Por Luís Fernando Praga
Perderam-se no breu da própria história
Grafada com mentiras tortuosas.
Pisotearam sobre as nossas rosas,
Numa vingança vã contra a vitória.
Juntos da ignorância e do rancor,
De hipócritas, de um ópio e de um juiz,
Aquela triste massa de zumbis
Marchou certeira para a própria dor.
Então estes irmãos alienados,
Viciados na falta de clareza,
Perigosos escravos da certeza
Promoveram ao trono os derrotados.
De um lado, os senhores abastados
Prometendo promessas esquecíveis,
Com seus projetos sempre inelegíveis,
E seu exército de escravizados.
Foram lágrimas, sangue, horror e tiros
E as covardes mãos da ditadura
Tornaram nossa treva mais escura
Pra não cremar seus líderes vampiros.
Munidos de fuzil, cegueira e cruz,
Obedeciam, claro, aos fariseus,
Nos odiavam em nome de Deus,
Caçavam-nos em nome de Jesus.
O povo de verdade, do outro lado,
Com mais e mais coragem pra lutar!
A justiça pairava em nosso ar!
Cientes, livres, insubordinados!
Nós ficamos do lado da cultura,
Dos líderes sem sede de poder,
Impregnamos cada amanhecer
Com o perfume de uma causa pura.
Deixamos de ser povo de brinquedo,
Estendemos as mãos aos excluídos,
Demos água e comida aos perseguidos,
E nem a morte nos fazia medo.
Nosso percurso, natural e justo,
Das artes, do trabalho e das gentes,
Era a luz da esperança aos dissidentes
Que fugiam do golpe a qualquer custo.
De um lado a opressão, miséria e fome,
Do outro se plantava, amava e ria.
A vida florescia em nosso nome,
E o mundo nos chamava de Poesia.
O novo vinha a cada novo dia,
Com paz, amor, sem dono e sem mistério,
E mais ninguém levava o golpe a sério
E aos poucos o País convalescia…