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Folhas de Relva, de Walt Whitman

Por Allan Lucena

“Não é maravilhoso que eu deva ser imortal? como todos são imortais,
Sei que é maravilhoso …. mas ser capaz de ver é maravilhoso também ….”

Uma leitura fluida, agradável, provocante e particularmente única. Imortal. Folhas de Relva, a primeira edição, de Walt Whitman é um primor. A linguagem é simples, sem floreios literários, sem métricas e sem preocupação com rimas, por isso os poemas de Walt Whitman conquistam, pela profundidade de suas reflexões, baseadas no que ele viu e que ainda pode ser visto, que sempre será visto, nas pessoas, nos objetos, nas profissões, nos momentos solitários de observação de um homem que falou tudo o que sentia e queria. E fez isso com maestria.

“Escuta, não dou lições nem esmolas, quando eu me dou, é por inteiro.”

Se me deparasse com o livro original da primeira edição de ‘Leaves of Grass’ (foto do post) seria uma pessoa muito feliz. Foi uma edição enigmática e desafiadora. A disposição do texto nas páginas dificultavam a leitura, os poemas não tinham um estilo de rimas nem métricas, com versos extensos e um dos maiores poemas já escritos em língua inglesa. Seu conteúdo é inigualável, primoroso e poderoso. Simples. Não havia também identificação do autor apenas no poema de abertura, mais tarde nomeado de ‘Canção de Mim Mesmo’, pois nenhum dos 12 poemas foi nomeado, em que ele se declara:

“Walt Whitman, um americano, um dos grossos, um cosmos,
Agitado corpulento e sensual …. comendo bebendo e procriando,
Nada sentimental …. alguém que não se põe acima de outros homens e mulheres
nem deles se afasta …. nem modesto nem imodesto.”

Walt Whitman foi jornalista e carpinteiro, nascido em Huntington no estado de Nova Iorque, mas mudou-se para o Brooklyn com 4 anos. Whitman quase não frequentou a escola, estudou até os onze anos e depois passou a trabalhar como aprendiz numa tipografia, passando a trabalhar como impressor e jornalista, dando aulas sobre a profissão e editando jornais semanários e diários, até que publicou Folhas de Relva em 1855, aos 36 anos, arcando com todos os custos.
‘Leaves of Grass’ teve no total nove edições, com mais 400 poemas publicados. A cada edição, ele adicionava novos poemas e fazia correções, cortes e ajustes nos poemas da primeira edição, muitas das vezes amenizando a linguagem e tirando as passagens mais polêmicas, como as que falavam sobre sexo. O próprio Whitman editava suas obras, 17 publicadas ao todo.

Pessoalmente, a principal característica dos poemas de Walt Whitman é a facilidade de expressar o cotidiano e sua dualidade com respeito e admiração, sem transformar o comum em extraordinário, lidando com tudo e todos como iguais. Como ele mesmo diz: “alguém que não se põe acima de outros homens e mulheres”, assim fazendo resplandecer as qualidades e peculiaridades do ser humano. Algumas passagens são machistas, mas não podíamos esperar nada diferente de um livro escrito no século XIX, por outro lado, o respeito de Whitman para as mulheres, suas marcas e características, sua importância como ser que dá vida é igualada a beleza que ele representa ao descrever os homens, ao apreciar seus corpos, descrevendo com bastante detalhes e prazer o corpo masculino.

Aos que apreciam poesia, Walt Whitman é um dos autores mais expressivos e batizado como criador do verso livre. Para quem não aprecia é um must read, afinal de contas, é uma oportunidade de deixar que a poesia do dia a dia fale com você, fale com sua fé e com seus sentidos, muito mais que com sua razão. A leitura se mescla e estimula a imaginação, tanto que passamos a ver as cenas, sentir os cheiros, apreciar o nascer do sol enquanto o autor narra suas sensações e fala seu pensamento com simplicidade e humildade.

“Eu celebro eu mesmo,
por que cada átomo pertencente a mim pertence a você.”

Fontes: Folhas de Relva / Walt Whitman; Tradução e posfácio de Rodrigo Garcia Lopes 2005. Edição bilíngue.

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