Marselha é conhecida pelos sabonetes e aromas que produz artesanalmente. Mas o hotel exagerou. Ao entrarmos no quarto veio aquele cheiro de perfume de quinta categoria, aquele perfume de talco, desinfetante, sei lá o que é aquilo. Abrimos a janela para melhorar e com o tempo acho que nos acostumamos. O Première Classe tinha uma cama boa e uma boa ducha, o ar condicionado ótimo, mas completamente imundo na parte interna. Dava para ver as crostas de sujeira. O suporte da lâmpada que fica em cima da pia do banheiro despregou e ficou pendurado. Mas tirando isso tudo, não foi insuportável a estadia. Alguns funcionários eram bem atenciosos, mas nem todos.
Marselha é uma síntese do capitalismo. Iates aos montes, hotéis luxuosos, restaurantes caríssimos, cidade suja, com muito lixo e bituca pelas ruas. Em boa parte da Europa, como no Brasil, boa parte dos fumantes acham que bituca não é lixo e jogam em qualquer lugar. E muitos, muitos pedintes e moradores de rua.
Aliás, na Europa e, principalmente na França, há mendigos e pedintes em quase toda esquina dos centros comerciais e estações. Eles entram nos trens para pedir, restaurantes, em qualquer lugar. Até quem não precisa pedir, pede. Estava no supermercado comprando uma água, que chega a ser cerca de 1.000% mais barata do que em lugares turísticos (não é exagero), e uns garotos bem vestidos e com tênis da Nike vieram me pedir moeda. Fiquei puto com a folga da molecada.
– “je ne parle france”.
– speak inglês? Have a coin?
Nossa que folgados, pedem em inglês.
– No, no
respondi e resolvi inverter a situação:
– Je precise coins too. I am a tird world person. Je precise manjare. Do you have a coins to me? I need coins too.
Eles fizeram uma cara de interrogação e já fui indo embora.
Do hotel, era possível ir a pé até o Porto Velho, famoso pela foto da grande quantidade de barcos ancorados. É um bom local para uma caminhada a pé. De um dos lados há o monumento Porta do Oriente, como ficou conhecida Marselha. A França importava produtos da Argélia, da Tunísia e outros países pelo porto de Marselha. A religião muçulmana é muito presente na cidade e há muitas mulheres usando o véu sobre o cabelo, aquele que permite que o rosto apareça.
Do monumento é possível ir caminhando à beira mar até o Porto Velho. No caminho tem a Praia dos Catalães. É bem pequena, mas bem equipada e é possível tomar um banho de mar se tiver calor. Marselha tem belos passeios de barcos em praias paradisíacas, mas nosso orçamento não estava para peixe. Ali descobrimos o tanto que já tínhamos pagado de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Se juntar isso à ‘cotação extra-oficial’ que a empresa de cartão de crédito cobra na hora de converter, você paga cerca de 12% atualmente. E descobre que está viajando em sociedade com os bancos e com o fisco.
De Marselha, seguimos via trem de alta velocidade TGV para Barcelona. Esse foi um dos erros da viagem. Ir de Paris para Marselha e depois seguir para Barcelona. Parecia um trajeto viável, mas a SNFC nos cobrou uma fortuna para nos levar até Barcelona. Uma passagem até Montpelier e outra de lá até Barcelona. Passagem para uma pessoa: 83 Euros!
– Next time, first class (algo como “dá próxima vez, vamos de primeira classe)
O vagão inteiro deu risada.
O título do livro na minha primeira visão: ‘A führer understanding the painting of orsay museum”. Na verdade era: “A fuler understanting… (Ufa!). Provavelmente, era apenas um jovem estudioso da arte. (Tião Braskaville)
Próximo destino: Barcelona
Para ver o início dessa viagem e todas as cidades, vá a Um roteiro de 40 dias viajando bem barato pela Europa
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