A mostra “Geografias Internas”, da artista Eni Ilis, reúne 23 desenhos inéditos realizados com caneta esferográfica sobre papel cartão e pode ser vista no espaço do Centro de Ciências, Letras e Artes, de Campinas (CCLA) até o dia 23 de junho. A abertura da mostra acontece no próximo dia 1º de junho. A exposição tem curadoria do artista plástico João Bosco.

Eni Ilis é artista autodidata, com participações em mostras da região.

“Em Eni Ilis, percebemos que a força de seu traçado e de suas linhas reside não na pressão desmedida do lápis, como poderíamos pensar ao falarmos de força, mas, na delicadeza e no domínio com que trabalha esta ferramenta tão pouco utilizada em tempos de computadores, celulares, tablets, redes sociais. É neste suave controle, de uma disciplina rigorosa, que sua linha flui leve, porém intensa, forte, em um desenho que demonstra a sua segurança ao fazer. Seu desenho corre sem hesitar e se se retém, em algum momento, é apenas para demonstrar de forma mais incisiva o que já se sabe.

Uma espécie de parada para reforçar o que se quer afirmar, como quem diz: ei, é isto mesmo que você está vendo?! As linhas de Eni nos provocam e conduzem para dentro de seu universo onírico, mitológico, fabuloso e por que não dizer surreal? Constrói uma realidade suspensa, que nos faz questionar a nossa própria realidade.

Ao longo da história da humanidade e consequentemente da arte, dos gregos, aos egípcios, passando pelos povos do oriente médio aos povos da Ásia, ou ainda seguindo a trilha deixada pela cultura greco-romana; de Platão à Vasari; vários foram os autores que se ocuparam e discorreram sobre a maravilha do ato de perceber e fazer arte, e neste caso, o ato de desenhar. As conjecturas advindas desta ação, em geral, eram consideradas, e ainda são de alguma maneira, como uma forma para se materializar nosso entendimento do mundo. Basta para isto entendermos o desenho como um canal ou meio para a construção de uma realidade possível, utópica por vezes, mas, capaz de gerar conhecimento e transformar o mundo real.

É conhecida a ideia de Leonardo da Vinci que, em seus escritos, avisa-nos que o desenho é pertencente ao campo do mental, portanto, razão. Porém, sabemos hoje por meio de autores contemporâneos e igualmente estudiosos deste assunto, que sua complexidade em materialização se dá por caminhos nem sempre precisos. Como chega até nós, como se configura e se materializa; se é por meio de sonhos, em um mundo sutil e subconsciente, ou por auxílio de facilidades tecnológicas; ou quem sabe, fruto de intensa procura e observação, embasado em sólidas referências e por um estudo rigoroso da forma; há os que defendem uma concepção metódica, por meio de regras e há também os que romperam com estes métodos desde o modernismo, adotando para si a abolição total de regras a serem seguidas.

Seja como for, o trabalho de Eni revela muito mais de nosso mundo, mesmo quando discute algo íntimo, pessoal. É que temos características universais, humanas, dores, medos, amores, alegrias, tristezas, uma infinidade de sentimentos e sensações. E ainda que Eni recorra apenas ao seu universo pessoal, quando fala de si, fala de todos nós. Portanto, seu desenho se torna um exercício de meditação e introspecção coletiva”.

Guarulhos, 30 de dezembro de 2015
Alexandre Gomes Vilas Boas, artista errante insistente

Exposição: Geografias Internas (Eni Ilis)
Curadoria: João Bosco
Abertura: 01/06/17
Período da mostra: 01/06 até 23/06 de 2017
Das 14h às 17h
Entrada gratuita
Endereço: Rua Bernardino de Campos, 989 – centro