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Cinco motivos para que a licença paternidade seja de pelo menos 120 dias

Por Regis Mesquita

Dia 08 de março de 2016, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que aumenta a licença maternidade de 05 para 20 dias. Ainda é pouco, e não é para todos os pais. Somente os funcionários de empresas cadastradas no programa “empresas cidadãs” é que terão direito a usufruir desta nova lei. É um passo pequeno, mas importante. Abaixo listo cinco motivos pelos quais a licença paternidade deveria ser de pelo menos 120 dias.

 

1) Maternidade e paternidade como vocação e não como obrigação

A maternidade/paternidade está se tornando cada vez mais um ato vocacional. Pessoas que não se acham vocacionadas para terem e cuidarem de crianças estão escolhendo não ter filhos. É melhor que seja assim.

Tanto a maternidade, quanto a paternidade, deve ser um ato de escolha íntima e não obrigatória. Ter filhos é um ato sagrado e deve ser a opção de quem realmente está disposto a se dedicar e se entregar para este ato.

A paternidade e a maternidade devem estar reservadas, cada vez mais, para quem quer se envolver e curtir a educação e os progressos dos filhos.

Como estimular o envolvimento do pai na criação do filho? O envolvimento começa com a participação na gravidez; mas, o momento chave se dá logo após o nascimento da criança.

 

2) As primeiras semanas de cuidados com o recém-nascido são fundamentais para o pai aprender a cuidar dos filhos

Até hoje, as primeiras semanas após o nascimento das crianças têm sido um feudo feminino. Um feudo do qual o homem é constantemente excluído, mesmo que queira participar. É um momento de insegurança materna, somada a um total despreparo masculino para lidar com o cuidado com o recém-nascido.

A mulher assume todas as responsabilidades do cuidado, o homem assume algumas funções de apoio (exemplo: a mulher troca a fralda, o homem compra a fralda quando precisar). O resultado se reflete no fato de que o homem é apenas uma pequena ajuda para a mulher, que é quem realmente cuida. O homem não aprende a cuidar, tudo continua difícil e estranho para ele. Assim, ele se afasta; não desenvolve habilidades de cuidados.

Ele volta para o trabalho, a mulher fica em casa e cuida sozinha. O homem ajuda, colabora um pouco. O peso recai sobre a mulher.

Está na hora de o homem, que é pai por vocação, aprender a cuidar. Seu prazer será maior e seu envolvimento afetivo com o filho também crescerá.

O papel da mulher deve ser deixar o homem cuidar e não o desqualificar. É o momento dele aprender e quem está aprendendo tem várias dificuldades. Estimule-o. Incentive-o.

O resultado: pai que cuida dos filhos desde pequeninos é mais presente em toda a vida da criança.

 

3) Famílias enormes, com muitas mulheres para se apoiarem, estão cada vez mais raras. A mãe atual muitas vezes está sozinha.

Famílias menores significa algo importante na maternidade: a mãe agora fica sozinha ou com menos apoio das outras mulheres da família.

A união feminina que “afasta” o homem dos cuidados com o recém nascido entra em colapso por falta de apoio. Uma quantidade muito grande de mulheres não possuem mães, primas ou irmãs disponíveis para ajudá-la nos primeiros meses. Ela precisa do marido cada vez mais. Cada vez mais o marido tem que “pegar no batente” dos cuidados para compensar a falta de outros familiares femininos.

 

 

4) Criar melhores condições para superar preconceitos e melhorar o bem estar da família

O bem estar da família é muito importante para uma sociedade mais justa e equilibrada. Políticas públicas que estimulem a superação de todo tipo de preconceitos também são muito bem vindas. Neste sentido, a licença paternidade serve para ajudar homens e mulheres a superarem a dicotomia machista de que o espaço dos cuidados é iminentemente feminino.

O primeiro passo para superação deste preconceito é dar condições para que o homem esteja junto nas primeiras semanas de vida do recém-nascido. Aqueles que querem participar ativamente terão condições de fazê-lo e os outros poderão ser cobrados para terem uma participação mais ativa.

A superação deste preconceito e a vida na qual todos colaboram com o cuidado infantil são condições fundamentais para melhorar o bem estar das mulheres e das crianças.

Por fim, deve-se relembrar que casais que compartilham experiências reforçam o amor, a compreensão e a intimidade

 

5) Pais por escolha e vocação geram filhos que ajudam a manter ativa a economia de um país

O número de filhos por mulher (no Brasil) passou de 2,39 filhos por mulher para 1,77, entre 2000 e 2013. A redução foi de 26% (PNAD / IBGE – 2013).

Menos filhos, menos escolas, menos professores. Menos filhos, menos emprego na indústria e comércio de vestuário. Ou seja, crianças ajudam a ativar a economia de um país.

Um país que cuja população está estagnada ou que cai lentamente pode absorver com mais facilidade esta transformação social. Por outro lado, quando esta mudança é brusca, o país sofre graves consequências. “A Alemanha, por exemplo, já sente os efeitos desta rápida transição demográfica. Hoje ela é dependente de receber centenas de milhares de imigrantes por ano para evitar que sua economia entre em colapso”.

Pais e mães por vocação prestam um importante serviço para uma nação. Nada mais justo que seu esforço seja recompensado pela sociedade. Ou seja, eles ajudam a sociedade gerar mais emprego e dinamismo econômico, e a sociedade colabora facilitando os cuidados com os filhos.

Menos filhos em todas as classes sociais:

A pesquisa do PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – (IBGE / 2013) mostra que quase um em cada cinco casais não tem filhos (a maior parte destes casais sem filhos são das classes A e B).

Dados demográficos mostram também que houve redução da natalidade em todos os grupos socioeconômicos. O grupo que teve maior redução foi dos miseráveis que recebem os recursos do programa Bolsa Família. Esta redução mostra que quem tem melhores condições de vida escolhe ter menos filhos. (Ver: http://www.psicologiaracional.com.br/2015/04/bolsa-familia-menos-filhos.html )

Tendo menos filhos, há um menor gasto com a licença maternidade (que deveria ser de 12 meses).

Conclusão:

Está na hora de aumentar a participação dos pais na criação dos filhos. A presença mais ativa do pai torna-se cada vez mais importante à medida que as famílias tornam-se menores e os membros vivem mais distantes. A família nuclear composta unicamente por pai, mãe e um ou dois filhos, é muito pequena e a falta de participação de um membro da família jamais é suprida. Uma família pequena e equilibrada exige que todos participem de todas as atividades.

É do interesse de toda sociedade facilitar a presença do pai em momentos que ele tradicionalmente está mais distante. Superar esta barreira do preconceito e da falta de preparo é de fundamental importância. O momento mais propício para esta superação (criação de vínculo e treinamento masculino para os cuidados) são as primeiras semanas após o nascimento. Pai que acostuma a cuidar nestes momentos iniciais estará mais presente por toda a vida do filho.

Com tantos motivos positivos, a licença paternidade com mais quinze dias é um passo dentre vários outros que devem ser dados. Todos devem lutar para que a licença maternidade seja de doze meses e a paternidade de, pelo menos, quatro meses.

Dica de leitura:
Para educar seus filhos sem culpa e com paz no coração

Regis Mesquita é o autor do Blog Psicologia Racional e da coluna “Comportamento Humano” aqui no site Carta Campinas

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