Por Luís Fernando Praga
Oh, mãe, que me pariste no breu da ditadura, o teu amor me armou de um sentimento, crescido aos urros surdos da tortura, que fez da dor do mundo o meu tormento e foi como um farol na noite escura. Me entregaste um mundo de carinhos; e, neste mundo, toda mãe é filha, no mundo há armadilhas e há caminhos, no mundo, todo mundo é a família. Que bom, oh minha mãe, todo este zelo, que bom que amaste os pobres e doentes, que bom teu cafuné no meu cabelo, que bom que eu sei sentir pelo que sentes! É triste, mãe, e a mim também intriga; aquela sensação do insucesso, pois minha geração ainda abriga quem se seduza pelo retrocesso. O mundo, mãe amada, mudou tanto, porém os corações mantêm-se frios, teu riso terno aquece feito um manto e os astros que me guiam têm teus brios, mas uma amarga treva se anuncia: teus netos viverão ao som dos tiros, teus filhos temerão a luz do dia, mas nada é doce como os teus suspiros, tua lágrima é gota de poesia e, do contraste entre o doce e o sal, há de surgir a justa consciência de que querer o bem fazendo o mal aborta o ser humano em sua essência. A gratidão é tanta, mãe querida, que minha luta é um efeito da tua, sou grato por saber gostar da vida, lutar-te-ei nas letras e na rua!