O Conselho Fiscal do Consórcio Intermunicipal das Bacias do Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) acredita que o sistema Cantareira corre risco com o uso do chamado “volume morto”. Técnicos defenderam enfaticamente hoje (11/03), em reunião na Câmara Municipal de Campinas, o racionamento de água nas regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas.

De acordo com técnicos do PCJ, a insistência do governo estadual em adiar a adoção do rodízio pode gerar danos irreparáveis ao Sistema Cantareira – que hoje fornece água para cerca de 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo e mais 5 milhões no interior do estado – incluindo cidades como Piracicaba e Campinas.
O governador Geraldo Alckmin tenta evitar o racionamento por causa do ano eleitoral. Dentro de alguns meses haverá novas eleições e o governador tentará um novo mandato.
O PCJ, que representa 73 municípios da região de Campinas que abrigam rios e represas do Sistema Cantareira, emitiu nesta segunda-feira (10) nota oficial criticando as medidas adotadas pelo governo do Estado de São Paulo e a Sabesp para enfrentar a seca nos reservatórios do sistema. Nesta terça-feira (11), o nível de armazenamento do manancial caiu para 15,8% de sua capacidade.
Na nota, o PCJ acusa o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e a companhia de saneamento de transmitirem a “falsa impressão de que o problema está controlado”. Ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o secretário executivo do consórcio, Francisco Lahóz, afirmou que fatores políticos têm interferido na questão. “A palavra racionamento é muito forte em ano eleitoral”, disparou. Para a entidade, faltam investimentos, fiscalização e planejamento por parte do Estado
Segundo o coordenador de projetos do PCJ, José Cezar Saad, o racionamento deveria começar “imediatamente”. Para ele, a adoção de um racionamento de água deveria ser anterior ao uso do chamado “volume morto”, como quer a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos.
Isso seria necessário para não por em risco o sistema Cantareira. O volume morto é um reservatório de 400 milhões de metros cúbicos no Sistema Cantareira que não é utilizado porque o sistema de bombeamento não chega a essa profundidade. Saad lembra, no entanto, que se trata de uma reserva estratégica de acumulação de água para evitar assoreamentos.
“Lançar mão do volume morto pode levar a consequências gravíssimas. Se for usado 60% desse volume até o início do novo período de chuvas, lá pelo mês de outubro, nós nunca mais vamos conseguir recuperar o Sistema Canteira”, alertou ele.
O professor de Recursos Hídricos da Unicamp, Antonio Carlos Zuffo, também defendeu o racionamento. “Nós estamos numa situação de emergência. Racionamento hoje pode evitar catástrofe a partir de outubro”, alertou. “O que está acontecendo é que políticos estão tomando decisões que deveriam ser técnicas. A cada quatro dias, cai 1% do sistema (Cantereira). Não podemos esperar a chuva. Isso aqui não é jogo de loteria”, disse ele, que é um dos responsáveis pelos estudos de gerenciamento dos recursos hídricos realizados pelo consórcio.
O assessor regional da Sabesp, Hélio Rubens Figueiredo disse que o racionamento não foi adotado até agora porque não é essa a orientação da ANA (Agência Nacional de Águas) nem do DAE (Departamento de Água e Esgotos). Figueiredo diz que as consequências do uso do volume morto podem não ser tão danosos quanto os técnicos do PCJ dizem. “Outros técnicos dizem que não é assim”, afirmou ele.
A Sabesp diz que 17 bombas para a captação dessa do volume morto já estão sendo fabricadas. O investimento previsto é de R$ 80 milhões.
O Sistema Cantareira acumula uma sequência de recordes negativos desde o início de fevereiro e por conta disso, o governo anunciou que parte da água dos sistemas Alto Tietê e Guarapiranga será utilizada para compensar a queda na produção do Cantareira.
Além disso, desde o último dia 10, a retirada de água do Cantareira para abastecer a Grande São Paulo foi reduzida de 30 metros cúbicos por segundo para 27,9 metros cúbicos por segundo. O volume representou uma diminuição de 7%.
Desde a última quinta-feira, a mesma medida foi adotada na região de Campinas. O corte foi de 4 metros cúbicos por segundo para 3 metros cúbicos por segundo. O declínio significou 25% a menos de vazão.
O vereador Luiz Carlos Rossini (PV) – que coordenou o encontro na Câmara, disse apoiar o ato. “Temos de fazer esse tipo de pressão, que é uma pressão política legítima e que pretende chamar a atenção das autoridades para o gravíssimo problema que estamos enfrentando”, disse. (Carta Campinas com informações de divulgação e do SPressoSP