“O artista plástico projeta conteúdos para sua obra, imagina poder materializar e transmitir determinados significados. Mas, na verdade, o que um artista pode esperar é que seu trabalho suscite ressonâncias diversas, recortes desconhecidos, significados insólitos”. Com essas palavras, a artista plástica Olívia Niemeyer, que neste mês de novembro ilustra o site Carta Campinas com sua obra, integrando o projeto Carta Campinas Visuais, fala sobre seus conceitos artísticos, enfatizando as diversas possibilidades de leituras que podem ser feitas a partir de suas obras.
Como a própria artista diz, “trabalho com sobreposições, fragmentos de frases, carimbos, frottage e monotipia. Rasuro, acrescento, apago e modifico. Cito e traduzo”. Nessas múltiplas técnicas, a artista potencializa o seu trabalho artístico que transita por universos variados. Há desde desenhos tematizando a questão do tempo, usando imagens, recortes, diferentes suportes e técnicas de colagem, pintura, sobreposição e recursos gráficos, até outros onde o mote principal é a natureza e o discurso ecológico, ou mesmo o futebol.
Um processo interessante da obra de Olívia desencadeado pelos seus procedimentos de colagens e sobreposições é a revisitação feita pela artista de sua própria obra. “Fotografar imagens de livros de arte ou de meus próprios trabalhos, sobrepor camadas no Photoshop, imprimir em canvas ou PVC : essa é a base sobre a qual desenho com cuidado e descuidado, vagarosa ou distraidamente. Comprar ou fazer meus próprios gabaritos de imagens e letras, modificá-los, preenchê-los com pequenos traços, jogando com cheios e vazios. Criar pequenos seres – entre insetos, pessoas e letras – comedores de tempo”.
Em alguns de seus trabalhos, objetos próximos, ou mesmo tidos como distantes, passam a coexistir no mesmo espaço da composição o que gera uma percepção nova, agregadora, tensiva e, ao mesmo tempo, livre. Ao comentar a sua série de trabalhos intitulada Hileas, Olivia destaca nestes últimos a “oscilação, os ‘mas’, os ‘ao contrário’, aquilo que não se deixa ver sem causar dúvida, o que só se oferece, furtando-se, constantemente, ao olhar do espectador.”
Essa espécie de instabilidade da coisa representada é reforçada no seu jogo de acúmulos de imagens e sobreposições, onde uma imagem justamente não se dá a ver totalmente, ou já é outra coisa, e também por algo que poderíamos chamar de uma explosão da linha tradicional do tempo quando a artista coloca, no mesmo espaço, imagens, figuras, carimbos, objetos que não têm associação direta entre si, seja espacial ou temporal. Movimentos que tornam complexo e, ao mesmo tempo, tão fascinante seu trabalho. (Maura Voltarelli)
“Meu trabalho em artes plásticas privilegia formas interrompidas e fragmentadas, focos de dispersão e multiplicidade”.
Olívia Niemeyer
* Olívia Augusta Niemeyer dos Santos, nascida em 07 de Agosto de 1943 no Rio de Janeiro. Atualmente mora em Campinas. Formada em Língua e Civilização Francesa, mestra e doutora em Lingüística Aplicada na área de Tradução (UNICAMP). Na área de artes visuais recebeu orientação de Nair Kremer, Vera Ferro, Carlos Fajardo, Silvia Matos e Albano Afonso. Em 2012 cursa a Especialização em Artes Visuais da Unicamp. Participa de salões, exposições coletivas e individuais desde 1997. Junta-se ao grupo Antropoantro em 2002. Como tradutora, publicou ensaios em revistas e livros para Unicamp e Unesp. Participou do projeto “Traduzir Derrida: políticas e desconstruções”, organizado pelo professor Paulo Ottoni, no Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp.