O mega empreendimento, que pretende transformar a antiga Fazenda Fonte Sônia, em Valinhos, em uma mini cidade, tem dimensões colossais.
Para se ter uma ideia do tamanho da coisa, serão remanejados aproximadamente 1 milhão e duzentos mil metros cúbicos de terra. Necessários 230 mil viagens de caminhão. Acredita-se que nunca antes uma movimentação de terra tão grande foi realizada na cidade.
Para a construção de uma passagem de saída será necessário escavar morros de até 17 metros de altura e dar sustentação a esses paredões necessários para fazer a obra. Cerca de 500 lotes serão construídos em área de serra, em altitudes próximas ou superiores a 800 metros.
A Fonte Sônia, local que se pretende construir esse mega empreendimento, foi o ponto turístico mais famoso da história da cidade de Valinhos, SP. A fonte foi uma iniciativa de Orozimbo Maia, ex-prefeito de Campinas, que a implantou na fazenda Cachoeira, de sua propriedade. A Fonte Sônia foi inaugurada no dia 12 de julho de 1921 e seu nome é uma homenagem à neta mais jovem de Maia na época.
As águas da fazenda foram analisadas a partir da história de um empregado da fazenda que havia se curado de uma doença nos rins. As análises constataram que eram radioativas, com propriedades benéficas para os rins e bexiga e extremamente diurética, mais forte do que a da cidade de Lindoia.
Para o empreendimento sair do papel, no entanto, é necessária a alteração na Lei do Zoneamento, pois a área está localizada em uma macrozona rural turística, segundo o Plano Diretor em vigência.
Ao mesmo tempo em que solicita a alteração do zoneamento, a 01 FS Empreendimentos Imobiliários SPE Ltda, responsável pelo empreendimento, entrou com pedido de licenciamento da obra junto à CETESB. Em 26/01/15, a CETESB encaminhou ao Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Comitê PCJ) o EIA/RIMA apresentado pela empresa, para análise quanto à utilização dos recursos hídricos.
O Comitê PCJ, ao longo dos últimos 2 anos, vem analisando a documentação apresentada pelo empreendedor e recusando todas. Desde então, já emitiu três pareceres questionando diversos aspectos do EIA/RIMA apresentado.
De acordo com as associações, a empresa não apresentou nenhuma proposta efetiva com medidas de proteção de mananciais, que abranja, entre outros temas, medidas de proteção e contingência em casos de derramamento de produtos perigosos, considerando que parte da captação Barragem das Figueiras, de Valinhos, está no fluxo de água do empreendimento. A empresa repassa as obrigações para o município e Estado, por meio de convênios com a Defesa Civil Municipal, DAEV (Departamento de Água e Esgoto de Valinhos) e CETESB.
Os estudos de mitigação e compensação para agricultores vizinhos em relação aos impactos com aumento populacional, tráfego de veículos, poluição e outros não atenderam plenamente as exigências do Comitê PCJ. A Associação dos moradores da Chácara Alpinas, bairro vizinho à Fazenda Fonte Sônia, apresentou carta de manifestação e repúdio ao empreendimento. Um parecer, elaborado por técnicos agrícolas e especialistas em geologia, mostra que, entre tantos outros transtornos, o lençol freático da região irá vertiginosamente abaixar em função da paralisação de recarga hídrica na região montanhosa.
O estudo da Associação do Patrimônio Histórico de Valinhos (APHV) também demonstrou que existem diversos pontos de gargalos que ocorrerão na mobilidade (trânsito) do entorno e nos principais pontos de saídas da cidade. Ou grande preocupação é com o escoamento das águas excedentes do período chuvoso. Hoje, a região já apresenta situações de alagamento do entorno. De acordo com a associação, o empreendedor apresentou como solução a construção de dois grandes tanques de captação e escoamento lento, porém, tomou como base uma precipitação chuvosa de nível mediano.
Os dados técnicos apresentados pela APHV apontam que nessa região a precipitação ocorre em dobro do estudado pelo empreendedor, com a característica do terreno ainda permeável. Numa situação de impermeabilidade devido às construções, essas águas não encontrarão barreiras e nem solo para serem absorvidas.
Para a associação, o parque de área verde que o empreendedor cita como legado ao público, não passa de três pontos esparsos distribuídos pelo complexo. A mobilização para acesso a esses parques será por meio de duas avenidas margeando os condomínios.
Outro problema para o valinhense é que o Departamento de Água e Esgoto de Valinhos (DAEV) irá arcar com o custo e a responsabilidade do tratamento do esgoto advindo de mais de 6 mil moradores no complexo, o que, segundo a associação, fere outra vez o Plano Diretor no que tange à sua autossustentabilidade. Os moradores da cidade vão pagar a conta do investimento no tratamento de esgoto.
Segundo um coletivo de associação e moradores, a aprovação da alteração do zoneamento da região, caso seja concretizada, abrirá um perigosíssimo precedente, pois no futuro outras áreas rurais, como a Serra dos Cocais, de enorme importância para o equilíbrio hídrico da região, poderão ser adquiridas a valores irrisórios e depois solicitada a alteração do zoneamento, com a justificativa da “necessária” expansão urbana, oferta de empregos e desenvolvimento. O mesmo tem acontecido em Vinhedo, que passa por isso com o movimento pró-Fazenda Cachoeira e Campinas, com o movimento pela criação do Parque de Barão, na área remanescente da Fazenda Rio das Pedras.
A área em Valinhos é de extrema importância em sua forma ecológica, por ser local de frequência de animais como os macacos Sauá, Veados Campeiros, Jacus, Lobo Guará, Cachorro do Mato, Tatu Canastra, também avistado nas redondezas a Jaguatirica, Onça Parda e Bugius. Animais e aves que correm sério risco de extinção por estarem cercados pela mancha urbana. A região possui remanescentes florestais do bioma Mata Atlântica com fragmentos de cerrado e vegetação rupestre que sofrerão impactos relevantes com o loteamento.
Veja neste link a narrativa integral da saga dos moradores que tentam impedir a realização do empreendimento no formato em que está sendo proposto.
OutrosLados – A assessoria de imprensa da empresa que administra a Fonte Sônia entrou em contato com o Carta Campinas, mas não quis se pronunciar nem expor sua posição até o momento.