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Poemas de Paris: Papillons

Por vezes cansa, como um longo dia repetido,
aquela paisagem cinza, tão igual, e tão parada.

Até que os olhos cruzam com certas portas coloridas,
com certas violências livres e alegres.

O lugar começava por uma escada em espiral,
dessas que aparecem em cenas de filmes antigos,
onde cada degrau era pintado com uma cor diferente
e cada intervalo era atravessado por um poema urgente

e, no entanto, já eles iam quase apagados pelo tempo.

Não era desde logo acolhedor, mas era desde logo novo
sem deixar de ser velho, e era quase que como uma casa
vazia, deixada assim por muito tempo, mas da qual
ainda reconhecemos as formas, lembramos o lugar
onde ficava a cama, a mesa da cozinha, o cesto de lixo.

Mas ali chegava-se em muitas casas, em muitos
pequenos mundos, a tetos de uma outra Capela Sistina,
a outros tantos quadros feitos de pedras ou a outros tantos
objetos feitos com milhares de bilhetes de metrô.

Havia vida, e farta
e por isso havia susto

e aquela esperança desconfiada de quem recebe
um pequeno panfleto revolucionário
e sabe que o certo, ainda que seja inquieto,
é passá-lo adiante, ou jogá-lo nos ares,
fazendo com que ele voe

apesar de tudo.

(Maura V.)

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