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Pequena coletânea da esperança

1) Há beleza, não desiste!

A beleza não desiste do coração do poeta,
Mesmo quando a dor insiste em se mostrar tão repleta,
Na dureza de uma perda, num instrumento calado,
Nos espinhos da vereda, nos amores do passado.
 
Ela sempre está presente, se mostrando como for,
Como flor, paisagem, gente, na ressurreição do amor.
Pra que ele possa um dia, talvez versar a beleza,
Com tanta melancolia como ele versou a dor.

 

2) Contados Imediatos:

 

_Só vim em reverência ao teu planeta,
  Dizer como são raros o amor e as baleias,
  Tuas auroras, tuas mesas cheias
  E as crias do papel e da caneta…

 

_Ah, mas nós aqui não vivemos do belo,
  O nós queremos já virou eu quero
  Nossa mentira dominou o vero,
  Criamos explosões de cogumelo.

 

_Mas tanto verde ainda não morreu…
  E as maravilhosas melodias,
  Trazem sorrisos nos piores dias
  E esperança pro futuro teu…

 

_Nosso futuro já ficou pra trás,
  Esse presente nunca que tem fim,
  Há duzentos mil anos é assim,
  Nos enterramos num eterno jaz…

 

  Não nos bastaram exemplos da morte,
  Por mais efêmeros os meros corpos
  Comportam as essências feito copos,
  Sonhamos tolos uma outra sorte…

 

  Que nunca perecer nos fará bem,
  Que nunca planejamos o futuro
  E nos cegamos pra viver no escuro
  E não deixamos nada pra quem vem…

 

  Nós não ligamos pra mais um que chora
  E queremos ter mais que o vizinho
  E usamos cabrestos no caminho,
  Não perca mais seu tempo e vá embora!

 

_Ainda vejo um amanhã tão rico,
  Chegar ao fim não é virar sumiço,
  Teu próprio corpo é mais que tudo isso
  E o que vês do iceberg é só o pico…

 

  Em breve nascerá mais sabedor
  E o encanto ocultará a dor…
  E é pra ver acontecer que eu fico!
 
3) Pedido à Minha Angustia:

 

Pra que bater? Chegue sem cerimônia,
Sem rufar os tambores ou soar trombetas,
Qual rei que de passagem na colônia,
Impõe as suas cores, proíbe as borboletas.

 

Eu sei que cedo ou tarde hás de chegar,
Brotar como abcesso no meu âmago,
Teu peso pesará no meu estômago
E não te cansarás de castigar.

 

Aniquilas num sopro a minha calma,
Eu buscarei em vão mil soluções,
Ocuparás o sítio das paixões
E eu sentirei partindo a minha alma.

 

Irás secar-me os sentimentos bons,
Cada talvez se curvará ao não,
Meus olhos baixos a roçar o chão
E meus ouvidos odiando sons.

 

Mas sei também, efêmera danada,
Minha hospitalidade logo te aborrece
E assim como um gripado convalesce,
Te esvairás de mim na madrugada.

 

Se eu posso ser um tempo o teu brinquedo,
E saciar-te a sede com meu medo,
Aceita, angústia o meu pedido à toa…
Não me deixa esquecer que a vida é boa!

 

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