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Anticoncepcionais, obesidade e tabagismo estão entre os fatores de risco de AVC

Diversos fatores podem levar uma pessoa a sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como acidente vascular encefálico (AVE) ou derrame. Entre esses fatores estão a obesidade, nível do colesterol alto, sedentarismo, anticoncepcionais e tabagismo. A agilidade no atendimento médico é fundamental para evitar sequelas graves e até a morte do paciente. No Brasil, as doenças ditas cardiovasculares destacam-se entre as que mais levam a óbito. O AVC encontra-se com 1/3 dos óbitos relacionados a doenças vasculares.

Para que esse incidente seja evitado, é necessário manter uma alimentação equilibrada, realizar sempre exercícios físicos e levar uma vida mais tranquila, com atividades que envolvem o bem estar mental e emocional. Em entrevista ao Carta Campinas, o neurologista e professor de Medicina da PUC-Campinas Mauro Augusto Oliveira relata quais são as causas que propiciam um AVC, como é realizado o tratamento de uma pessoa com o AVC, do mesmo modo, explica os tipos de AVC, seus sintomas e como se prevenir dessa doença.

Carta Campinas: Quais são os fatores que levam uma pessoa sofrer um AVC?

Mauro Augusto Oliveira: Os fatores de risco estão divididos em não modificáveis e modificáveis. Os principais fatores não modificáveis são a idade, sendo mais comum em indivíduos de idade avançada; sexo, com maior prevalência para o sexo masculino; raça, com predomínio em negros e a presença de história familiar, materna ou paterna. Já dentre os fatores modificáveis, destacam-se: a hipertensão arterial, pela sua alta prevalência; diabetes mellitus, pela sua predisposição à aterosclerose das artérias coronárias, cerebrais e periféricas; as dislipidemias (aumento de colesterol e/ou triglicérides) por ser um importante fator de risco relacionado à cardiopatia isquêmica; a presença de doença cardiovascular prévia; obesidade; vida sedentária, dependentes do estilo de vida, tabagismo, ingestão abusiva de álcool e o uso de anticoncepcionais – pílula aumenta o risco em 3 vezes a quem não toma, adesivo aumenta o risco em 8 vezes em relação a quem não usa pílula e 2,5 vezes em relação a quem usa pílula, anel vaginal aumenta 6,5 vezes em relação a quem não usa pílula e 2 vezes em relação a quem usa e o implante subcutâneo aumenta em 40% em relação a quem não usa pílula.

Existem ainda doenças cardíacas, sendo a fibrilação atrial mais importante seguidas pelas doenças da artéria carótida assintomática (estenose > 50%). Lembrar que a associação dos fatores de risco aumenta significativamente o risco de AVC.

CC: Quais são os tipos de AVC?

Mauro Augusto Oliveira: Popularmente conhecido por “derrame”, o AVC mais comum ocorre quando coágulos entopem os vasos que levam sangue à cabeça e como consequência danificam partes do cérebro responsáveis por funções do corpo como a fala, a locomoção, a visão, o equilíbrio ou a respiração. Este é o Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVC-I – isquemia: falta de sangue). Algumas vezes, esses sintomas podem ser transitórios – ataque isquêmico transitório (AIT). Nem por isso deixam de exigir cuidados médicos imediatos.

O Acidente Vascular Hemorrágico (AVC-H), caracteriza-se por sangramento cerebral provocado pelo rompimento de uma artéria ou vaso sanguíneo (dai o nome “derrame” – sangue “derramado” no cérebro), em virtude de hipertensão arterial, problemas na coagulação do sangue, traumatismos. Pode ocorrer em pessoas mais jovens e a evolução é mais grave, em comparação com o AVC-I.

CC: Em quanto tempo uma pessoa com AVC deve ser socorrida para que não ocorram sequelas graves?

