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Carta aberta de uma escola fechada ao governador

Por Henrique Nunes

Caro governador, isso não vai ficar barato. O senhor sabe que para cada escola fechada milhares de corações e mentes se abrem, se unem e se comovem por mim. Mesmo sem aula, estou dando a maior lição que o país poderia receber desde a criação de cotas oferecidas pelas minhas “professoras” do ensino superior.

Meus hóspedes, aliás, não estão nessa somente porque amam minha sala, minha cozinha e, sobretudo, a minha despensa capenga que desde sempre careceu dos alimentos certos para fomentar a criatividade e a capacidade de reflexão – hoje, ofereço uma reles e rala sopa de arregramentos e condutas, receitas autoritárias com pitadas de doutrinamento e submissão.

Eles estão nessa, isso sim, porque creem que aqui, dentro de mim, passam a existir no sentido pleno da palavra. Aqui, repito, cada um deles têm ganhado voz, mostrado que não são os baderneiros que o senhor insiste em dizer e que, mesmo jovens, já descobriram a fórmula mágica da democracia.

Sou uma boa anfitriã, como se vê, e tê-los por perto integralmente escancarou todas as páginas de um livro que parece indecifrável aos seus olhos: o mesmo livro em que está escrito que reorganizar não é o mesmo que fechar e que fechar em nada contribui para o meu futuro, para o futuro do País.

Portanto, caro governador, seria um barato também recebê-lo aqui por uma ou duas noites. O senhor saberá que não se trata de jogo político tampouco algazarra juvenil: o que esses adolescentes estão fazendo, no fundo, nada mais é do que me proteger e farei o mesmo por eles enquanto esta ocupação durar. Ainda que eu seja apenas uma velhinha desdentada à espera de um milagre para sobreviver.

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