A nova política

A nova política

Vai parecer muito pouco original que eu proponha uma nova política, já que os velhos políticos agora juram representar a nova política. Pode ser também que alguém considere minha ideia imbecil, me chame de idiota, beócio, cretino, monstro, vendido, mal intencionado, descerebrado, múmia, ladrão, cego, pelego, chefe de quadrilha, cagão e outras coisas que prefiro não citar porque minha mãe lê essa coluna. Mas não ligo, já que, independente de quem seja meu candidato, “ele” ou “ela”, no mínimo entre 30 e 40 milhões de brasileiros já pensam essas coisas feias de mim.

É triste acompanhar nas redes sociais o efeito que as diferentes certezas geradas pela polarização política traz nessa época eleitoral. Não basta que os dois candidatos, já bem doutrinados na velha política se ofendam e troquem acusações o tempo todo, nós, os principais dependentes da união popular e interessados na transformação social também nos dividimos em blocos que inutilmente tentam mostrar o quão incomensurável é a debilidade mental do outro. Criam-se animosidades, findam-se amizades e nada de positivo provém dessa forma de demonstrar indignação.

Minha proposta é focar em propostas e em ideias. É cobrar, de quem quer que seja eleito, as ações para concretizar tais propostas. É não criarmos pretensos deuses ou demônios. É ter memória e coragem de mudar, numa próxima eleição, caso não tenha se sentido bem representado por seu candidato. É criar um vínculo não partidário ou pessoal, mas um vínculo ideológico, porque partidos e pessoas mudam conforme as conveniências, as ideias ficam.

Uma análise serena, racional e isenta de ódio é essencial para se quebrar o ciclo de privilégios e desmandos em que esse sistema político e econômico nos envolveu. Não queremos políticos hipócritas que se ofendam para depois se abraçar como melhores amigos. Queremos os que se ofendam, sinceramente, ao ver seu povo sem saúde, sem instrução, sem natureza, vitimado pela desigualdade e pelo ódio.

A inflexibilidade e a falta de respeitar os motivos e imperfeições alheias nos traz a noção de que nossos diferentes são nossos rivais e inimigos, o que é ilusório e inútil. Somos simplesmente diferentes e isso é rico e natural. Não há monstros e nem fantasmas, “ela” e “ele” são seres humanos aprendendo a evoluir, como todos e precisam mais de nós do que nós deles. São crianças mimadas sustentadas por nós e pelo ódio que nos divide. Nem “ele” e nem “ela” tem a intenção de destruir a nação. Nem “ela” e nem “ele” tem condições de consertar todos os problemas. Devemos lembrar que campanhas milionárias, como são as duas em questão, além de ser um contrassenso nesse país cheio de carências, geram mandatos mais comprometidos com a retribuição de favores aos financiadores de campanha do que com o benefício do povo. Possivelmente haja um melhor, mas certamente não há um consenso.

Da infeliz e irracional certeza sobre o que não se pode estar certo, surge o sentimento de diminuir quem vota diferente. Entenda que se você reivindica um país melhor e crê que esse caminho passe pela educação, é conveniente começar por se educar antes de impor sua posição ao eleitor do candidato adversário. Por detrás das piores ofensas entre os políticos, reside a intenção de desunir e polarizar o povo e assim perpetuar esse sistema mentiroso.

Se alguém votou no Piririca e você acha errado, vote em outro. Seu ódio por ele não o fará mudar de ideia. Empunhe a bandeira da reforma política, da não obrigatoriedade do voto e perceba que, se pessoas não fossem obrigadas por uma lei tendenciosa a sair às urnas no domingo, o Piririca não teria uma votação tão expressiva. Não se coloque no topo do conhecimento político para lançar do seu olimpo aquele discurso manjado de “Claro, não votam certo, infelizes! Não merecem pisar o solo que piso. Esses ridículos não politizados são o motivo para que o país se encontre nessa condição. Têm mais é viver na merda mesmo.” Não nos contagiemos pelo calor das palavras de ambos os lados, quem ocupa seu tempo apontando defeitos nos outros é no mínimo suspeito. Lembro Freud, “Se Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”.

Quero poder defender minha opinião sem ridicularizar a opinião alheia. Aceitemos que haja quem se sinta melhor representado por um do que por outro. Não tornemos inimigos aqueles que deveríamos ter como aliados, apenas para defender um político ou um partido. Não, eu não quero destruir minhas relações humanas para defender quem se utiliza de xingamentos e meias verdades para continuar mandando na gente. A nova política é o respeito ao ser humano e às diferenças. Fiscalize o seu candidato mais que o do seu vizinho. Que o vencedor possa fazer algo de bom e que isso seja reconhecido, continuado e melhorado. Que os erros apareçam, para que possam ser conhecidos, explicados, corrigidos e evitados no futuro. Ambos têm qualidades e defeitos e há pessoas incríveis, de bom senso, esclarecidas, sensíveis, inteligentes e respeitáveis defendendo cada um destes lados tão opostos.

P.S.: Caso tenha se sentido ofendido pelo teor desse texto, favor não perder a amizade…

Comente