O prefeito Jonas Donizette (PSB) deve repetir em Campinas com o novo Teatro de Ópera, que deverá ser construído no Parque Ecológico, o mesmo modelo de assistencialismo erudito (ou assistencialismo cultural) que acontece na Sala São Paulo, construída em 1999 e mantida pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Teatro de ópera
Teatro do deleite da elite campineira explica violência da periferia

Em entrevista exclusiva ao Carta Campinas, a Secretaria de Estado da Cultura afirmou que decisão polêmica de construção de um teatro de ópera e não outros equipamentos de cultura é exclusiva da Prefeitura, administrada pelo prefeito Jonas Donizette (PSB).

Segundo a Secretaria do Estado, “o projeto do Teatro Carlos Gomes, em Campinas, pertence à Prefeitura da cidade, que solicitou à Secretaria de Estado da Cultura apoio para viabilizar especificamente a construção desse prédio, com todas as dimensões e localização já definidas em projeto”, informou.

A secretaria estadual também informou que “ao solicitar apoio do Governo do Estado de São Paulo para a viabilização do projeto de construção do Teatro Carlos Gomes, a prefeitura de Campinas apontou a necessidade específica da população por um equipamento cultural de grande porte”.

Diferente de investir primeiro na formação cultural da população, a prefeitura de Campinas preferiu a política das grandes obras em benefício da elite econômica e cultural. O novo teatro ficará em uma das áreas nobres da cidade, no Parque Ecológico, próxima a bairros mais valorizados e caros, beneficiando o acesso reservado de apreciadores da arte erudita.

Ao mesmo tempo, bairros afastados da cidade são obrigados a conviver com a cultura do tráfico de drogas e a cultura da falta de equipamentos culturais e até falta de professores (faltam cerca de 70 professores na rede municipal, segundo a própria Secretaria de Educação). O valor inicial de R$ 80 milhões do teatro de ópera poderia ter sido solicitado para a construção de cerca de 80 equipamentos culturais (com salas para a formação e a prática de dança, música, teatro, opereta e ópera) para a população de todos os bairros da cidade no valor de R$ 1 milhão (a unidade). Esses espaços poderiam estar interligados às escolas públicas da cidade.

Se a democratização da Cultura fosse do interesse da administração municipal, o governo estadual poderia ter atendido com o financiamento. De acordo com a Secretaria de Estado da Cultura, “qualquer cidade da região, assim como de todo o Estado, pode apresentar novas propostas na área da cultura, de acordo suas necessidades e demandas da população, e pleitear apoio do Governo de São Paulo para sua execução”.

No entanto, o governo do Estado pratica o mesmo modelo que será implantado em Campinas com o Teatro de Ópera. É uma espécie de “assistencialismo erudito”. A Secretaria Estadual da Cultura afirma que não tem o perfil econômico do público, mas relata que em 2013 teve um público de 360 mil pessoas na Sala São Paulo, sendo 126 mil estudantes atendidos gratuitamente e 234 mil pagantes. Os números parecem grandes, mas a região metropolitana de São Paulo tem 19 milhões de habitantes. Sem contar as pessoas que assinam a temporada e vão a vários concertos durante o ano,  360 mil pessoas representa apenas cerca de 1,8% da população. No estado de São Paulo há 8,7 milhões de alunos.

O PSB de Jonas Donizette deve inaugurar em Campinas com o novo Teatro de Ópera esse mesmo “assistencialismo erudito”. Para que o equipamento público como a Sala São Paulo não se transforme em um ambiente privado das elites, a Secretaria de Estado da Cultura pega jovens estudantes da periferia e os leva de ônibus para conhecer o teatro e assistir a um concerto ou ver uma camerata. Os jovens fazem o passeio turístico e depois são rapidamente desembarcados em seus bairros distantes e sem qualquer equipamento para formação cultural, bairros com escolas com currículos tecnicistas, em péssimas condições estruturais, falta de professores e professores mal pagos pressionados pelo Estado que quer resultados e pela violência social do entorno.

Com esse modelo de política, a Secretaria de Estado da Cultura garante e acredita que o investimento que está fazendo em Campinas não servirá a uma elite, reforçando que o modelo de Campinas será semelhante ao da Sala São Paulo: “o projeto apresentado pela Prefeitura prevê a realização de récitas populares, com o intuito de democratizar o acesso de todos os públicos às produções culturais exibidas no espaço. Depois de pronto, a expectativa da Prefeitura é que o teatro abrigue anualmente cerca de 300 espetáculos e atenda mais de 3 milhões de pessoas da região metropolitana de Campinas”, afirmou em resposta ao Carta Campinas.