1) Oração:
Oro para saber o que pedir, e peço que meus olhos possam ver mais Sóis, amores, vidas a nascer e mais manhãs nos campos, flores a florir. Pois amanhãs são hojes sem saber e o que plantamos ontem sem querer, querendo ou não, teremos que colher. Oro para que cada ser humano aprenda a não pedir para ter mais, isso é igual passar alguém pra trás e é o que faz o mundo desumano. Que algum poder possa dar fim aos poderosos, e torne claro o vício do poder, esclarecendo pra fazer crescer e gere líderes menos odiosos. Também não cuidarei do Deus de mais ninguém, que o Deus que houver que seja natural e transcendendo a ilusão de bem e mal, naturalmente há de cuidar de mim também. Que eu viva sem ter medo de viver e siga com meus passos imprecisos e que aprender norteie os meus juízos, pra quando a morte me levar que eu possa ser, um bom e orgulhoso adubo biológico, que o que sobrar de mim faça sorrir a alguém, traga um querer que é só de querer bem, que eu vagarei feliz se eu for um eco, um eco lógico.
2) Dom da Dúvida:
Deus há de me perdoar,
Se em minha teimosia de ser gente,
Eu possa crer na paz, no amor, na dor, no ar,
Mesmo estando tão longe de ser crente.
Deus há de me perdoar,
Se eu não temo dizer que não entendo a Deus,
Se me foi dado o dom de questionar,
Se eu não censuro os raciocínios meus.
Ele certamente há de entender,
Que o tempo que se perde em Tal certeza,
Foi feito pra aprender, não pra perder.
E que se são certezas tão diversas,
Será pecado que eu duvide destas?
Quem sabe seja a dúvida uma dádiva?
E a dívida se deva a tanta fé?
Oh, Deus, que me plantou a incerteza,
Se não cultuo o culto à santa sé,
Vasculho pelo oculto, adoro a Natureza,
Também tenho meu Deus, não sei quem Ele é.
3) E que assim seja:
Morri assim que vim sem vírgula pra se parar
Morri porque é o fim de todos do lugar
Morri muito feliz da vida que vivi
Morri amando aos meus.
Morri negando a Deus
E em meu adeus ateu eu não sofri
Morri amando as nossas diferenças
Amando os pretos os pobres e as putas
Morri contagiado pelas lutas
Morri despido de antigas crenças
Morri negando as guerras e os reis
Sem odiar guerreiros ou a realeza
Morri amando as gentes e a natureza
Amando viciados marginais e gays
E se morri mais livre foi também
Por morrer sem cobrar nada de ninguém
E com o único medo de verdade
De me tornar escravo da vaidade
Vivi errando pelas madrugadas
Impregnado pelo cheiro das estradas
Vivi sem ter que possuir a esmo
Porque vivi amando a mando de mim mesmo
Sem vírgula pra separar ninguém de mim
Quando eu morrer quero que seja assim!
4) Entrementes:
Recolho-me pro meu interior pra descobrir a parte do mistério que meu desejo transformou em dor e congelou-me num semblante sério. Labirinto-me dentro a me buscar, na escuridão da condição humana, claustrofobicamente e sem ter ar, me fortaleço nessa cena insana. Descubro minhas partes encobertas na ignorância desses tantos anos, que disfarçada de escolhas certas, mantinha-me cativo em meus enganos. Arrebento a amarra que me ancora. Dogmas boiam sobre um mar azedo. O ar puro venta e me leva pra fora e sinto me sentir sem sentir medo. Me experimento em nova consciência, reparo a sombra que me aprisionava, frágil tirana, mãe da violência que ainda mantém a humanidade escrava. Hoje esta sombra me faz marginal. Viver à margem dela me faz bem. Quase fui um fantoche social, não desejo esta sombra pra ninguém. Ainda há muito que me conhecer em incursões que nunca cessarão, pra todo o preconceito perecer e eu ver em cada um, mais que um irmão. Estou rumando pra saber quem sou e ainda sinto uma parte oprimida, mas a mentira que me alienou, morreu pra eu enxergar melhor a vida. Sei dos perigos que a certeza leva, minha verdade é só tênue linha, quem quiser crer no deus de Adão e Eva, querendo ou não, também é parte minha. Eu já não creio mais nesse futuro que deuses e políticos prometem, viver no agora, agora é mais seguro que viver de esperanças que derretem. Que todos busquem sua alquimia, o indivíduo faz a sociedade e sociedade sem hipocrisia é o lar da mais perfeita liberdade!
Hoje o meu semblante sorri mais, qual um crente que crê…
5) O Poder da Palavra:
Quero afirmar a minha estupidez,
Um imperfeito eterno eu me proclamo
E me sinto menor a cada vez,
Que sou cruel com os que mais eu amo.
Nos milímetros daquilo que eu aprendo,
Amplia em léguas minha ignorância
E comovido, choro e me arrependo,
Por magoar, por tratar com arrogância.
Supondo a enormidade do universo,
Percebendo o complexo da teia,
No grande espaço em que me vivo imerso,
Sou só um diminuto grão de areia.
Tamanho é o mistério que me envolve
E tão maravilhosa a força que me rege,
Que o medo que houve em mim, enfim dissolve,
Pra que eu sem culpa, me assuma como herege.
É justo e natural se questionar:
Qual é o custo de atrelar a vida,
Mais que a uma crendice milenar,
A uma palavra gasta e corrompida?
Uma palavra que um homem criou,
Para explicar um dia, o raio e trovão,
Que em nossa ignorância se apoiou
Ganhando poderosa dimensão.
A palavra ganhou feições horrendas,
E já deixou de ser o que Ele é,
Virou um monstro em busca de oferendas
Que drena a vida de quem mais tem fé.
Um termo que divide a humanidade,
E que nos acorrenta na mentira,
Gera a ganância e a desigualdade,
Camufla-se de paz, mas é a ira.
Agiganta-se no medo e na ameaça.
Serão culpa e pecado o melhor jeito,
Ou matando o amor antes que nasça,
De se aceitar a causa e o efeito?
Não temos que temer o fogo eterno,
Pra respeitar o nosso semelhante,
Acreditar que existe algum inferno,
Só faz viver ser menos relevante.
Não subestimemos o bem que há em nós,
Nem nossa capacidade de pensar,
Podemos juntos desatar os nós,
E dar um passo pra nos libertar.
Pode-se ver, só vendo a nossa história,
Que a guerra santa não salvou ninguém,
Um pouco de bom senso e de memória,
Guerra nenhuma nunca trouxe o bem.
E quantas guerras foram em Seu nome?
Será que há como usá-lo mais em vão?
E quanta morte, dor e quanta fome,
Plantou essa palavra, em nosso chão?
Fomos politeístas no passado,
Até que o ser humano foi esperto,
Ter muitos mitos se tornou errado,
Será que um só mito é tão mais certo?
Já se entupindo em tantos preconceitos,
Jaci e Tupã também foram certeza,
Se, por conveniências salvam-se os eleitos,
Eu elejo pra mim a Natureza.
Mãe criadora e mão que me conduz,
E que liberta os sentimentos meus,
Que pelas diferenças chega à luz,
Que eu nunca mais queira chamar de deus.