Advertência: TEXTO irônico em resposta a uma publicação reacionária da revista Veja
Olá Letícia,
Desculpe a informalidade, mas é que prezada me soa neste momento um pouco falso.
Venho por estas linhas retas dizer o quanto é difícil para muitas pessoas entender o conceito de solidariedade, que você manifestou em relação às pessoas que de alguma forma nascem excluídas e sem chance de sobreviver dignamente nesta selvageria da vida moderna.
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Para nós, ricos ou serviçais de ricos, nos ofende brutalmente essa sua postura porque não nos é próprio esse sentimento de ser solidário, de compartilhar a existência nessa terra, de ser capaz de se ver um pouco em cada um aqui presente. Talvez sejam as suas leituras dialógicas do teatro. É, nunca gostei mesmo de teatro.
Quando falo de “esquerda caviar”, que é um conceito histórica e sociologicamente muito bem fundamentado, estou simplesmente falando de pessoas como você, que se solidariza com pessoas pobres e sem condições financeiras, mas vivem com boa conta bancária.
Nós, os caviar autênticos, que batalhamos tanto para manter essa desigualdade, ao custo de muita bala e muita violência jurídica, ficamos indignados com pessoas bem de vidas como você se solidarizando com os pés-de-chinelo. Afinal, já são 500 anos de sucesso nessa empreitada da desigualdade, apesar dos momentos difíceis atuais.
Querida Letícia, explique aos reacionários que o conceito de “esquerda caviar” é equivalente ao conceito de “direita pé-de-chinelo”. Ou seja, essas categorias de pobres como professores e policiais, que defendem os nossos interesses. Sim, o meu e o seu, dos ricos.
Veja Letícia que um pobretão da direita pé-de-chinelo fará a investigação sobre o assalto na sua casa. Um policial mal pago que deveria, obviamente, entrar para as trincheiras da esquerda contra os nossos privilégios. Alguns até morrem para manter o nosso status quo. Letícia, sinto vontade de rir da direita pé-de-chinelo.
Veja que temos inúmeros professores da direita pé-de-chinelo formando outros pés-de-chinelo que vão trabalhar como nossos serviçais. E você ainda faz isso com a gente.
Ahhh Letícia, precisamos de você ao nosso lado, ao lado dos ricos, porque um dia essa direita pé-de-chinelo pode entender todo o processo. Já pensou nisso? Agora já não dá vontade de rir.
E por último, Letícia, nunca se esqueça de uma característica marcante do fascismo: usar a vida pessoal para fragilizar as pessoas e explicar em delírio as questões públicas e sociais. É isso que o escriba da Veja tentou fazer com você.