Mauro Augusto Oliveira: Até 20 anos atrás, o AVC estava estigmatizado como uma “doença sem tratamento”. Por causa disso, ficou negligenciado por médicos, familiares e pacientes. Atualmente, sabemos como preveni-lo e temos como tratar sua ocorrência. Para isso, porém, é fundamental que as pessoas conheçam a doença, uma vez que segundo a experiência dos neurologistas, as sequelas e as mortes ocorrem justamente porque as pessoas chegam muito tarde ao hospital.

Lembre-se que: “tempo perdido é cérebro perdido”. Assim, com relação ao tratamento visando minimizar as sequelas do paciente, este deverá chegar ao hospital o mais rápido possível após início dos sintomas, pois como já citado anteriormente, o intervalo é de 3 a 4,5 horas para inicio da medicação que dissolve o coágulo, desobstruindo a artéria e reduzindo em 30% as possibilidades de sequelas. Dessa forma, a orientação da população quanto a pesquisa do surgimento de sinais e sintomas é importante, portanto quanto mais rápido o paciente chegar ao hospital melhor – estima se que da admissão à avaliação médica o tempo perdido deve ser de 10 minutos; do tempo da admissão até o término da tomografia, 25 minutos; da admissão à interpretação da tomografia 45 minutos e da admissão à administração da droga que dissolve o coágulo 50 minutos.

CC: Quais são as sequelas do AVC? Elas são permanentes ou algumas têm cura?

Mauro Augusto Oliveira: Paralisia, as sequelas do acidente vascular cerebral são decorrentes do tipo de lesão, da extensão e da sua localização. Geralmente, a área mais afetada é a região irrigada pela artéria cerebral média, causando paralisia desproporcional (em que, na maioria das vezes, o membro superior é mais afetado do que inferior) do lado contrario em que houve o AVC. “Por isso, é comum vermos pacientes que voltam a andar, mas ficam com os movimentos do braço muitos limitados”.

Há também déficit sensitivo, de difícil tratamento; a falta de sensibilidade causa uma sensação de anestesia parcial ou total do segmento do corpo afetado e pode vir acompanhada ou não de dor. Muitas vezes, ele tem o movimento, mas como não sente, acaba por não utilizar a parte afetada.

Em 95% das pessoas, o hemisfério dominante, onde se localiza o centro da linguagem, fica no lado esquerdo do cérebro. Por isso, é comum ao paciente que tem AVC do lado esquerdo apresentar paralisia à direita associada a um déficit de linguagem, chamada afasia, que se dividem predominantemente em três tipos: de expressão, quando os pacientes entendem melhor do que falam, e de compreensão, quando o paciente pode ter fala fluente, mas sem significado e/ou coerência. E mista, que é mais comum, e o paciente apresenta dificuldade de compreensão e de expressão.

A negligência pode ocorrer em lesões do hemisfério não-dominante. E se caracteriza por uma falta de percepção da metade afetada do corpo, como se aquele segmento não lhe pertencesse.

O déficit de memória  acontece quando os pacientes lembram mais de coisas antigas do que de recentes. Se o paciente ”lembra que esquece”, isso é, possui metamemória, a reabilitação é possível.

Na parte da frente do cérebro estão localizadas as funções mais nobres do ser humano. Dependendo do local e da extensão da lesão, o paciente pode apresentar quadro de apatia ou de agitação, e apresentar alterações compartimentais. Em quadros de falta de iniciativa, podem ficar sem apetite e sem vontade de beber água. Nos de agitação, tendem a ficar sem crítica social – falam sem pensar –, e na maioria das vezes, podem ser explosivas quando contrariadas.

Dependendo do tempo de demora no atendimento e gravidade do insulto, as sequelas são definitivas. Em alguns casos algumas células próximas a zona lesada, podem ser recuperadas através de uma reabilitação de início precoce realizada por uma equipe multiprofissional formada por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogas, psicólogas e neuropsicólogas. Esses profissionais trabalham estimulando a neuroplasticidade, capacidade que o cérebro apresenta para de tentar encontrar novos caminhos de recuperação de maneira orientada. Graças a esses profissionais, o paciente volta a ser independente em suas atividades de vida diária, como alimentação, vestuário, higiene e marcha.

