O apresentador Ratinho deu um chute em sua ajudante de palco Milene Pavorô | Oficial, ao vivo, no programa que foi ao ar pelo SBT – Sistema Brasileiro De Televisão, no último dia 15. Visivelmente constrangida, a integrante do elenco deixou o palco no meio do quadro Foguetinho.
Após agredir Milene – ao que parece, o chute acertou a nuca da moça –, Ratinho demostrou desconforto ao vê-la deixar o palco. “Não podemos perder a esportividade”, disse, chamando o diretor do programa. ‘Aroldo, o senhor notou que ela é uma funcionária rebelde? Providências terão de ser tomadas… Ela vai pra rua.’
Tentei publicar este vídeo no YouTube, mas o conteúdo tem direitos autorais e foi retirado do ar. Queria mostrar a que ponto chegou o entretenimento na televisão. Há um mar de mulheres lutando pelo fim da violência doméstica. A TV poderia reforçar o discurso, mas, ao contrário, faz o desfavor de mostrar o Ratinho nessa lamentável cena.
Mulheres são vitimadas diariamente em seus lares, e nem a lei que tornou o feminicídio em crime hediondo fez baixar os índices deste tipo de delito. Para reforçar o discurso machista e mascarar a agressão, o SBT culpa a mulher – atitude comum aos agressores: no site da emissora, o vídeo tem o título: “Pavorô vira caixa andante e se dá mal”. A culpa é dela, claro.
Quão infeliz o chute do Ratinho. O golpe claramente constrangeu Pavorô, a ele próprio e aos demais integrantes do elenco. Eu também fiquei constrangido. O Programa do Ratinho é veiculado em todo o Brasil. Quantos por aí não tomarão o exemplo do Carlos Massa?
E que dizer da Havan, anunciante do quadro? Se a rede de lojas patrocina ao programa patrocinou, de tabela, a agressão. Correto? Que chute o Ratinho deu em seu anunciante, não. Afinal, eu, por exemplo, se entrar numa Havan, pensarei: a loja que patrocina violência contra a mulher. Por sorte, o caso não repercutiu. O golpe afetará pouco o marketing da empresa.
Em menos de dois minutos vimos, no Programa do Ratinho, como agredir, constranger, assediar e ameaçar uma mulher. O desserviço foi veiculado em cadeia nacional, em veículo explorado por meio de concessão pública, e que deveria ser útil ao povo – e, quando falo em utilidade, não me refiro aos suspeitos testes de DNA.
A submissão da mulher no mercado de trabalho, reforçada, neste caso, pelo homem que, na imagem do diretor, diz que irá “encaixotá-la”, deve ser combatida, rechaçada e extinta, sobretudo nos veículos de comunicação de massa.
Este chute acertou a Pavorõ, mas doeu em muitas mulheres por aí. O Ratinho, o SBT e a Havan devem desculpas a todas elas. Senão, somos nós quem devemos encaixotá-los.