Quando se fala em arte, seja ela poesia, pintura, música, se fala em estilo, um tom que cada artista possui, em outras palavras, o que está em questão em uma obra de arte é sempre uma linguagem, a forma específica com que cada artista se relaciona com a sua época e imprime essa época, com seus conflitos e contradições, na obra de arte.
O artista que ilustra o site Carta Campinas neste mês de agosto, como parte do projeto Carta Campinas Visuais, imprime em suas obras uma linguagem feita de símbolos e elementos bastante específicos, na qual se deixa ver uma interpretação artística bastante particular do homem e do seu tempo.
Paulo Cheida Sans nasceu em Campinas, doutor em Artes pela Unicamp, professor do curso de Artes Visuais da PUC-Campinas e fundador do Museu Olho Latino, localizado em Atibaia, SP, aos seis anos o artista, que desenhava com bico de pena e nanquim, já tinha seus desenhos publicados em jornais de Campinas e já era dono de um grafismo próprio.
Influenciado pela mãe e também pela avô, Paulo Cheida construiu ao longo dos anos uma carreira com muitas exposições, nacionais e internacionais, curadorias, eventos, e também trabalhos de pesquisa em educação e arte, dividindo-se em três vertentes: artista plástico, curador e teórico. Como artista plástico, Paulo Cheida já recebeu cerca de 50 prêmios e condecorações e possui mais de 500 exposições no currículo, sendo, no exterior, 80 delas, aproximadamente.
Entre tantas pinturas e gravuras já produzidas pelo artista destacam-se alguns elementos que se repetem, como é o caso da gravata. Algumas vezes no seu lugar tradicional, ao redor do pescoço de homens e tantos outros personagens, outras vezes caída sobre o chão, insistente, entretanto, em enrolar-se na perna ou qualquer outra parte do corpo de quem a leva.
Entre gravatas, formas arredondadas, cores e tons expressivos que potencializam certa ironia da representação, as imagens de Paulo Cheida parecem colocar sempre o homem como protagonista, o homem invariavelmente sozinho, mesmo que dividindo o espaço da tela com outros personagens. As amarras, simbolizadas com cordas nos quadros “Amarras I” e “Amarras II”, mais do que impedir o acesso de um homem a outro, parecem demarcar a separação, o abismo que existe entre eles. Imerso em seu mundo particular, destinado às amarras ou às gravatas, um homem não se reflete em outro, pelo contrário, cada expressão se acentua em sua individualidade, como no quadro “Figuras”, onde cada rosto existe em si mesmo compondo uma imagem múltipla, que dá a impressão de ser feita de vários quadros.
As esferas que margeiam muitas de suas composições e estão, outras vezes, no centro figurativo das obras, também transmitem a ideia de um mundo particular, cerrado e coeso em si mesmo. Assim temos em “Olhar enigmático”, um homem que parece pilotar algo e um par de olhos a fitar diretamente o espectador da obra e que parecem ser os próprios olhos do homem refletidos em um espelho, mas que, no entanto, se mostram radicalmente separados, isolados de quem os projeta, solitários.
(Maura Voltarelli)