
Sob protestos e forte contestação interna, o Conselho Universitário (Consu) da Unicamp aprovou, nesta quinta-feira (18), em sessão virtual, o envio ao governo do Estado de São Paulo do projeto que propõe a autarquização da área da saúde da universidade. A decisão foi tomada após uma sequência de adiamentos, protestos e acusações de atropelo democrático por parte de estudantes, trabalhadores e entidades representativas.
A proposta, que deveria ter sido votada na terça-feira (16), acabou suspensa naquele dia depois que um movimento organizado por trabalhadores e estudantes ocupou o Conselho Universitário em protesto contra a medida. O grupo critica a autarquização do complexo hospitalar, que reúne o Hospital das Clínicas da Unicamp, o Caism e outras unidades, apontando riscos de privatização, perda de controle e de autonomia e precarização das condições de trabalho.
Mesmo diante da mobilização, a Reitoria optou por levar a votação adiante de forma remota, decisão que acirrou as críticas. A vereadora Mariana Conti (PSOL) afirmou que o processo aconteceu de “forma antidemocrática e atropelada, em conluio com o governador privatizador Tarcísio de Freitas”.
Segundo ela, a medida representa um ataque ao patrimônio público e aos trabalhadores da saúde. A parlamentar informou que acionou o Ministério Público, junto com a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL), pedindo a suspensão imediata do processo por meio de uma ação civil pública.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) também reagiu duramente, acusando a Reitoria de conduzir a votação de forma “golpista”, sem permitir que todos os representantes discentes votassem e sem garantir acessibilidade para pessoas com deficiência. Para o DCE, a condução da sessão esvaziou o papel do Conselho Universitário como espaço deliberativo, transformando-o em instância de mera homologação de decisões já tomadas.
A tensão se estendeu aos trabalhadores da universidade. O Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU) convocou assembleia geral para esta sexta-feira (19), em frente ao HC, em meio à greve deflagrada contra a autarquização. A entidade defende que a proposta aprovada ignora a gravidade do momento, marcado pelo aumento das denúncias de precarização e pela falta de garantias concretas aos profissionais da saúde.
Após a aprovação do envio do projeto, os conselheiros passaram a discutir a minuta que será encaminhada ao governo estadual. Segundo a Reitoria, o texto prevê seis pontos centrais, entre eles a manutenção do atendimento 100% via SUS, a indicação dos dirigentes da futura autarquia pela própria Unicamp, a preservação do orçamento da universidade e a garantia dos direitos dos funcionários da saúde. Também foi anunciada a intenção de negociar a extensão dessas garantias aos trabalhadores da Funcamp.
Apesar dessas promessas, críticos avaliam que a pressa na tramitação, somada à ausência de debate amplo e presencial, compromete a legitimidade da decisão. O projeto ainda precisará passar pela Assembleia Legislativa de São Paulo, mas, dentro da universidade, o clima é de desconfiança e mobilização contínua contra o que muitos veem como um passo decisivo rumo à privatização velada da saúde pública universitária.
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