O Sistema de Áreas Verdes Quilombo dos Palmares, local em que fica a Fazenda Roseira, deve se transformar em um espaço de proteção ambiental e a cultura de afro-descendentes, acredita a historiadora e gestora da Casa de Cultura Fazenda Roseira, Alessandra Ribeiro.
A criação do Sistema foi aprovada na Câmara Municipal, dia 1º de Junho, a partir de um projeto do vereador Carlão (PT) e agora aguarda pela sanção da Lei pelo prefeito Jonas Donizette (PSB), para que possa ser colocada em prática.
O Sistema de Áreas Verdes Quilombo dos Palmares possui mais de 59 mil m2, onde está inserida a Casa de Cultura Fazenda Roseira, que já promove uma série de atividades relacionadas à cultura afro-brasileira. “É de extrema importância para nós demarcarmos nos espaços públicos as contribuições e memórias afetivas dos afro-descendentes. E também contribui para a preservação ambiental em um momento em que as ocupações imobiliárias dessa região acabam por reduzir nossa vegetação nativa e exótica”, afirmou Alessandra, que é também doutoranda em Urbanismo pela PUC-Campinas e liderança da Comunidade Jongo Dito Ribeiro.
Para ela, a Casa de Cultura Fazenda Roseira sempre se posicionou como um Quilombo Urbano, que tem um trabalho permanente a formação, vivências e experimentos entorno da cultura negra e africana. “Campinas teve, desde as suas origens, diversas revoltas escravas, como fugas para quilombos na região, demarcando uma resistência às atrocidades escravocratas diante de uma postura senhorial muito agressiva, que, inclusive, era usada como repressão aos escravizados que vinham para cá. Ser vendido para um senhor de Campinas era entendido como correção severa. Poder no presente ressignificar essas atrocidades, com a inclusão efetiva de projetos públicos, em parceria com a sociedade civil, que atuam com essa referência cultural, é uma vitória para a comunidade negra e resultado de muito trabalho”, afirma.
Alessandra também afirma que reservar a área verde do entorno da Casa de Cultura Fazenda Roseira é parte da missão como cuidadores da Casa, pois é um local vulnerável a queimadas e aos lixos que são jogados por moradores sem consciência. “Com a aprovação deste projeto, acreditamos que poderemos ter apoio efetivo do poder público para cuidar dessa área verde de importância para o equilíbrio ambiental da região e da cidade, como também de ampliação do suporte para a manutenção da Casa de Cultura Fazenda Roseira”.
Ela lembra que há vulnerabilidades concretas na Casa de Cultura Fazenda Roseira, pois é um prédio muito antigo e que necessita de reparos e cuidados constantes. “Vemos a inserção de um projeto ampliado para área de APP (Área de Preservação Permanente), em diálogo com a Casa de Cultura Fazenda Roseira, como uma possibilidade concreta de trazer melhorias para todos. Temos propostas para essa área que, inclusive, poderá ser mais um espaço de formação, experimentos e potência para a lei 10.639/03 (lei federal, que obriga o ensino da história e cultura afro nas escolas). Essa proposta inclui fundamentalmente um vínculo entre área verde, cultura negra e africana e mitologia africana, como seus métodos e manejos produtivos voltados para o meio ambiente. Se efetivar esta proposta e tivermos possibilidades de melhorias, será, além de muito bonito, mais um espaço de passeio, lazer e conhecimento acerca dessa cultura negra para toda população de Campinas”, diz. (Carta Campinas com informações de divulgação)