estao jogando na vala do “direita x esquerda” um tema que vai muuuuuuito alem disso. Desonesto, autoritario, nao aceito.
quem disse que alguém quer impor seus valores,só soube desta exposição por causa da gritaria dos obscurantistas de sempre qualquer um pode ter a opinião que quiser mas censurar ou querer dizer o que um artista deve fazer ou não é um metodo que somente num pais feudal ainda como o brasil tende a acontecer, onde na exposição existe pedofilia sendo apologizada ao contrário todos os quadros citados e polemizafdos são reflexões criticas no ambito artistico que talvez precise mais de percepção do que preconceitos estes sim que jogam na vala comum obras que estão impregnadas de critica
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A ARTE NUA
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Um homem nu deitado
No chão de um museu
É um artista pelado
Do jeitinho que nasceu
E uma menina sem culpa
Apalpando as peludas
Pernas do cidadão
Que grita mesmo calado:
‘Quero que seja respeitado
O meu direito à expressão.
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Ao Estado cabe
Dar liberdade total
Ao exercício da arte
Sem censura moral
Mas cabe a ele também
Garantir que ninguém
De forma temerária
Desrespeite as normas
Inclusive a que aborda
As faixas etárias.
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No aconchego do lar
É total a liberdade
De como se educar
Os filhos de tenra idade
Mas em locais públicos
Todos somos súditos
Dos preceitos legais
A arte é para fazer pensar
E não para franquear
Impunidade aos pais.
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Todo artista deve ser livre
Para poder se expressar
Mas é de bom alvitre
Pôr cada coisa em seu lugar
Senão ainda veremos
Meninas e meninos pequenos
Deitados pelados no palco
Vendo a plateia de adultos
Tocando seus corpos miúdos
Que ainda cheiram a talco.
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Eduardo de Paula Barreto
20/10/2017
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Raimundo, poderíamos publicar seu comentário. Mas este tipo de comentário só é analisado com total identificação do autor, com nome completo, página pessoal verdadeira e com várias fotografias do autor. Isso não significa que o comentário será aprovado, mas analisado. A fotografia e o link da página pessoal do autor desse tipo de comentário poderão ser colocados ao lado do comentário, caso seja publicado.