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Liberdade antropofágica: caricaturas, desenhos e telas de Fabiano Carriero

Neste mês de maio, o projeto Cartas Visuais apresenta um pouco do trabalho do artista plástico Fabiano Carriero.

Um espaço criativo, tomado por muitos e diversos objetos, é o lugar no qual Fabiano dá forma à sua arte. As telas, com cores destacadas e formas livres, carregam certo tom de brincadeira que parece vir talvez da infância, igualmente nos levando de volta.

A sensualidade vibra nos retratos de mulher, uma certa boêmia aparece em telas que figuram personagens na mesa de um bar, e parece existir, em cada traço que conta uma nova história em imagens, a busca por uma linguagem ainda a fazer-se, já fazendo-se nessa busca.

No caminho artístico de Fabiano, principalmente no início, a caricatura desempenhou um papel fundamental. E da sua forma lúdica e livre, do seu gosto pela distorção, da sua liberdade ao mesmo tempo crítica e criativa, os trabalhos posteriores do artista ainda parecem ter guardado algo. Ao escolher entre poetas, músicos, personalidades artísticas em geral, os personagens de suas caricaturas, Fabiano desenvolvia também seu processo de criação.

Em uma experimentação constante de diferentes técnicas, o artista tem trabalhos em xilogravura, diversos desenhos em aquarela, as caricaturas e telas em óleo. Múltiplas formas que se tensionam e dialogam entre si traçando uma linha (des)contínua onde sempre surge algo que parece atravessar isso que ele chama de uma busca pela “brasilidade”.

Desde os poetas, escritores, músicos, dançarinos e dançarinas, homens da noite, da rua, crianças, mulheres, até chegar às representações mais recentes, resiste nas suas imagens um elemento popular, imaginativo, mediado a partir de inúmeras influências artísticas que o artista vai encontrando pelo caminho.

Chegamos então a um de seus quadros mais recentes, cujo título “Odé Caboclo Bastião” recupera tradições e crenças populares quando faz referência, por exemplo, ao Orixá Odé, do candomblé, num sincretismo que se deixa ver na própria forma e nas próprias cores do quadro. Há ali, como conta Fabiano, um desejo de volta do homem urbano, civilizado, à natureza, às raízes indígenas, um desejo de volta que conduz a um reencontro consigo mesmo – mesmo desejo que levou Mário de Andrade a dar forma ao seu Macunaíma, ou Oswald de Andrade a falar em “antropofagia” – o deglutir o outro para tornar-se o outro, para, enfim, tornar-se outro.

A proximidade do quadro com as discussões modernistas aparece também quando Fabiano diz ter sido um outro modernista, o pintor Lasar Segall, uma de suas principais influências na construção da obra.

Neste sentido, a sua busca pela brasilidade parece ser a mesma busca por uma linguagem que já não seja só aquela dos primeiros quadros, desenhos e caricaturas, mas que ainda guarde algo dela. Já para os modernistas, essa brasilidade não era tão brasileira que não pudesse ser também universal, essa volta à natureza não era também outra coisa que a volta da própria natureza.

Livre, a arte de Fabiano parece ir fazendo-se como mais uma das tantas manifestações antropófagas de nossa cultura. Ela diz: “Só me interessa o que não é meu”.

O projeto “Cartas Visuais” foi contemplado no Edital ProAC nº 41/2015 “Concurso de Apoio a projetos de publicação de conteúdo cultural no Estado de São Paulo”, com a proposta de valorizar e promover a difusão do trabalho artístico contemporâneo em Campinas e região. Como parte do projeto, serão produzidos e divulgados no site Carta Campinas textos, fotografias e vídeos mostrando um pouco do trabalho de diversos artistas previamente selecionados para o projeto. (Maura Voltarelli)

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