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Dramas da Guerra do Paraguai são novamente narrados em HQ

Um dos maiores conflitos ocorridos na América do Sul, a Guerra do Paraguai, ganhou um formato diferente de ser apresentado: as histórias em quadrinhos (HQ). Em meio a muita ação, a HQ “A Carta” conta a história da batalha do ponto de vista de Dimas, um soldado negro do exército brasileiro.

Guerra do Paraguai em HQ

Lançada em setembro pela editora Devaneio, a publicação contém três textos que auxiliam o leitor a compreender o contexto político e social do conflito. A guerra (1864-1870) foi travada entre a Tríplice Aliança- Brasil, Argentina e Uruguai- e o Paraguai, que foi massacrado e teve cerca de 80% da sua população de jovens adultos morta, além de sofrer uma enorme recessão econômica.

De acordo com os autores, Rodrigo Martins e Carlos Felipe Figueiras, a HQ pode ser um ótimo meio de entretenimento para difundir e incentivar o interesse dos mais jovens por fatos históricos da cultura nacional, uma vez que humaniza as situações. “A história deixa de ser um bando de textos enfadonhos para se tornar algo palpável, com personagens que podemos nos identificar. Fizemos questão de dar destaque à ação justamente para tornar a história mais dinâmica e atrativa ao público infantil e juvenil”, diz Carlos, que salienta que ações do tipo já são feitas em outros países, como na indústria cinematográfica americana.

A Carta

No momento, a editora Devaneio estuda quais as melhores maneiras de inserir a publicação nas escolas.
Ao longo dos anos, a guerra tem sido interpretada de vários modos pelos pesquisadores. O conflito teve início após o Paraguai invadir uma província brasileira, Mato Grosso; a ação ocorreu depois de uma intervenção armada do Brasil no Uruguai. Durante muito tempo, para a historiografia tradicional brasileira, Solano Lopez, então presidente do Paraguai, foi um monstro, ditador e megalomaníaco, disposto a criar um império no Rio da Prata por força das armas.

Entretanto, outra corrente de pesquisa aponta que a guerra atendia aos interesses econômicos que a Inglaterra tinha na região. Autores como o uruguaio Eduardo Galeano e o brasileiro Julio José Chiavenatto endossam essa tese.

Com um estilo de desenho mais limpo, que lembra os traços utilizados em animações e a estética dos desenhos animados, “A Carta”, segundo os autores, busca interpretar o conflito de uma forma imparcial. “A publicação retrata a guerra como um lugar onde ninguém quer estar. Não há motivação nos personagens, não há patriotismo neles”, diz Rodrigo. “A HQ em si não faz julgamento algum do contexto geral da guerra, mas retrata a frustração dos soldados que, como Dimas, foram em busca da promessa de vitória e lucro, mas que se viram enganados e presos em um conflito que poderiam se dar por satisfeitos se escapassem com vida.”, completa Carlos.

História do Brasil e as HQs
“A Carta” não é a primeira HQ a utilizar momentos marcantes da história do Brasil como tema principal. Um dos grandes quadrinistas brasileiros, André Toral, retrata, também, conflitos e fatos históricos do país em suas HQs. Em sua mais recente publicação, “Os brasileiros” (ed. Conrad), ele apresenta sete histórias ambientadas no Brasil Colônia que têm como foco as vidas dos índios.

A Carta

O autor ganhou ainda mais destaque no mercado de quadrinhos após produzir uma HQ que aborda o mesmo tema de “A Carta”: a guerra do Paraguai. Lançada em 1998 e produto de uma tese de doutorado, Toral também é historiador e antropólogo, “Adeus, Chamigo Brasileiro” (Cia. das Letras) relata a história de quatro personagens que participaram do conflito. Carlos e Rodrigo destacam a qualidade do trabalho de André e afirmam que a obra influenciou na produção da HQ deles, assim como extensas pesquisas em livros, museus e obras de arte.

Já a coleção “História do Brasil em quadrinhos” (ed. Europa) apresenta diversos fatos históricos que foram relevantes para a construção do Estado brasileiro. Toda a história é contada por um professor a três crianças que se desgarram de uma excursão escolar no Museu do Ipiranga, em São Paulo. A pressão sofrida por Portugal para aliar-se a Napoleão, a chegada ao Brasil, a Inconfidência Mineira, o Dia do Fico e o grito do Ipiranga, tudo passa pela prosa do professor.

A batalha para publicar uma história em quadrinhos
Mais de dez anos foram necessários para “A Carta” realmente ganhar vida e chegar às mãos do leitor. Os autores tentaram publicar por via de leis de incentivo, como a Lei Rouanet, porém sem sucesso. Para Carlos, é necessário repensar a estrutura do modelo, uma vez que as editoras não querem correr riscos e “as leis de incentivo são, às vezes, um pouco prejudiciais, pois as editoras se apóiam nelas para publicar qualquer material que não seja sucesso certo”.

O idealizador da HQ salienta, também, que o mercado editorial está mudando e que sites de crowdfunding podem ser ótimos meios para novos autores divulgarem e conseguirem publicar os seus trabalhos.

Gabriel Castilho, editor da jovem Devaneio, ressalta que é preciso que as editoras se atentem mais aos projetos que estão no mercado. ”Nós, editoras nacionais, temos que apostar mais nos nossos artistas. Depende de nós fazer esse quadro mudar. Eles só estão esperando essa oportunidade”.

Para ele, o Brasil possui uma vasta pluralidade artística e um grande público de HQs. “Mesmo que algumas tendências dominem o mercado por conta da indústria cultural, as coisas que existem à margem também têm um público fiel. Um exemplo é o sucesso do Cartarse (site de crowdfunding), que mostra que, mesmo que a indústria cultural não apoie uma causa – o quadrinho nacional-, o público ainda existe, e basta um estímulo -o catarse- para que ele compre”.

(Julio Mangussi, da Rede Carta Campinas)

A Carta
Autores: Carlos Felipe Figueiras e Rodrigo Soldado
Editora: Devaneio
Como comprar? http://www.editoradevaneio.com.br/
Preço: R$ 30,00

Veja abaixo o book trailer da HQ “ A Carta”

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