CC: Porque existem pessoas que ficam sem sequelas após um AVC?

Mauro Augusto Oliveira: O conceito atual de AIT caracteriza-se por déficit neurológico focal, encefálico ou retiniano, súbito e reversível, secundário a uma doença vascular isquêmica, que dura menos do que 24 horas (geralmente menos do que 1 hora) e sem evidência de lesão isquêmica nos exames de imagem. A duração dos AITs é de 1 a 10 minutos, 80% dos casos, portanto, a maioria dos pacientes já se recuperou do déficit quando chega ao hospital. Portanto, AIT e AVCI são espectros de uma mesma doença vascular isquêmica encefálica. O AIT deve ser considerado como emergência médica, pois de 10 a 20% dos pacientes com AIT poderão evoluir com um AVCI em 90 dias, 50% destes nas primeiras 48 horas.

CC: Quais são os sintomas do AVC?

Mauro Augusto Oliveira: Os sintomas do AVC são: perda da força ou sensibilidade dos membros de um lado do corpo, alteração da fala com dificuldade na elaboração de frases ou articulação de palavras (fala enrolada), dificuldade para entender comandos simples, dor de cabeça forte, súbita e sem motivo, boca torta, tontura com perda de equilíbrio, dificuldade para andar sem motivo aparente e perda súbita da visão de um olho ou alterações no campo visual. Dicas para uma avaliação rápida: observe se o rosto do indivíduo tem alguma alteração (peça para ele sorrir) boca fica torta. Peça para ele elevar os braços e observe se há diferença da altura entre eles. Converse com ele peça para ele repetir uma frase simples – “o céu está azul”. Alterações em um desses parâmetros indicam que o indivíduo pode estar tendo um AVC e deve ser levado o mais rápido possível para o hospital.

CC: Como é o tratamento das pessoas que sofreram um AVC?

Mauro Augusto Oliveira: Devemos reforçar que o AVC é uma emergência médica, assim sendo o paciente deverá ser encaminhado o mais rápido possível ao hospital após inicio dos primeiros sintomas, uma vez que a janela terapêutica é de 3 horas para utilização do trombolítico endovenoso (droga que dissolve o trombo) e de anticoagulantes (impedem a formação de novos coágulos). Em casos  específicos pode ser realizada cirurgia para remoção do trombo (endarterectomia). Atualmente existem duas técnicas realizadas por radiologistas treinados que consiste na colocação de um “stent” ou remoção mecânica do trombo através de cateter introduzido na artéria, na tentativa de reconstruir o fluxo sanguíneo cerebral. Ainda são adotadas medidas de suporte para correção de possíveis doenças associadas como hipertensão arterial, diabetes, arritmias cardíacas que possam estar contribuindo com os fatores de risco. Infelizmente, células cerebrais não se regeneram nem há tratamento que possa recuperá-las. No entanto, existem recursos terapêuticos capazes de ajudar a restaurar funções, movimentos e fala e, quanto antes começarem a ser aplicados, melhores serão os resultados.

CC: Como se prevenir do AVC?

Mauro Augusto Oliveira:  Controle a pressão arterial e o nível de açúcar no sangue. Hipertensos e diabéticos exigem tratamento e precisam de acompanhamento médico permanente. Pessoas com pressão e glicemia normais raramente têm derrames; procure manter abaixo de 200 o índice do colesterol total. Às vezes, só se consegue esse equilíbrio com medicamentos. Não os tome nem deixe de tomá-los por conta própria; adote uma dieta equilibrada, reduzindo a quantidade de açúcar, gordura, sal e bebidas alcoólicas; não fume. Está provado que o cigarro é um fator de alto risco para acidentes vasculares; estabeleça um programa regular de exercícios físicos. Faça caminhadas de 30 minutos diariamente; informe seu médico se em sua família houver casos doenças cardíacas e neurológicas como o AVC; procure distrair-se para reduzir o nível de estresse. Encontre os amigos, participe de atividades culturais, comunitárias, etc. (Por Eliane Honorato para Rede Carta Campinas)

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