Com influências de sua terra natal, a arte de Synnöve traz cores, paisagens e situações que se inspiram na Finlândia, mas que também passam por outros lugares e pela própria experiência da artista.
Uma de suas temáticas é a expressão em suas telas, principalmente, de momentos de solidão onde as pessoas aparecem sozinhas, mas não estão, como ela diz, “sentindo-se sozinhas, sentindo solidão”. É uma espécie de estar bem consigo mesmo, com a sua própria companhia, imersos, por instantes, no seu mundo interior e experimentando certa felicidade que pode vir a partir desses momentos de solitude.
Outras vezes, os personagens estão junto a bicicletas, o que sugere uma ideia de movimento, de passagem furtiva, envolvidos por um cenário onde a artista reproduz as cores e as luzes que dançam no céu durante a Aurora Boreal, fenômeno que acontece nas regiões polares do norte.
As bailarinas são outra continuação da sua figuração do movimento e aparecem em diversos momentos da obra da artista. Em telas que tendem mais para o abstrato, as bailarinas são quase manchas de tinta na tela e as cores predominantes são mais escuras. Esse mesmo tom escuro, com variações de preto e azul e a figuração de personagens mitológicos se destacam nos quadros da fase “Luzes pagãs”.
As mesmas bailarinas desdobram uma outra discussão a respeito do próprio papel da imagem. Em uma de suas telas, uma bailarina dança no centro do quadro enquanto que, no primeiro plano, duas mãos a fotografam. Cria-se assim um jogo de imagens. Há a imagem representada na pintura da própria bailarina e há uma replicação dessa mesma imagem que aparece na câmera fotográfica.
A arte de Synnöve é, em grande medida, uma arte feita a partir de imagens, já que muitas de suas telas são produzidas com base em fotografias tiradas por ela ou por outras pessoas.
Não é outra coisa senão um conjunto de imagens disperso, diverso e conectado, o que vemos em um dos seus trabalhos. Nele, documentos da própria artista, como visto, passaporte e objetos pessoais sobrepoêm-se uns aos outros criando algo como um grande quadro de memória que parece, antes de tudo, ter sido necessário para a artista. A tela aparece como uma daquelas obras que pede para ser feita de forma que se possa, de alguma forma, empreender a tentativa de se libertar das próprias imagens afirmando-as, colocando-as todas no mesmo lugar.
Synnöve é mais uma artista do projeto Cartas Visuais, que foi contemplado no Edital ProAC nº 41/2015 “Concurso de Apoio a projetos de publicação de conteúdo cultural no Estado de São Paulo”, com a proposta de valorizar e promover a difusão do trabalho artístico contemporâneo em Campinas e região. Como parte do projeto, serão produzidos e divulgados no site Carta Campinas textos, fotografias e vídeos mostrando um pouco do trabalho de diversos artistas previamente selecionados para o projeto. (Maura Voltarelli)
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