Nas últimas semanas, os principais jornais e revistas elegeram Eduardo Cunha (PMDB-RJ) seu Homem de Bem preferencial. Tem sido objeto de perfis humanizando-o, de reportagens mostrando sua garra, denodo, inspiração, transpiração.

Eduardo Cunha
Deputado Eduardo Cunha (PMDB)

Definitivamente transformou-se em herói da mídia, assim como outras figuras irrepreensíveis, como o Ministro Gilmar Mendes do STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-MInistro Ayres Brito – que teve um genro e um ex-assessor suspeitos de negociar sentenças -, como um dia foi o ex-senador Demóstenes Torres, o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, o ex-governador de São Paulo, José Serra.

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O Mito dos Homens Bons consiste em tratar aliados como figuras impolutas, competentes, mesmo que seja o maior mandrião da República.

Consagrado pelo moralismo da mídia, o deputado Eduardo Cunha, é alvo de 23 processos no STF.

É conhecido da imprensa desde o governo Collor, quando foi colocado na Telerj por PC Farias. Depois de PC, tornou-se um operador político atuando para quem solicitasse, do deputado Francisco Dornelles ao ex-governador Sérgio Cabral.

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Provavelmente é o pior exemplo político da República, o mais ostensivo caso de impunidade atual, o maior negocista da Câmara, o parlamentar que mais recebeu contribuições empresariais, permitindo-lhe eleger uma bancada particular.

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Em 2009, Cunha foi indicado pelo governador fluminense Antonio Garotinho para dirigir a Cehab (a companhia habitacional de estado) como parte da cota dos evangélicos.

Seus companheiros de empreitada foram  Jorge La Salvia, argentino, ex-procurador de PC Farias e indiciado em inquéritos juntamente com Cunha; advogado Carlos Kenigsberg, assim como Salvia próximo do araponga Telmo (principal suspeito dos grampos do BNDES, nos anos 90) e do traficante Abadia.

Tanto o deputado Francisco Silva, evangélico, quanto Abadia, foram acusados de esconder de forma fraudulenta imóveis de Cunha, para escapar dos leilões da Justiça.

O Tribunal de Contas do Estado estava prestes a rejeitar as contas quando chegaram documentos do Ministério Público Estadual inocentando-o (e aos demais diretores) de qualquer suspeita de fraude.

Tempos depois, o  MPE constatou que os documentos tinham sido falsificados pelo então Procurador Geral do Estado, Elio Fischberg.

O processo foi desmembrado. A parte que não tinha foro privilegiado ficou no Rio. Lá, o Tribunal de Justiça condenou  Fischberg a três anos, 10 meses e 11 dias de reclusão e à perda sua função pública.

O processo de Cunha ficou no STF, onde o MInistro Luiz Fux – afilhado político do então governador Sérgio Cabral – contrariando todo seu histórico de julgamentos, “matou no peito” o processo e beneficiou Cunha. .

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Tempos depois, envolveu-se em um esquema pesado de sonegação de impostos sobre a gasolina que resultou em novos inquéritos e uma CPI na Assembleia Legislativa do Rio. Na outra ponta da fraude, o grupo que havia adquirido o controle da refinaria de Manguinhos.

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Por ocasião de um de seus escândalos – o da Cehab – Cunha justificou seus gastos (incompatíveis com a renda declarada) com base em um suposto empréstimo do Banco Boreal.

É esse o parlamentar para quem os grupos de mídia pretendem entregar o comando da Câmara Federal. (Do GGN)