ag brA frase “bandido bom é bandido morto” é uma sedutora política de segurança pública porque apela para o lado emocional, principalmente de quem já foi vítima ou presenciou uma situação de violência.

Mas não precisa ser tão radical, basta estabelecer uma política de segurança pública em que toda a questão de segurança deve ser resolvida pelo policial que está na rua.

A lógica dessa política é: se armarmos bem nossa polícia, vamos acabar com os bandidos. É tão irracional quando perversa e falaciosa. Ou seja, só a UTI resolve o problema da violência.

Por trás dessa política de segurança há alguns dogmas.

Entre eles, o de que não é a sociedade e sua organização desigual que produz os marginais e bandidos que enfrentam a polícia. Bandido é sangue ruim e não tem solução. Muitos que defendem essa política acreditam em Deus, um Deus que coloca exclusivamente nos bairros pobres da periferia os sangue ruins.

Outro dogma é de que matando e prendendo vai se diminuir a violência nas cidades. É possível que se consiga reduzir a violência dessa maneira, mas não em uma democracia. É preciso estabelecer um regime autoritário, de terror, suspender direitos civis, estabelecer uma de guerra civil total e legalizar grupos de extermínio para poder baixar a violência. Talvez se consiga alguma queda assim, ao custo da violência total do Estado. Algo muito pior do que a polícia faz hoje nas comunidades pobres.

Esse pensamento de combate a violência armando policiais e sendo conivente com grupos de extermínio é feito há quase 50 anos sem resultado, desde o regime militar, como mostra estudo do Anpad.  “Na América Latina, durante a década de 1960, (Klare & Stein, 1974; Mazzei, 2009; Morris, 2010; Oude Breuil & Rozema, 2009), no contexto dos regimes militares, surgem esquadrões da morte instituídos como organizações com a finalidade de atender aos interesses dos governos autoritários”. Ou seja, não foi algo exclusivamente brasileiro.

Radicalmente contra esse pensamento estão aqueles que colocam o soldado de rua, o PM, como um criminoso que mata por prazer, sem que se tenha conhecimento de sua própria construção como exterminador. Acreditam que punindo um policial vai resolver a questão. Depois de uma semana, aparece outro crime cometido por policiais. Assim como se produz criminosos na periferia pobre e abandonada pelo Estado, também se produz policiais criminosos dentro do Estado para combater nas periferias.

As pessoas querem isso? A indústria bélica e de segurança quer isso para lucrar mais? Vivemos este padrão nas maiores cidades do Brasil, Rio, São Paulo, Vitória, Belo Horizonte.  Soldados armados até os dentes em camburões, alucinados na adrenalina, alertas o tempo todo, suspeitando de todos, sabendo que correm risco a qualquer instante e que não podem ter descuido. Não é uma situação de guerra? Como evitar que matem e morram? Impossível.

No primeiro semestre de 2015, o número de policiais mortos em São Paulo foi 22% maior do que no mesmo período do ano passado. No ano passado, 139 PMs foram assassinados. E vão continuar morrendo e matando porque a lógica do “bandido bom é bandido morto”  não é só uma forma de matar inocentes e bandidos, mas também uma ótima ideologia para matar policiais que estão na rua.