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Para Dieese, reforma do ensino médio do governo Temer vai gerar mais exclusão

A reforma do ensino médio contida na Medida Provisória (MP) 746, em análise no Congresso, parte de uma leitura equivocada da realidade dos jovens que cursam ensino médio ou que já foram excluídos da sala de aula. A avaliação é do coordenador de educação e comunicação do Dieese, Fausto Augusto Junior, a partir de levantamentos para a nota técnica As transições escola-trabalho: alguns apontamentos para o debate sobre a reforma do ensino médio, lançada esta semana.

De acordo com ele, todos concordam que o jovem não enxergue atratividade na escola – um dos argumentos mais usados pela secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), Maria Helena Guimarães Castro, e outros integrantes da equipe do ministro Mendonça Filho. “Isso é indiscutível. A escola tem problemas. Mas o jovem abandona muito mais por outras razões, não porque não tenha compromisso com a escola. O jovem sabe que depende de maior escolaridade as melhores oportunidades. O problema é que eles, em sua maioria, não conseguem ficar porque têm de trabalhar”, explica.

E conforme destaca, a ampla maioria não trabalha em programas de aprendizes em grandes empresas. Estão em postos precários, com baixos salários, onde começam trabalhando sem preparo, geralmente no comércio, em consultórios ou mesmo como ajudantes de pedreiro.

“Entram em condições muito ruins. E como têm de fazer grandes deslocamentos entre a casa, o trabalho e a escola, ganhando pouco, largam a escola. E trabalham não porque querem, mas porque precisam ajudar a família. A realidade lida pela proposta do governo de Michel Temer não corresponde à real. A reforma parte de uma falsa realidade. É como se todo o aluno de ensino médio pertencesse à classe média”, destaca.

A educação em tempo integral, defendida com unanimidade por especialistas, não é acompanhada por medidas necessárias para o acesso e permanência dos jovens nessa modalidade de ensino incentivada na MP, sobretudo os de família mais pobres. “Primeiro porque essas escolas tendem a ser instaladas em regiões centrais, longe da casa desses alunos, que moram na periferia. E também porque necessitam de auxílio, como bolsas. Se você não resolve isso, do ponto de vista real, esse jovem vai ficar fora dessa escola também.”

Um dado surpreendente do levantamento do Dieese é que as meninas não são as que mais estão na escola. Segundo Fausto, a situação real é que, na verdade, elas são a maioria dos que não estão nem na escola e nem no mercado de trabalho. Uma boa parte é mãe, cuidando do filho pequeno, ou tem de cuidar de irmãos menores ou de ajudar a cuidar da casa, em trabalhos domésticos, enquanto a mãe trabalha fora. “Do jeito que os integrantes do governo argumentam, fica parecendo que o secundarista, em sua maioria, é um bando de folgados.”

O coordenador do Dieese lembra ainda que o mercado de trabalho exige atualmente profissional com múltiplas competências e habilidades, que se adapte rapidamente a mudanças. “Se o mercado de prospecção mostra-se exigente, não faz sentido antecipar essa especialização no ensino médio. Essa especialização antes dos 17 anos traz distorção na formação e acontece justamente numa época em que se desenvolve seu raciocínio lógico. Por isso, para ele, o ensino em tempo integral deveria contemplar essa necessidade, oferecendo conteúdos de formação integral e, no tempo complementar, a formação para o trabalho, mas não na perspectiva de um treinamento.

Escolhas
“Seria mais razoável introduzir o trabalho numa outra vertente, para uma escolha mais acertada. É importante fazer mudança no ensino médio. É fundamental a formação, é essencial, como indicações, aconselhamentos para a melhor transição da escola para o trabalho, que vai ter reflexos em toda a sua vida como um todo.”

Essa formação rápida proposta, conforme ele, não vai facilitar a entrada no mercado de trabalho, que tem hoje “repulsa pelo jovem” – o que explica a alta rotatividade. “O jovem fica em media de seis a sete meses num mesmo emprego, e quando sai, acaba tendo de fazer outros cursos. No Brasil, falta orientação profissional. É fundamental olhar para o ensino médio.”

Fausto defende a presença de todas as disciplinas no currículo, ao contrário do ministro Mendonça Filho. Semana passada, em congresso do Movimento Brasil Livre, em São Paulo, Mendonça afirmou não ver necessidade de um “aluno que vai estudar Jornalismo se aprofundar em Física, por exemplo”.

Nenhuma disciplina é aprofundada no ensino médio, mas introduzida, lembra Fausto. No caso de Física, o aluno tem a introdução de conceitos de mecânica, termodinâmica, eletricidade e energia. “São ensinadas noções. É uma introdução às áreas. O aprofundamento, na verdade, o estudante vai fazer com estudos complementares, leituras na internet. No entanto, se ele não tiver essas noções, não terá como aprofundar.”

Conforme compara, é como quando vamos pesquisar na internet sobre uma doença que o médico disse que temos. Ou sobre o medicamento prescrito. “Mas se não tivermos a mínima noção de biologia, você não vai entender nada do que vai encontrar na internet. Essas noções ensinadas abrem as portas para o aprofundamento. O jovem não tem mesmo aprofundamento, mas tem uma ideia, que vai permitir continuar aprendendo mais.”

Fausto critica também a transferência ao jovem dessa decisão, uma escolha muito prematura, segundo ele. Um estudo realizado na Bahia, ao longo de dois anos, concluiu, entre outras coisas, que o aluno que entra na formação profissional fez sua escolha baseada nas opções disponíveis. Ele escolhe em função do que existe. E não é verdade que vai ter gama ampla de opções: enquanto cursos de formação profissional oferecido na rede federal, por exemplo, tem de 1.800 a 2 mil horas, os propostos pela MP têm 600 horas.

Ele adverte que essas mudanças, se implementadas, vão expurgar do ensino médio os alunos que mais necessitam dos estudos, que acabarão indo para a suplência. Outros, que ficarem nesse novo ensino médio, na hora de prestar vestibular ou prestar o Enem, só terão domínio dos conteúdos da área que escolheram. Os cursinhos então voltarão a ser fortalecidos depois de anos em busca de um mecanismo mais democrático de ingresso no ensino superior.(Cida de Oliveira, da RBA)

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