Concluí, nesta semana, uma pós-graduação na área de animais silvestres e exóticos. São aqueles mais exóticos que o gato e mais silvestres que o cão. Só consigo enxergar benefícios em ter feito esse curso e agradeço a todos os envolvidos. Todos estão envolvidos.
Me atualizei sobre procedimentos que desconhecia, aprendi particularidades sobre várias espécies, adquiri conhecimento técnico, exercitei a cidadania e a humanidade.
Aprendi que os coelhos não gostam de chão de cimento e nem adoram cenoura. Que calopsitas não devem assistir às novelas da globo, pois é conveniente que durmam com o por do Sol, além do que, não recomendo o conteúdo. Aprendi que quanto maior minha autoconfiança, maior o risco de errar ao me supor melhor do que sou.
Aprendi que papagaios vivem muito, quando não comem girassol, nem pizza, nem bebem café ou refrigerante. Que os ferrets, que são furões que já vêm castrados, são bonitos e divertidos, mas têm problemas com as adrenais, com o pâncreas e com todo o respeito, cheiram mal.
Aprendi que aranhas podem ser apreciadas como animais de estimação e que é possível fazer transfusão de hemolinfa para salvar a vida de uma aranha anêmica. Que um camundongo de R$10,00 tem valor imensurável para quem o ama. Aprendi que a vida é o bem mais valioso e não custa dinheiro, como são os bens mais valiosos da vida.
Aprendi que chinchilas gostam de uvas passas e de frio. Que as serpentes gostam de calor e preferem presas vivas. Aprendi que as aves são muito delicadas, mas poderosamente livres quando permitimos que elas voem.
Entendi que os roedores são prolíferos, mas os humanos fazem o que podem. Que não há limites para a superlotação do metrô paulistano. Que as crias, quando nascem, são encantadoras e que as mães gestantes carregam algo de muito encantador além das crias.
Aprendi que o macaco é um primata não humano com o olhar de primata humano. Que não deve comer apenas bananas e que é mais feliz quando tratado com dignidade.
Aprendi que professores são seres humanos e que o ser humano é só mais uma espécie que divide este planeta com tantas outras. Por isso a humildade é uma condição que cai tão bem no ser humano e nos professores também. Aprendi que se percebo falta de humildade em alguém, posso estar percebendo errado, mas será sempre um bom motivo para que eu atente à minha própria falta de humildade, a única sobre a qual eu tenho algum poder. Descobri que não sou melhor do que ninguém e que isso me aproxima de todos, da forma mais maravilhosa possível.
Adorei saber que as rãs são muito simpáticas. Que os ratos são dóceis, carinhosos e inteligentes e que coelhinhos fofinhos podem morder a mão que os alimenta. Aprendi que o que salva a vida de um animal pode levar outro à morte. Aprendi que tolerar as diferenças não me torna um diferente e respeitar as individualidades é essencial e só pode fazer bem à coletividade.
Reforcei a crença de que a amizade vai além da presença física. Aprendi que a amizade faz a vida ser mais leve. Que ser amigo de si mesmo não tem que te fazer inimigo de ninguém e ainda faz com que os amigos sintam como são mais belas as amizades leves.
Aprendi que a resposta mais rápida nem sempre é a mais sábia. Que o desconhecido é o lugar onde podemos encontrar as repostas que procuramos, além de outras respostas bônus. Aprendi que a ignorância humana pode causar tanto mal aos animais, quanto a própria maldade humana. Que toda sombra pode ser iluminada, mas toda luz cria uma nova sombra. Aprendi que o “caminhar” é mais importante do que o “chegar lá” e que conhecer nunca chega ao fim.
Pude perceber que, se somos bons em improviso, também temos uma boa tecnologia no Brasil. Descobri que tenho colegas dos quais muito me orgulho, que realmente amam os animais e a medicina veterinária. Que realizam trabalhos inacreditáveis e valiosos com as mais diversas espécies em todos os cantos do mundo e isso os torna grandes exemplos. Que por trás desses profissionais há pessoas passíveis de dúvidas e erros, o que os iguala a todas as outras pessoas.
Aprendi que quando ajudo um animal ou quando alguém sorri pra mim, meu dia fica melhor. Que todo bicho pode sentir dor e que minha função é tentar aliviar. Aprendi que não há uma forma única para se agir corretamente.
Soube que até a mais notívaga das corujas precisa do Sol para sobreviver. Aprendi que viver cinco anos em liberdade é mais completo e importante para a espécie do que vinte anos em cativeiro. Aprendi que na maioria das vezes, um peixe doente é reflexo de uma água doente. Aprendi que estragamos muitas coisas em que nem deveríamos ter colocado nossas mãos, mas que a natureza sobreviverá a nós.
Aprendi que a onça anestesiada deve estar sempre entre você e a parede. Você, sempre entre a onça e a porta. A porta, sempre aberta. Os curiosos, sempre fora do caminho, mas sempre abertos ao novo. E as pernas, sempre bem treinadas.
Aprendi que a galinha nasceu antes do ovo, que o lagarto teiú adora ovos, que o hamster adora grãos e que eu adoro torresmo, mas que isso não nos faz tão bem assim. Que o excesso pode ser pior do que a carência e que a obesidade mata mais que a subnutrição.
Aprendi que seriedade é tudo, mas a zoeira é fundamental. Que a melhor piada é a que faz rir sem deixar ninguém triste. Compreendi que as aves têm sacos aéreos, cobras têm hemipênis (e dois, ainda por cima) e eu não tenho saco para slides depois do almoço.
Aprendi que o veterinário também gosta de cultura, música e lazer. Que as manhãs não são lendas. Que as tardes são longas e quentes. Que as noites me protegem. Que o tempo é curto e frio e que as cervejas e as individualidades relativizam tudo. Mas que para ser feliz num happy hour, a vontade de ser feliz conta mais do que a vontade de cerveja.
Aprendi que decorar doses de medicamentos é menos importante do que decorar que é preciso ter bom senso. Que o melhor ensinamento é o que faz pensar. Que o melhor mestre é o que aprecia ensinar e que tudo o que aprendi só fará sentido se eu não guardar para mim, mas compartilhar de alguma forma.
Aprendi, muito, que muito falta para eu aprender. E que após a pós, eu quero é aprender mais…