O ecletismo literário da poeta, que se faz presente desde seus livros até as composições musicais eternizadas por vozes como Itamar Assumpção e Arnaldo Antunes, juntamente com a força poética que recheia suas palavras, salta do papel para o palco pela primeira vez neste espetáculo, fruto de um processo em que a artista contaminou-se pela energia literária da poeta brasileira para ganhar novos contornos e perspectivas dramatúrgicas em sua dança.
“Nada Pode Tudo” é uma extensão da pesquisa realizada por Jussara Miller com questões ligadas à investigação da construção da poética do movimento tecida pela articulação entre dança, literatura e fotografia. Um segmento criativo visitado em outros dois espetáculos da artista, como Clariarce (baseado na obra de Clarice Lispector) e Cá entre Nós (inspirado na obra de Adélia Prado), solos mais recentes da coreógrafa, ambos premiados pelo Proac.
Os ecos da palavra escrita de Alice reverberam na palavra dançada de Jussara Miller. Os textos coreográficos não se preocupam em narrar os textos escritos de Alice Ruiz, e sim em dialogar de variadas formas, pelo movimento, pelas fotografias, músicas, silêncio, pausa, presenças em cena. A construção coreográfica do espetáculo bebeu na fonte dos haikais de Alice Ruiz, forma de expressão literária nascida no Japão, no século XVI.
A concepção, criação e dança é de Jussara Miller. Já a direção, dramaturgia e cenografia ficou a cargo de Norberto Presta e a fotografia e trilha sonora são assinadas por Christian Laszlo, que fez a pesquisa das imagens que serão projetadas em cena e que se somarão aos movimentos coreográficos de Jussara Miller.
Para que a trilha sonora e as projeções dialogassem com a poesia de Alice, foi realizada uma análise das imagens e ambientações sugeridas por Laszlo para a criação do audiovisual com suas reverberações no espaço cênico, estudo este aliado a uma pesquisa de movimento para compor a coreografia. Desta forma, nascia a dramaturgia do espetáculo.
O que impulsionou Jussara Miller a entrar no universo de Alice Ruiz foi perceber a sua inquietude como mulher, sua sensibilidade como ser humano em cada palavra, em cada verso, os detalhes, o simples, ou melhor, a complexidade da simplicidade. Segundo a coreógrafa e bailarina, tudo isto é muito presente na obra de Alice Ruiz e foi isto que a encantou. A escolha da poeta brasileira possibilitou à bailarina explorar as fronteiras dramatúrgicas da dança contemporânea, abrindo frestas e novas possibilidades desta pesquisa em constante movimento, acolhendo o desejo de dar continuidade e profundidade nas investigações, reflexões e reformulações de procedimentos dramatúrgicos a cada nova criação.
“NADA PODE TUDO é contaminado pela poética da palavra de Alice Ruiz e pontua a linguagem escrita na posição de limite entre o dizível e o indizível, com a sutileza e precisão de sua abordagem sobre o exercício fundamental da reflexão, observação e apreensão a partir de uma percepção instantânea do momento presente”.
O Projeto foi realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura – Programa de Ação Cultural – Proac 2014.
Além da apresentação do espetáculo, Jussara ministrará a oficina “A Escuta do Corpo” que propõe a exploração dirigida do movimento a partir da investigação do corpo sensível com o uso de vetores que potencializam o movimento pelo espaço. Será trabalhado o estado de dança com enfoque na escuta do corpo, contextualizando a preparação do corpo cênico a partir do referencial somático com a prática da Técnica Klauss Vianna.
A oficina é direcionada a dançarinos, atores e pessoas interessadas em dança e acontece no Salão do Movimento, na Rua Abílio Vilela Junqueira, 712, no dia 16 de outubro, das 17h às 19h. A atividade é gratuita. Estão sendo oferecidas 15 vagas a serem preenchidas por ordem de inscrição no email isarazera@gmail.com. Informações pelo telefone – 3287-8861. (Carta Campinas com informações de divulgação)
Ficha técnica
Concepção, criação e dança: Jussara Miller Direção, dramaturgia e cenografia: Norberto Presta Fotografia e trilha sonora: Christian Laszlo Assistência coreográfica: Cora Laszlo Figurino: Renata Siqueira Bueno Desenho de luz: Cristiano Pedott Operação de luz: Cristiano Pedott e Lucas Rodrigues Arte gráfica: Ian Takaes Edição de imagem: Igor Capelatto Projeto cenotécnico e sonoplastia: Christian Laszlo Produção: Isabela Razera – Cais das Artes Produção geral: Salão do Movimento Assessoria de Imprensa: 7 Fronteiras Comunicação
“NADA PODE TUDO”
Projeto Proac
Dia 15 de outubro, quinta-feira, às 20h
TEATRO JOSÉ DE CASTRO MENDES
Praça Corrêa de Lemos s/nº – Vila Industrial
Entrada gratuita
Faixa Etária:Livre
Duração: 50 minutos