O Instituto de Economia da Unicamp, dirigido pelos professores Fernando Sarti e Marcelo Weishaupt Proni, publicou nesta terça-feira (16), uma carta aberta em resposta a Alexandre Rands, empresário e assessor neoliberal da candidata à presidência Marina Silva (PSB). Ele criticou o Instituto em entrevista.
Na carta, o Instituto afirma que jamais se subordina “aos interesses menores, privados e corporativos que conspiram contra coragem de pensar e ousar, de querer um país soberano, com o pleno exercício da cidadania e da busca incessante da justiça social. Só assim, devolvemos à sociedade, na forma de conhecimento e de prestação de serviços qualificados e de utilidade pública, o que recebemos em recursos e investimentos, buscando corresponder à confiança em nós depositada”. Veja carta aberta integral abaixo:
Carta Aberta do Instituto de Economia da UNICAMP
O Instituto de Economia da Unicamp vem a público reiterar seu compromisso com o Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil.
Defendemos e exercitamos a qualidade e pluralidade do debate acadêmico e político e refutamos todas as agressões infundadas e levianas à nossa instituição por motivações ideológicas, partidárias e eleitorais.
A construção da Escola de Pensamento da UNICAMP deve-se à determinação e coragem de um pequeno grupo de intelectuais e pesquisadores que ousaram, há mais de 40 anos, desafiar as visões econômicas convencionais, conservadoras e tecnocráticas existentes e de forma criativa e crítica repensar e reinterpretar o desenvolvimento econômico e social brasileiro, com base inicialmente nas contribuições de pensadores cepalinos como Celso Furtado, Raul Prebisch, Ignácio Rangel, Aníbal Pinto, entre outros. Esse esforço intelectual promoveu uma profunda revolução na história do pensamento econômico e no ensino de economia no Brasil.
Desde então, novas e importantes contribuições teóricas, críticas e interpretativas incorporaram e integraram diversas matrizes teóricas (marxista, keynesiana, schumpeteriana), com elevado nível de qualidade e merecido reconhecimento por parte da comunidade científica e acadêmica nacional e internacional. A Escola de Campinas nunca se limitou ou se subordinou a um único paradigma teórico e se notabilizou por construir uma interpretação teórica própria e inovadora dos problemas econômicos e sociais brasileiros.
O Instituto de Economia, ciente de seu papel crítico no debate acadêmico econômico, tem ampliado consistentemente seus canais com a sociedade acadêmica e científica nacional e internacional, estimulando a realização de seminários e a celebração de convênios e projetos de pesquisa com várias e prestigiosas instituições, bem como a maior participação de nossos docentes e discentes em programas internacionais.
Temos convênios acadêmicos com inúmeras universidades latinoamericanas, europeias e norte-americanas. A título de ilustração, recebemos recentemente a visita de consagrados pensadores e pesquisadores com quem temos debatido a questão do Desenvolvimento: Peter Evans (Berkeley, EUA), Philip Arestis (Cambridge-Reino Unido), Claude Serfati (Versailles-Sainta Quentin-França), Giovanni Dosi (Scuola Superiore Sant’Anna, Itália), Gary Dimsky e Giuseppe Fontana (Leeds-Reino Unido), Jan Kregel (Levy Economics Institute – EUA), Roberto Frenkel (UBA-Argentina), Sebastian Dulien (HTW- University of Applied Sciences Berlin-Alemanha), Pierre Salama (Paris XIII-França), Robert Wade (London School of Economics – Reino Unido), Guy Standing (SOAS – Reino Unido), Robert Brenner (UCLAEUA), Thomas Palley (EDOS – Economics for Democratic & Open Societies), Ronald Dore (London School of Economics-Reino Unido) e Geoffrey M. Hodgson (University of Hertfordshire – Reino Unido), entre outros.
O Instituto de Economia destaca-se pela qualidade no ensino e na formação crítica e abrangente dos nossos alunos de graduação e pósgraduação, fornecendo profissionais capacitados para o setor privado, para os órgãos e empresas públicas e para a atividade acadêmica. Nossos mais de duzentos e cinquenta alunos de pós-graduação, entreos quais contamos vários estrangeiros, são merecedores de inúmeros prêmios por suas teses e dissertações e apresentam seus trabalhos em centenas de eventos científicos no Brasil e no exterior, bem como realizam estágios, intercâmbios e programas de doutorado sanduíche em reconhecidas universidades estrangeiras. Esse esforço é reconhecido nas avaliações criteriosas e insuspeitas das agências públicas e na posição de destaque do Instituto de Economia da Unicamp nos principais rankingsacadêmicos públicos e privados.
Do ponto de vista acadêmico, somos um dos mais importantes centros de geração, apropriação e difusão de conhecimento em teoria econômica e economia política. Estamos inseridos ativa e criticamente no debate econômico nacional e internacional. Nossos docentes participam de inúmeras redes de pesquisa nacionais e internacionais e, apenas no último ano, divulgaram seus trabalhos em mais de uma centena de prestigiosos eventos internacionais. Nossa produção intelectual é amplamente veiculada em livros, revistas acadêmicas, artigos de jornais, entrevistas e novas mídias.
A dimensão política é outra atribuição estratégica do Instituto de Economia, a partir da intensa contribuição e participação de seu quadro docente (e também de nossos ex-alunos) em todos os níveis de governo, em diferentes administrações, e em instituições internacionais (Cepal, BID, Banco Mundial, Unctad e FAO).
As profundas mudanças globais nas estruturas financeiras, tecnológicas, produtivas, comerciais e de trabalho mais do que nunca exigem de centros formuladores de conhecimento, como o Instituto de Economia da Unicamp, novas ideias e interpretações críticas do desenvolvimento econômico e social brasileiro e global e do papel do Estado nesse processo.
O Instituto de Economia sempre manteve, mantem e manterá um diálogo aberto, construtivo e de alto nível com vários segmentos organizados da sociedade brasileira, na perspectiva de contribuir para uma discussão séria reconhecimento dos nossos erros e limitações. Mas jamais nos subordinaremos aos interesses menores, privados e corporativos que conspiram contra coragem de pensar e ousar, de querer um país soberano, com o pleno exercício da cidadania e da busca incessante da justiça social. Só assim, devolvemos à sociedade, na forma de conhecimento e de prestação de serviços qualificados e de utilidade pública, o que recebemos em recursos e investimentos, buscando corresponder à confiança em nós depositada.
Atenciosamente, Direção do Instituto de Economia da Unicamp