Uma pesquisa da fisioterapeuta Renata Augusto Martins, em sua dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Médicas (FCM), da Unicamp, alerta para os problemas que podem causar o uso de sapados inadequados e de salto para meninas durante a infância.

salto alto
Salto alto e infância podem causar problemas na fase adulta

A fisioterapeuta recomenda que as crianças usem tênis ou fiquem descalças quando possível. O maior risco de usar sapato com salto é o entorse, que pode levar a lesões simples e também de ligamentos, que exigem intervenção cirúrgica. Quem tem pé pequeno e usa salto alto, diminui a base de sustentação do corpo.

As mulheres são as que mais sofrem na idade adulta por causa de problemas nos pés. De cada 10 adultos com problemas nos pés, 9 são mulheres e apenas um homem. Para Renata, na idade adulta, as meninas poderão arcar com danos pelo uso de sapatos inadequados, hábito originado na infância. Poderão ter deformidades como as joanetes (geradas pela mudança na angulação dos ossos que atinge o dedão do pé, entortando) e o neuroma de Morton (lesão no nervo entre os dedos, que causa espessamento e dor).

Nas informações, publicadas no site da Unicamp, relatam que a fisioterapeuta estudou o uso de calçados por meninas na faixa etária de um a sete anos, para compreender se eles prejudicam a marcha. Durante esta fase do desenvolvimento motor e da consciência corporal, a marcha independente é o ponto alto. O tipo de calçado que acompanha a criança durante esse aprendizado pode influenciar o desempenho de um caminhar seguro, alterando a largura, o tempo e o impacto durante cada passo.

A pesquisadora buscou entender as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para a confecção de calçados para meninas que são semelhantes para adultos no Brasil e no exterior. Ela diz que foram encontrados apenas estudos de adequação e que as sociedades que conferem selos de qualidade para calçados de crianças não sabem informar o parâmetro usado.

A pesquisadora também estabeleceu uma relação com o consumismo, que é incutido nas crianças. Percebeu que, para elas, consumir é prazeroso. Está comprovado, inclusive, a liberação de endorfina no organismo, um hormônio que cria essa sensação. Além disso, “usar este ou aquele calçado, associado a roupas e posturas, indica o pertencimento a grupos e identidade com ícones da cultura. Exemplo disso é o roubo de tênis por adolescentes que indica a luta por serem semelhantes a quem o possuía. Se a menina não é a Cinderela, ao menos tem um sapatinho transparente, de plástico que seja. Na identificação com grupos e personagens, o calçado então parece ser o elemento icônico”, informa.

A pesquisadora também alerta que o uso de calçados inadequados não contribui para o desenvolvimento motor e nem para a construção da feminilidade. Além do mais, antecipação de fases na infância pode ter consequências perversas. (Carta Campinas com informações de divulgação)