Foi em algum dia da primeira semana de janeiro
daquele ano em que eu estava longe de casa.
Vi, de longe, as barracas enfileiradas naquele
grande pátio que se estendia livre
em frente ao belo prédio da Bolsa.
Havia uma alegria muito simples
na visão de todos aqueles objetos antigos,
espalhados, oferecendo-se a um público ávido
de jovens e velhos, de muitas mulheres.
Pequenas bailarinas em poses delicadas,
pratos e pesos de papel de porcelana,
outros enfeites para colocar em casa,
para adornar os dias e deixar diferentes as horas,
como uma maquiagem em um rosto de mulher.
Muitos discos e livros velhos, belos jarros
d’água, com seus mais ínfimos detalhes,
seus contornos, suas linhas, seus ornamentos,
belos pedaços de um tempo exilado.
Esses eram dos Cafés Maurice, aqueles do II Império
outros do tempo da Revolução, ainda outros de uma
remota Belle Époque, de um cabaré hoje modernizado,
de uma galeria agora disfarçada, mero trajeto casual.
Mas como tinham uma estranha felicidade,
esses bric-à-brac que estão à venda, sem serem
mercadorias. São antes uma força do passado,
em cujas dobras reviramos e deslizamos nossos
dedos que quase queimam
________________em uma chama que ainda arde.
(Maura V.)