Uma pesquisa realizada na Unicamp mostrou que a política industrial gestada principalmente durante  o governo do ex-presidente Lula (PT) foi capaz de tirar o Brasil do atraso no setor de semicondutores e criar uma ‘massa crítica’ com capacidade para desenvolver tecnologia na área.

O resultado dessa política é que o Brasil conta hoje com mais de 40 instituições embrionárias, atuando em todas as etapas da cadeia de valor e em diversos segmentos de componentes semicondutores.

A pesquisa, realizada pela economista Flávia Filippin traçou um mapeamento do setor no país, assim como as políticas públicas implementadas pelo governo brasileiro nesta área. De acordo com a autora, o principal instrumento de incentivo foi o PADIS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores), implementado em 2007.

Apesar de não ser um incentivo fiscal tão agressivo como outros países, o programa é o incentivo mais agressivo existente no Brasil para um setor industrial, avalia Flávia. Para a autora, o início da política para semicondutores surge com ‘papel crucial’ do que ela denomina de ‘buroracia’ estatal. O grupo de trabalho da indústria de semicondutores, formado, à época, por agentes dos ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foram fundamentais.

“A aprovação do PADIS em 2007 foi um passo muito importante na construção da política de incentivo ao setor porque foi uma manifestação do comprometimento do governo naquela época”, diz.

Durante a gestão de Dilma Rousseff (PT), no entanto, o governo parece ter perdido a capacidade de renovar os incentivos para manter o programa. Para a pesquisadora, “houve baixa prioridade da indústria de semicondutores no Palácio do Planalto nos últimos anos”, afirmou. Agora com Michel Temer (PMDB) e o desmonte do país, esquece.

Para Flávia Filippin, a indústria nacional de semicondutores não está em condições de igualdade de competir com as empresas internacionais de ponta. “Não acho que isso acontecerá em um futuro próximo. Talvez em alguns nichos específicos, como fotônica e microfluídica, algumas empresas brasileiras sejam capazes de competir. Mas isso não quer dizer que este setor não pode trazer grandes efeitos positivos para o desenvolvimento nacional”, disse ao Jornal da Unicamp.

Para ela, desenvolver essa tecnologia é essencial ao país. “Mesmo não competindo com empresas de ponta, a indústria brasileira de semicondutores pode contribuir grandemente para a produtividade de outros setores da economia nacional e pode aumentar o potencial inovativo do país. A microeletrônica é uma tecnologia de propósito geral e é fundamental dominá-la, mesmo que em desvantagem com os países avançados”.